Cultura

TERRA NOSTRA, uma nova visão 19 anos depois, por DIOGO BERNI

Diogo Berni comenta sobre cinema
Da Redação ,  Salvador | 11/08/2019 às 10:52
Terra Nostra
Foto:
  Novela vista em 2000 e revista em 2019. Como o próprio título sugere trata-se de uma novela cujo o tema central é a emigração italiana no Brasil quando a escravidão acabara , e como existia uma carência de mão-de-obra para o cultivo da nossa maior riqueza da época e que movia o país economicamente, o café, e os italianos por sua vez, passavam por problemas financeiros, ou melhor estavam passando fome em nostra Itália, acabaram por vir ao Brasil em navios , os mesmos que faziam a desembarcação dos escravos negros oriundos do continente africano, onde nessas longínquas viagens marítimas acarretaram em inúmeras mortes durante o trajeto.

 No caso específico italiano: muitos morreram provenientes da peste bulbônica e eram arremessados ao mar, e assim os que sobreviviam desembarcavam no porto de Santos e lavoravam nas fazendas de cafés paulistas mineiras cariocas

A percepção que tive quando vi a novela em 2000 fora totalmente diferente do que vejo agora ( vejo porque ainda está no ar no canal Viva ). Em 2000 era um garoto e confesso que a novela soou bastante confusa para a época, pelo fato de ter criado muita expectativa por ser tataraneto de imigrantes italianos. 

E o que vi ou percebi fora um povo sofrido, assim como os negros africanos, fugidos da fome e da falta de lavoro num país totalmente destruído pelo fascista Mussolini. Na primeira assistida fiquei muito decepcionado em saber como meus antepassados chegaram por aqu.

 Meu pai era paulista, e que deus o tenha, mas nasci e me criei em Salvador. Sempre quando passava os meus dois meses anuais de férias na capital paulista e convivendo com meus parentes e amigos patrícios , percebia outro tipo de povo, e não aquele que via na Tv , na verdade eles eram o oposto do que assistia na Tv. em 2000. 

Nenhum era miserável, e talvez por isso, não abaixavam a cabeça pra ninguém. Eram donos e não empregados, ou seja, outro tipo de gente. Isto concretiza a evolução que os italianos tiveram de 1920, quando chegaram, até 2000. 

Lembro que tive até depressão quando ia dormir me colocando no lugar daqueles italianos miseráveis e fedorentos que chegavam aqui em solo brasileiro. O tempo passou e quando soube da reprise novelesca este ano não pensei duas vezes e me comprometi de assisti-la de cabo a rabo.

 Estamos no capítulo 140 ainda e muitas coisas já aconteceram desde o capítulo um, quando os italianos estavam no navio, até agora. Escrita por Benedito Rui Barbosa e dirigida pelo Jaime Monjardim, a novela tem como protagonistas os pombinhos Mateo ( Thigo Lacerda ) e Ana Paula Arósio interpretando a Giuliana, estes que regidos pelo talento dos atores e atrizes coadjuvantes.

Também é vero que a novela torna-se um tanto como repetitiva no que diz respeito a sua narrativa, com mesmas perguntas e respostas dos atores sempre , todavia quando escrevemos sobre sua caracterização de figurino e cenários da cultura italiana com suas músicas, bebidas , comidas e hábitos, principalmente da fala, aí não dá pra dizer que a novela é ruim: na verdade trata-se de viagem a um tempo do qual não conhecíamos, e talvez por isso, se torne uma novela tão prazerosa. 

Em 2019 entendi que aquele povo que era ,pra mim, fraco, não era nada disso: na verdade eram uns guerreiros que com sua forma positivamente peculiar em encarar os problemas da vida , se tornavam por isso o povo mais evoluído que existe, ao menos pra mim, porquausa da sua vontade de lavorar e seu jeito de encarar a vida ou La Vitta, como preferirem.