Cultura

Comunidades do candomblé pedem respeito na Alvorada dos Ojás

Em Lauro de Freitas existem mais de 400 terreiros registrados e quase 80% da sua população é afrodescendente
Imprensa Lauro , Lauro de Freitas | 23/11/2018 às 19:34
Comunidades do candomblé pedem respeito e tolerância na Alvorada dos Ojás
Foto: div

Símbolo de resistência, afirmação e sagrado, a Alvorada dos Ojás, ato de amarração de panos brancos em árvores, foi realizada na noite desta quinta-feira (22), no Terminal Turístico Mãe Mirinha de Portão, por representantes das comunidades de terreiros de Candomblé de Lauro de Freitas. Parte da programação do Novembro Negro do município, o ritual de reverência aos orixás é também um pedido de respeito, amor, tolerância, paz e equilíbrio para a sociedade.

Cânticos dos cultos de matriz africana, percussão de atabaques e dança marcaram o rito de sacralização do Ojá no entorno da árvore mangueira, no Terminal Turístico. “Esta é uma atividade de ação afirmativa das comunidades de terreiro. Resistimos diariamente e buscamos por meio deste ato pedir paz e respeito às nossas tradições”, ressaltou Cláudia Santos (Mãe Cacau), coordenadora executiva da Superintendência de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SUPPIR). No ato de sacralização dos Ojás, os panos amarrados em árvores na forma de laço representam entidades femininas, já os de nó de gravata caracterizam os orixás masculinos.

Em Lauro de Freitas existem mais de 400 terreiros registrados e quase 80% da sua população é afrodescendente. Para Mãe Lúcia, neta de Mãe Mirinha de Portão, do Terreiro São Jorge Filho da Gomeia, estes dados representam a força dos povos tradicionais. “Podemos identificar o Candomblé como a verdadeira religião brasileira. Preservamos nossa história, nossos ancestrais e principalmente a ligação com a natureza” destaca a Mameto Kamurici. Dentro das representações de luta e força, o orgulho negro comemora o 20 de Novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra. No município a data é decretada como feriado.

Ana Luzia Talaiby, secretaria da Federação Nacional do Culto Afro-Brasileiro (FENACAB), explica que a cor branca dos tecidos usados para adornos da tradição africana significa a paz, pureza, resguardo e designação a Oxalá, orixá de todas as origens. “Todos os tipos de árvores são sagradas para nós. Elas representam a relação entre a natureza e o ser o humano. A alvorada é mais uma manifestação do nosso povo para chamar atenção da sociedade e do poder público. Lutamos por direitos e equidade” enfatizou Talaiby.

Respeito a identidade, a consciência, e a pluralidade territorial, são valores éticos e morais citados por Apio Vinagre, controlador geral do município. “A gestão compreende a diversidade dos cidadãos laurofreitenses. Desta forma, a prefeita Moema Gramacho têm apoiado as manifestações desde sua primeira gestão, época em que os povos tradicionais do município apresentaram a proposta de amarração dos panos” disse. As comunidades de terreiro do município mantém a tradição da Alvorada dos Ojás há 15 anos.

A programação do Novembro Negro segue com “Caminhada a Cor da Cidade e Comemoração ao Dia Municipal do Hip Hop” nesta sexta-feira (23), às 17h, saindo da Praça Oscar Moreira, na Terraplac, sentido Largo do Caranguejo, Itinga. No dia 26, segunda-feira, “Agitação Cultural do Novembro Negro 2018”, no Cine Teatro, Centro. Para o dia 28, está programada mais uma “Oficina de reciclagem de papel” às 8h, na Secretaria Municipal de Serviços Públicos (SESP). Dia 30, às 8h, haverá palestras sobre preconceito na SESP e, no Campo do Quingoma, às 8h, Feirão de Saúde da População Negra e Oficina Pedagógica sobre Educação Quilombola.