Cultura

Livro Café trata de coragem e busca por seu lugar na vida

Livro conta história de Dona Jacira
Piky Mariana Candeias , Salvador | 01/11/2018 às 09:26
Livro Café
Foto: div

Dona Jacira lança em novembro Café, mais uma publicação da Editora LiteraRUA em parceria com a Laboratório Fantasma, primeiro livro da artista, griot, guardiã das histórias do seu povo, mestre em artes e ofício, poetisa, mulher e mãe.

 

Biografia narrada em primeira pessoa, Café nos apresenta palavras impressas que refletem mais que o brilho da poesia que, por vezes, brota do riso e do olhar reflexivo de Dona Jacira. Tal como em um baile, a obras nos oferta palavras que valsam entre um capítulo e outro e vão, suavemente, apresentando a rica história de uma mulher que decidiu perseverar.

 

Mas, não se engane! A obra descortina mais que a história de uma mulher de personalidade forte. Café fala sobre sonhos, desilusões, desejos, identidade, território, justiça e medo.

Como bem colocado pela educadora Maria do Rosário, outra mulher lutadora nos palcos da vida, ao prefaciar o livro: “Cuidado, você está entrando em terreno perigoso!”. E o perigo é não parar de folhear as páginas que apresentam não só a história de Dona Jacira, mas refletem também a realidade crua da vida que é imposta as muitas “Jaciras” de nosso Brasil, mulheres que cismam em não desistir da vida, que se recusam a parar de sonhar.

 

Café não nos oferta uma história triste - ainda que faça rolar uma lágrima aqui e acolá a cada lance narrado e vivido por Dona Jacira -, fala de coragem, de altivez, de bondade, de humanidade. Fala de uma criança que, precocemente virou mãe, mulher, cidadã e que muito cedo enfrentou a dureza da vida, a navalha dos preconceitos e descobriu que a violência podia estar sentada no sofá da sala, na mesa de jantar ou se esconder nas paredes de sua infância. O livro nos ensina perseverança, arte e amor pela vida.

  

“Vivi momentos muitos duros. Nos quais não havia espaço para o desenho, a pintura, ou mesmo para a poesia e menos ainda para a prosa. Mas, sempre escrevi! Na minha cabeça, escrevi. A arte sempre foi um refúgio, lugar de busca e de encontro!”, afirma a autora.

 

Dona Jacira é daquelas que alerta sobre o valor dos livros. “Aquele que lê e não entende o valor do escrito e seu papel na história, não é nada além de um mero carregador de livros. Mas, aquele que lê e entende o papel da arte na vida, esse sim, sabe o valor da luta por espaço, por seu território”.

 

E entre uma oficina e outra, com risos, espontaneidade e franqueza que são peculiares a Dona Jacira, vamos desvendando não só a história de uma mãe que lutou para criar seus filhos. Mais que isso, de uma mulher que compreendeu seu papel social e decidiu ocupar seu espaço na vida tendo como horizonte vencer a opressão, a violência e o preconceito. Uma Carolina Maria de Jesus do nosso tempo!

 

“Acredito que o livro vai contar e se fazer ouvir pelas milhões de "Jaciras" que estão espalhadas Brasil afora. E, guardada as devidas proporções de espaço e tempo, são histórias que refletem, infelizmente, a realidade de muitas mulheres no Brasil e no mundo até hoje”, alerta o músico e produtor executivo da obra Evandro Fióti, um dos filhos da autora.

 

E completa: “E ainda que ela não tenha ocupado bancos acadêmicos, a forma como a minha mãe escreve, sua perspicácia, inteligência a forma como ela narra e conduz o leitor a um mergulho em suas histórias têm muito a ver com tudo que ela leu, com tudo que ela absorveu da cultura, da arte, resultando na sabedoria que hoje testemunhamos em suas produções e escritos. Sem dúvida, será uma grata surpresa para todos e todas que ousarem conhecer a história de Dona Jacira, sobretudo ela poderá ser ouvida por outras "Jaciras" e que isso dê força a outras mulheres, visto o momento tão complexo que atravessa o Brasil e diversas partes do mundo”.

 

E assim, em um momento tão confuso de nossa história, Café completa bem mais que a conversa da tarde, ele alerta sobre o que já foi vivido não só por Dona Jacira, mas por todas as “Jaciras” desta época e de todas as épocas passadas.

 

Um gole de Café

 

“Sabe leitor, apesar de ser uma história de café de mãe e filha, sei que você é curioso e, por isso, esta louca que vos fala dá um giro na linha do tempo pra que você bote a cara pra dentro desta cozinha em movimento, desfrute do nosso passado e, quem sabe, viaje na sua própria infância. Eu sou um tanto bem louca, tenho delírios, você vai encontrar muita gente que vai ler e dizer: ‘É ficção!’”.