As águas de Oxalá no Ilê Axé Opô Afonjá mantém tradição de longos anos
ZedeJesusBarrêto , Salvador |
28/09/2018 às 09:55
Na madrugada desta sexta (dia 28), a última de setembro, o Ilê Axé Opô Afonjá celebra a liturgia das Águas de Oxalá, um ritual de rara beleza que encantou o fotógrafo Verger e o pintor Carybé, ainda nos anos quarenta do século passado, quando reinava na Roça de São Gonçalo a lendária Mãe Senhora.
A cerimônia tem origem na mitologia Iorubá (Ketu/Nagô): O velho pai (babá) Oxalá teria sido preso por engano e humilhado, mas foi resgatado por Xangô, o rei de Oyó, que ordenou silêncio absoluto no reino, como expiação, e que o Velho fosse abrigado, banhado três vezes com águas puras e depois envolto em panos brancos.
O ritual começa logo na meia noite de quinta e só termina na alvorada da sexta. Em cortejo, o silêncio quebrado apenas pelo som do adjá (um chocalho de ritos), os filhos da casa, de torço e roupas brancas novas, vão à fonte encher suas quartinhas, levando-as ao barracão onde estão postas as comidas, água e oferendas a Oxalá. Depois, todos reverenciam o Pai Velho com cantos e danças até os primeiros raios de sol.
Todos os grandes terreiros baianos de nação Ketu/Nagô (como o Gantois, a Casa Branca...) cumprem esse ritual, todos os anos. A festa de barracão para Oxalá, aberta ao público, acontece domingo.
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Do livro “Orixás, Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo”, de Pierre Verger:
“Oxalá, Orisanlá ou Obatalá. O grande Orixá ou o Rei do Pano Branco, ocupa uma posição única e inconteste do primeiro a ser criado por Olodumaré, o Deus Supremo.
No Novo Mundo, na Bahia particularmente, Oxalá é considerado o maior dos Orixás, o mais venerável e o mais venerado. Seus adeptos usam colares de contas brancas e vestem-se, geralmente, de branco. Sexta-feira é o dia consagrado a ele. Esse hábito de se vestir de branco na sexta-feira estende-se a todas as pessoas filiadas ao candomblé, mesmo aquelas consagradas a outros orixás, tal é o prestígio de Oxalá.
... Diz-se na Bahia que existem dezesseis Oxalás. Os mais conhecidos são Oxalufã, o Oxalá velho e sábio, e Oxaguian, o jovem guerreiro”.