Cultura

Quem tem medo das Fakes News? Eu tenho, por NARA FRANCO

O jornalismo de boa qualidade é a sua âncora e este sim, tem credibilidade
Nara Franco , RJ | 30/05/2018 às 12:32
Fake sobre Antonio Fagundes. Não era ele.
Foto: DIV
   As Fake News ou notícias falsas estão na boca de todo mundo. Ou melhor, estão no Whatsapp de todo mundo. Não se fala em outra coisa no noticiário, nas universidades e nos comitês eleitorais. Tudo indica que elas ditarão ou atrapalharão os rumos das eleições brasileiras. Nos últimos dias, devido a greve dos caminhoneiros, vimos diversas pessoas desesperadas em supermercados, estocando comida e água por conta do terror disseminado pelas Fake News. 

   Além de causar prejuízo moral, as informações falsas e distorcidas são capazes de influenciar debates políticos, econômicos, fofocas e partidas de futebol. A Vereadora Marielle virou namorada de traficante; o ator Antonio Fagundes um bêbado que apanhava no posto de gasolina; o deputado estadual pelo Rio de Janeiro, Marcelo Freixo, um rico parlamentar vivendo de frente para o mar e por aí vai. 

   No Brasil, é possível identificar um aumento significativo dos ataques. Somos um dos países mais ativos nas redes sociais e temos, apenas no Whatsapp, 120 milhões de usuários. O pano de fundo das Fake News, de acordo com estudiosos da USP - Universidade de São Paulo, é o conceito de "pós-verdade".  Em entrevista ao Podcast do site Nexo, o pesquisador Ivan Paganotti explica que na pós verdade, os fatos que podem ser checados perdem importância diante de apelos emocionais, crenças e sensações. 

   O que explica (talvez?) a chata polarização das redes sociais onde todos querem ter razão sem ouvir ninguém. Onde todos só ouvem seus parceiros sem acreditar que há opinião diferente fora da bolha criados pelos algorítimos do Facebook. Brasileiros acessaram em média 8 links maliciosos por segundo no primeiro trimestre, de acordo com relatório de segurança divulgado pela empresa PSafe, responsável por criar programas de segurança. 

   O que explica essa atração pela fofoca, pelo grosseiro, uma vez que as informações são, na maioria, escancaradamente falsas? Há um sutil diferença entre o que é fraude e o que é falso. Uma notícia falsa pode ser mal apurada. Uma notícia fraudulenta tem por trás diversos interesses, entre eles, interesses políticos e, principalmente, econômicos. 

   Recentemente, vimos que Donald Trump "deitou e rolou" na eleição americana disseminando uma série de informações falsas sobre sua oponente. A vitória do Brexit, que marcou a saída da Inglaterra da Comunidade Européia, também teve enorme ajuda das Fake News. No Brasil, o movimento MBL não esconde que usa do artifício para formar opinião. 

   Juntos, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo concentraram 50% das detecções de Fake News em todo o país. No entanto, proporcionalmente, o registro de ciberataques via links maliciosos é maior na região Nordeste: 1 ataque para cada 4 habitantes. 

   No final do último ano, o Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai) da USP apontou que cerca de 12 milhões de pessoas difundiam notícias falsas sobre política no Brasil. As notícias falsas viraram um comércio e o bom e velho conselho de não acreditar em divulgações enviadas por estranhos já não faz mais sentido. Uma pesquisa realizada recentemente pelo Monitor do Debate Político da USP, revelou que na maioria das vezes o compartilhamento e divulgação de conteúdos acontece através de grupos de família através do Whatsapp.

    Nada de ficar com os cotovelos na janela fofocando sobre o movimento da praça. Agora é um olho na vizinha e outro no Whatsapp. "Trafega-se todo tipo de informação sem a devida checagem. Quem envia o conteúdo falso é normalmente do círculo próximo e o receptor da mensagem atribui a autenticidade da informação a alguém que ele confia”, aponta Pollyana Ferrari, jornalista, pesquisadora em mídias sociais e professora da PUC-SP.

   Um duro golpe no bom e velho jornalismo. No entanto, o que motiva as pessoas a terem enorme prazer em difamar uma terceira pessoa é ainda motivo de estudo. Raiva, amor, ódio, paixão. Não se sabe. Mas o que se sabe é que disseminar informação falsa pode até matar. 

   A dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, morreu e, 2014, dois dias após ter sido espancada por dezenas de moradores do Guarujá, no litoral de São Paulo. Segundo a família, ela foi agredida a partir de um boato gerado por uma página em uma rede social que afirmava que a dona de casa sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra. 

   Portanto, muito cuidado.