Cultura

Crônicas de Copacabana: A casa da viúva Porcina na novela, NARA FRANCO

Tem esse nome justamente por ser a antiga residência do mecenas Castro Maya, parisiense amante das artes que viveu no Rio até os 74 anos
Nara Franco , Salvador | 01/05/2018 às 11:05
Museu do Açude no Alto da Boa Vista ou Casa Castro Maya
Foto: NF
De vez em quando é bom sair do nosso quadrado e buscar conhecer novos lugares. Dia desses fui me bater em um casarão de 1913 localizado no bairro do Alto da Boa Vista. Não costumo ir ao Alto com frequência. Ficou um trauma de infância quando minha mãe me falava que lá era de lugar de estupro, que as meninas iam para lá com os namoradinhos e não voltavam. Ficou aquele eco na cabeça repetindo para todo o sempre que o Alto é um lugar perigoso. Até é. Mas nem tanto. Nesse dia decidi me aventurar com amigos para conhecer uma ampla área verde, em dia de clima ameno. 

Chegamos ao Museu do Açude ou Museu Castro Maya. Tem esse nome justamente por ser a antiga residência do mecenas Castro Maya, parisiense amante das artes que viveu no Rio até os 74 anos. Os parisienses gostam da cidade desde muito tempo. Até hoje deixam Paris para curtir a bagunça do Rio de Janeiro. E vice-versa, sendo que na capital francesa há bem menos bagunça que aqui. Castro Maya caprichou na casa, que fica em plena Floresta da Tijuca e um repelente na bolsa durante uma visita cai bem. 

A entrada do casarão é de terra batida e a sensação é de estar em algum hotel fazenda desses que aparecem na novela "Orgulho e Paixão". Depois de chegar e aproveitar até um certo friozinho, hora de apreciar as exposições de azulejos do Porto, as obras barrocas e a cozinha com toque medieval.

Para os mais velhos, vale lembrar que no Museu do Açude foi gravada a novela Roque Santeiro e o local serviu como a casa da viúva Porcina, interpretada pela atriz Regina Duarte. O casarão é lindo, mas os jardins também encantam. Fui aproveitar o silêncio, a calmaria e ter aquela sensação de não estar em uma cidade grande, apesar de gostar de morar em uma cidade grande. 

Aproveitando a deixa do clima "Rio Antigo", desbravamos pequenas trilhas que levaram à exposição de fotos e gravuras da cidade nos tempos de antigamente. Para quem gosta de artes, é recomendado conferir as “paredes coloridas” parecidas com as que existem em Inhotim. 

Deu vontade de estender uma toalha no chão e esquecer da vida. Até porque celular pega muito mal por lá. O que de certa maneira é bom porque se é para se desligar da vida urbana, vamos fazer da maneira certa. O ponto fraco do local é a falta de um lugarzinho para sentar e apreciar a vista bebericando um bom café ou um drink. Mas tem uma lojinha de souvenirs, coisa que eu adoro! 

Depois que cheguei em casa do passeio, fui pesquisar mais sobre quem foi Castro Maya. Filho de brasileiros nascido em Paris, colecionador de artes, esportista e incentivador da cultura brasileira. Também participou de um projeto de revitalização da Floresta da Tijuca. Deve ter sido um desses bon vivants típicos da década de 40, que levavam à vida na flauta.

O Museu do Açude fica na Estrada do Açude 764 e fica aberto para visitação de quarta a segunda, sempre de 11h às 17h. Ingressos a R$6 (inteira) e R$3 (meia). Às quintas a entrada é livre. Mais informações: http://museuscastromaya.com.br.

A melhor maneira de chegar ao local é de carro. Táxi, Uber e outros. Não se arrisque a ir sozinho, uma vez que o local pode levar a lugares bem ermos na cidade. 

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Copacabana anda bem calma. Diria até sem graça. Mas vale um comentário. Outro dia fui andar no calçadão à noite e fiquei impressionada com a quantidade de camelôs na praia. Em direção ao Posto 6, no entanto, a cada 10 metros havia dois soldados de plantão fingindo que vivemos em uma cidade segura. E nesse pedaço, nem sombra de camelô tinha. É um engano que eu gosto que irrita. Para a direita, a mais perfeita ordem. Para esquerda, onde não se via um PM ou um soldado, camelôs se amontoavam.

No fundo, o povo brasileiro curte essa sensação de ser feito de besta. Olha para o lado bom e finge que tudo tem solução, sempre evitando a confusão que está logo ali.