Será lançado no próximo sábado (dia 28), das 14 às 18 horas, no Tiamane Coffee, na Avenida 7 de Setembro, 1019 (vizinho ao Colégio das Mercês), no centro de Salvador, o livro A origem perdida, do poeta baiano Paulo André. A publicação é uma edição conjunta da Dália Negra Editora e Editora Penalux. Professor de Língua e Literatura Brasileira na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Paulo André, de 40 anos, mora no pequeno distrito de Picado, em Conceição do Jacuípe. Em 2008, em parceria com os poetas Thiago Lins e Georgio Rios, publicou a coletânea de poemas Só sobreviventes
Tanto sobreviveu às incertezas da primeira publicação que, agora, lança um livro solo. E não se trata de uma obra de iniciante, como aponta o escritor Mayrant Gallo. “Bom poeta, Paulo André escreve pouco. É provável que A origem perdida reúna toda a produção poética do autor, que, além de tudo, é econômico, conciso e direto”. Segundo Gallo, os poemas de Paulo André“cintilam, porque são, antes de qualquer outra coisa, uma comunicação imediata, sendo impossível ficar indiferente aos seus epigramas”. Como no dolorosamente nostálgico Domingo:
O velho quintal...
E meus país dormindo.
Em Calcinha, o poeta faz de uma simples peça íntima a imagem de uma perda irreparável, como o goiano José J. Veiga (1915-1999) no pungente conto “Roupa no coradouro”:
A calcinha estendida no quintal
De uma brancura insípida
É uma calcinha de menina.
A calcinha de menina no quintal
Era o que restava
da menina,
Das formas da menina.
Em Epitáfio, Paulo André parece refletir que não adiante lutar muito contra a fugacidade da vida:
E serás só isso:
Um nome gravado num livro
Que as hora, os anos
Também apagarão.
Ainda conforme Mayrant Gallo, “em tempos de poesia neoparnasiana ou poesia vaga, com imagens óbvias ou incongruentes, nascidas mais da incapacidade do artista do que de um real talento, a poesia de Paulo André um é sopro de verdade”.
UM POEMA DE PAULO ANDRÉ:
NÃO SEI SER POETA
Não sei ser poeta.
Às vezes, um menino travesso
Atravessa minha fala no verso.
Às vezes, me lembro das feras
Escondidas nas frestas do ego
Ou nos recantos da casa velha.
Às vezes, os mortos das fotografias
De riso irônico e vazio
Discursam sobra a eternidade vazia.
Às vezes, a menina no quintal
Desentranha das palavras, das coisas e dos bichos
A origem perdida.
E não poucas vezes é só isso.