Cultura

Estertores dos clubes sociais e do futebol baiano, JOLIVALDO FREITAS

Foi o período em que a zona do Comércio começou a fechar as portas, Baixa dos Sapateiros e Avenida Sete entraram em crise e com isso os clubes também foram sofrendo suas baixas
Jolivaldo Freitas , Salvador | 06/03/2018 às 12:29
Briga de foice pela disputa do comando da AAB
Foto: BJÁ
Nos estertores dos clubes sociais e do futebol baiano

A decadência dos clubes baianos veio passo a passo, concomitantemente, com a decadência do comércio atacadista e varejista e com a banalização de diversas profissões que até os anos 1970 davam destaque para elementos da sociedade, que era patriarcal e com plena divisão de classes. Havia uma classe social dominante e outra em nível econômico e intelectual de segundo plano. Não se vislumbrava ainda – o que veio a acontecer somente com a industrialização da Bahia – uma classe média plena. O que se conhecia era uma ou outra família que não estando mais na pobreza e também não sendo do núcleo superior, se chamava de remediada.

Mas a economia baiana, como de todo o Brasil, foi ficando decadente, mudando o seu perfil e já não mais existiam os coronéis, os grandes setoristas da cana de açúcar, os grandes grupos de vendas de tecidos pois as vestes já vinham manufaturadas e não se precisava mais da modista, da costureira. Veja que nos anos 1970 o famoso Spinelli faliu por completo. Nos anos 1980 a dominante Feira dos Tecidos mingou. A loja O Cruzeiro perdeu espaço. Também perderam posição econômica as empresas de tecidos como a Empório Industrial do Norte e mesmo os importadores tradicionais, os empórios.

A população começou a ter mais espaço público nos colégios e nas universidades e profissões como advogados, engenheiros e médicos, que eram distintas para as classes mais altas começaram a ter um teor de socialização e os filhos dos remediados oriundos dos setores industriais como Centro Industrial de Aratu, Polo de Camaçari ou mesmo da Petrobrás que criou uma nova realidade econômica nos anos 1960 passaram a se diplomar e a disputar espaço com relevantes figuras de doutores. Com isso as profissões perderam o glamour.

Foi o período em que a zona do Comércio começou a fechar as portas, Baixa dos Sapateiros e Avenida Sete entraram em crise e com isso os clubes também foram sofrendo suas baixas. Sem falar que a juventude já tinha novos caminhos, pela evolução natural da cidade do Salvador, com o modismo crescente das praias, dos shoppings, teatros, cinemas, muito mais bares e restaurantes, opões de viagens, etc. Aí sumiram clubes como Cruz Vermelha, Euterpe, Campomar, outros no Campo Grande, alguns na Vitória. Piscina que era motivo de ir ao clube foi banalizada com os prédios implantando as suas. Quadras de tênis passaram a fazer parte dos projetos arquitetônicos.

Os clubes tradicionais perderam “clientes”, sócios que se orgulhavam e se exibiam como “especiais”. A classe média da cidade, e os migrantes vindos do interior é que ainda seguraram a barra durante algum tempo. E hoje o que se vê no Espanhol, Associação Atlética, Bahiano de Tênis, Feira Tênis Clube e tantos outros é uma tentativa de sobrevida. O Yacht Clube da Bahia é o mais saneado economicamente. Mas, todos perderam o glamour. 

Todos estão com seus DNAs misturados e não tem volta. Daí que o racismo que sempre caracterizou antigamente o Bahiano de Tênis e o Yacht (lembro que nos velhos tempos de glórias e foi vencido) não pode voltar mais, nem mesmo por desespero. 

O desespero que tem levado sócios da AAB, também a cizânia onde jovens querem bater em idosos e idosos saírem na mão com jovens por um poder paroquial, apequenado, sem real importância, menor que ser síndico de alguns condomínios da cidade. Onde à sorrelfa tenta-se impor numa atitude que quase parece teocrática novos parâmetros, sem que seja dada publicidade e onde se busca a afirmação social num ambiente em que se fala até de proscrição. Na AAB luta pelo “poder” divide-se até em clãs políticos. A chamada direita contra os Lulo-petistas e vice-versa. A cara rasteira do que é o Brasil de hoje.  

Daí que os sócios somem e tenta-se algum tipo de ação descoroçoada. Li o novo estatuto desse clube - que sou sócio remido - e gostei. Pena que colocaram (como fazem com os projetos de lei no Congresso Nacional) “penduricalhos casuísticos” e aí o pau quebrou na segunda-feira passada com a rejeição dos sócios remidos que antes haviam aceitado colaborar com valores, mesmo com direitos adquiridos de isenção – coisa que tantos advogados bons, maus, médios que lá legislam não viram ou fizeram uma de João-se-braço e a aprovação ou não, foi adiada sine die. O estatuto novo é bom. Precisa só tirar itens raivosos.

No caso do Yacht os sócios têm de lembrar que não existe mais uma elite branca na Bahia e que a antiga elite quebrou, faliu, faz das tripas coração para manter as aparências. Lá da minha varanda certa vez com um amigo sócio deste clube ele brincando foi me mostrando quem estava na piscina do Yacht num belo domingo azul: aquele lá deve até as calças; aquele outro nem o Serasa quer mais ouvir. Aquele está sendo processado. Um outro depende do dinheiro da.... Acho que ele tinha razão pois de dois eu já sabia a história de muito perto. Tudo na vida é diálogo, equilíbrio e discernimento. Ou como disse o filósofo Thomas Hobbes “O homem é o lobo do homem”. Até por migalhas.

Quanto ao futebol baiano é a mesma coisa. Times de segunda. Só isso.