Cultura

Revolta dos Búzios, marco na história da Bahia, homenageada no Momo

Os soldados Luís Gonzaga e Lucas Dantas e os alfaiates Manuel Faustino e João de Deus foram enforcados e esquartejados em praça pública, o que é desconhecido por muitos, inclusive pelos conterrâneos.
Da Redação ,  Salvador | 08/02/2018 às 13:07
João Jorge, do Olodum, batalhador pela difusão da data
Foto: Alberto Coutinho
Pelourinho de Salvador. Assim é conhecido o território que presenciou o nascimento da capital baiana e que hoje é um dos espaços mais representativos da cidade, responsável por atrair milhares de visitantes. Em 1798, o local foi um dos cenários da Revolta dos Búzios, liderada por quatro baianos filhos ou netos de pessoas escravizadas que lutaram pelos ideais da liberdade, igualdade e fraternidade e contra a soberania opressora da Coroa Portuguesa. Este ano, o movimento completa 220 anos e será homenageado, pelo Governo do Estado, no Carnaval do Pelourinho 2018. 

Apesar de importante e de estampar livros de história que são estudados por alunos de todo o país, muita gente não conhece a parte trágica e relevante da trajetória da Bahia. Os soldados Luís Gonzaga e Lucas Dantas e os alfaiates Manuel Faustino e João de Deus foram enforcados e esquartejados em praça pública, o que é desconhecido por muitos, inclusive pelos conterrâneos.

Trazendo o tema ‘220 anos da Revolta dos Búzios - Igualdade e Liberdade’, o Carnaval do Pelourinho 2018, também conhecido como Circuito Batatinha, é um dos esforços do Governo do Estado, por meio da Secretaria da Cultura do Estado (Secult), para “despertar, na população, a curiosidade de todos sobre essa temática”, explica a titular da Secult, Arany Santana, que completa: “Carnaval sempre foi um momento, não somente de entretenimento, mas também de reflexão e de resistência. Tudo casa nesse momento em que buscamos igualdade e estamos carentes de heróis, no país”.

Mesmo sendo difícil de encontrar, ainda há quem conheça esse capítulo da história. É o caso da servidora pública aposentada Maria Luísa Júlio, que soube dar uma verdadeira aula sobre o fato, detalhando, inclusive o “desfecho triste e o fato de eles terem acesso à elite, por não serem escravos, e poderem se organizar por não permanecerem no campo, fazendo trabalho braçal”.

O historiador Jaime Sodré lembra, ainda, da importância das mulheres da época, que também lutaram, mas por questões sociais, não foram incluídas na história. “Falamos de líderes homens, mas é preciso lembrar que a mulheres também participaram, principalmente as companheiras desses nossos heróis, na criação dessa sociedade liberal. Antes de eles serem presos, elas eram encarceradas, a fim de confessarem a participação desses homens nas revoltas”, alerta.

Um dossiê completo sobre a Revolta dos Búzios, também conhecida como Inconfidência Baiana e Revolta dos Alfaiates, pode ser acessado pelo sistema arquivos e bibliotecas públicas do estado, coordenado pela Fundação Pedro Calmon. O diretor da instituição, Zulu Araújo, conta que o “desconhecimento desse episódio foi uma estratégia política da Colônia Portuguesa e, neste caso específico, houve um apagamento intencional da história da Bahia, que se deu não apenas com a morte dos líderes, mas, também, com a condenação das três gerações posteriores à dos revolucionários fossem consideradas malditas”.

Blocos afro e entidades tradicionais baianas rememoram e homenageiam a Revolta, no Carnaval e fora dele. Presidente do Olodum, o militante João Jorge Rodrigues considera “um presente a homenagem pública feita pelo Governo do Estado, trazendo à tona o fato de o Pelourinho, local em que os protagonistas do movimento viveram e andaram, ter abrigado esse fato extraordinário, lembrando que quatro pessoas morreram na Praça da Piedade por amor aos direitos humanos e à cidadania”.