Cultura

CRÔNICA: Mexicano Ramón aparece no verano de Vilas, el bicão de sempre

Já é o terceiro ano que Ramón passa o verão no Litoral Norte da Bahia
Tasso Franco , da redação em Salvador | 20/01/2018 às 18:59
Ramón en la playa de Vilas do Atlântico
Foto: Lua Gonçalves
   Estava comprando um acarajé na tenda de Índia, na praia de Vilas do Atlântico, em Lauro de Freitas, dia de muito sol, quando observo à distância de 50 metros um sombrero mexicano. Cubei mais uma vez para não cometer gafes e vi que, de fato, embaixo daquele 'abajour' preto estava Ramón, el mexica que há 3 anos passa o verano acá e toca sua gruitarra no bar e Restaurante Vespa, na Avenida Nossa Senhora de Itapuã, o circuito gastronômico desse balneário.
  
   Claro que não poderia deixar de ir até a mesinha onde se encontrava o alienígena, uma vez que já nos conhecemos há três temporadas, e se trata de uma pessoa de boa fé, educada, de bom trato e prosa poética. Observo, também, que ao contrário dos outros anos, quando esteve na praia com sua viola e uma cuia de queijo pedindo adjutórios aos passantes, desta feita parece-me mais 'afortunado', pois, tomava uma gelada, latão da que desce oval. 
  
   Aproximei-me e o cumprimentei: - Como estás nobre representante da cultura popular de Merida? 
 
  - Muito bien Sêo Franco. De vuelta para trabajar no el Vespa y tambien curtir un poco essa maravilha do Atlântico Sul, respondeu levantando-se e retirando o sobrero da cabeça para devolver o cumprimento.
 
  - Vejo que está mais forte, mais saudável e abonado. Sinal dos tempos, de que no México não há crise, alimentei o papo.
 
  - Crise en nuestra terra so con el presidente del Estados Unidos, el Trump, que mantiene la idea maluca de erguer un muro entre nuestros países, sentenciou.
  
 - Bem, aqui pelo menos estamos livre do topete do cabelo vermelho e nossa crise também já se foi tanto que a cerveja nas barracas de Vilas custam R$12,50 uma garrafa de 750 ml e não chega para quem quer - comentei.
  
 - Pero yo no soy bobo e tengo mi cooler con mis heladas, mis tortilas e unas empanadas que trouxe del Mexico - frisou.
   
- Prevenido. Muito bem. Quem sabe fazer economia sempre se dá bem e não se subemete a exploração de alguns que cobram os olhos da cara até por um peixe frito, quiçá por um acarajé
 
  - Hablar nisso, que tal esse acarajé que saboreias? - perguntou.

   - Bom, delicioso e barato. A Índia faz um dos melhores acarajés de Vilas e só perde para o crente da Avenida Itapuã - comentei.
  
 - Evangélico haciendo acarajé Sêo Franco! Pelo que sei se trata de una comida del pueblo de santo, de las baianas e sus colares e crenças- admiriu-se Ramón.
 
  - Mas, aqui na Bahia, meu nobre mexica, há de tudo: crente vendendo acarajé, padre batucando atabaques em missa, mãe de santo abandonando terreiro, água mineral de torneira sendo vendida na praia como se fosse de fonte termal, ministra nomeada que não toma posse. É cada coisa que se duvida - completei.
  
 - Isso és lo de menos. Pelo que percebo nessa animação da praia, vuestro presidente Michel está mui bien.
 
 - Claro! Que mal vai aqueles mandantes de Brasília? Nenhum. Quem paga o pato somos sempre nós, os contribuintes, os pagadores de impostos e que vivemos no aperto, frisei. 
  
 - E como está la señora Florzinha su mujer?
 
  - Bien, que mal vai a ela! Nenhum. Vive na fartura. Tem poupança forte e sua irmã está no balneário pagando as mordomias dela nos restaurantes e shoppings.
  
 - Ah! Entonces pidam para aparecam no Vespa para unas tapas, uno Casal Garcia. 
   
   Nisso, eis que elas vão chegando a praia e me flagram conversando com Rámon. De longe, com meu ouvido aguçado, ouço Florizinha comentar com Cervejão: - Salvo engano vejo meu marido conversando com o vigarista do mexicano Ramón que todo ano aparece aqui para chepar.
 
  - Calma, irmã - atalhou Cervejão - Ramón é uma pessoa simpática, de bom coração. Tenha paciência com ele.

   - Paciência! Aposto como está pedindo alguma coisa e não duvide de querer ir almoçar lá em casa - frisou.
  
 As duas se aproximaram, cumprimentaram educadamente o mexicano, e Florzinha adiantou: - Como vai o Merida violeiro?
 
  - Bien, señora Florzinha. Mui bien. Ahora, entonces, mejor está con la presencia de tan graciosas chicas.
  
 - Gracioisas e endinheiras - entrei na conversa dando um toque de descontração.
   
- En sendo asi bamos a una rodada de más cervejas, atalhou o mexia.

   - É uma ótima ideia - arrematou Cervejão.
  
 Diria que foi um encontro maravilhoso. Tomamos todas, a Índia serviu mais duas rodadas de acarajé, mi nieta Sol matou a saudade dos bolinhos fritos de feijão fradinho, e ficamos boa parte da tarde em papo agradável.
   
Na despedida, cumprimentamos Ramón deixando-o à vontade, e o mexica olhou prum lado; olhou pro outro, me cutucou e falou baixinho no meu ouvido: - Dá pra yo almozar en su casa? 
 
  - Com prazer, respondi.
 
  - Florzinha cutucou Cervejão: - Não disse a você! Esse mexicano continua o vigarista de sempre.