Cultura

Prisão de Rogério 157 vira show exibicionista nas redes, NARA FRANCO


Nesse caso, prevaleceu o ego. Desde que me entendo por gente, vejo policiais cobrindo o rosto ao serem fotografados como forma de preservação da identidad
Nara Franco , Rio de Janeiro | 07/12/2017 às 12:25
Exibicionismo e risadas
Foto: DIV
O colombiano Pablo Escobar foi o maior narcotraficante do mundo nos anos 80. Dominou 80% da produção e distribuição de cocaína em todos os continentes do planeta sentado em sua fazenda no interior da Colômbia. Quando foi morto pela polícia, barbado e sujo em uma favela de Medellín, foi fotografado por policiais, que ao lado de seu corpo morto, posaram triunfantes. 

Nos anos 80 não havia Twitter, Instagram, Facebook ou Snapchat. Acredito que as fotos tiradas pelos homens que fizeram a façanha de matar Escobrar fosse um troféu pelo fim de uma era de violência na Colômbia. Talvez até eu mesma posasse. Foi um feito e tanto. Nos dias de hoje, a foto estaria em whatsapps e afins em poucos segundos e todos nós comemoraríamos ou não a morte de um dos bandidos mais perigosos que se tem notícia. 

Ontem, ao prenderem o traficante Rogério 157, que recentemente parou a cidade promovendo intensos tiroteios na Rocinha, policiais civis do Rio de Janeiro também fizeram questão de posar ao lado do bandido como se o mesmo fosse um elefante abatido em uma savana africana. Não demorou para que as fotos chegassem às redes sociais. Assim como no caso de Escobar, os policiais brindaram o breve fim de uma era de violência na cidade. Digo breve porque em pouco tempo, se não agora, outro já está em seu lugar. 

Não vejo porque não comemorar o fato. A polícia tem todo o direito de saborear o momento. Porém, o festival de selfies extrapolou todos os limites. As fotos sem noção até do delegado mostram o tipo de polícia que temos e o tipo de povo que somos. Em todo o mundo policiais devem fazer a mesma coisa e citei Escobar no início justamente para mostrar que a festa exibicionista sempre existiu. No entanto, ao despachar as fotos para as redes sociais, sem critério, os policiais mostram o nível de seriedade com que levam seu trabalho. 

E mostram também a necessidade do exibicionismo online que faz do brasileiro o povo que gasta mais horas do dia acessando redes sociais. Todos os jornais exibiriam Rogério preso. Não havia a menor necessidade de usar contas pessoais para exibir o feito. E fica a reflexão: até onde vai o limite do uso das redes sociais, quando o que se está em jogo é uma instituição?

Nesse caso, prevaleceu o ego. Desde que me entendo por gente, vejo policiais cobrindo o rosto ao serem fotografados como forma de preservação da identidade. Mas na era das redes sociais o que vale é se mostrar de peito aberto como quem diz: "olha como eu sou f....!".

Nada contra as redes sociais. Adoro todos elas e trabalho com isso. Mas o erro está no usuário. Não se pode confundir trabalho com vida pessoal. Sua conta pessoal já diz: pessoal. Quando se cruza a linha, a defesa fica complicada. Rede social para autopromoção no caso de policiais civis em serviço revelam o quanto de narcisismo nosso povo tem. 

Não basta prender. É preciso mostra que prendeu. Desnecessário. O bom trabalho dos policiais cai por terra quando tudo vira um circo de mau gosto. Em um estado falido e numa cidade tomada pelo pessimismo, a boa notícia da prisão ficou em segundo plano diante de tamanha falta de profissionalismo. Uma pena.