Cultura

Diplomata da ONU lança livro e alerta sobre intolerância religiosa

O autor diz que um terço da população mundial - cerca de 2,2 bilhões de pessoas - vive em nações onde restrições à religião aumentaram substancialmente nos últimos 10 anos
Claudia Oliveira , Salvador | 29/11/2017 às 17:14
Gerson Brandão
Foto: div

Criado às margens do Rio Lucaia, na Avenida Vasco da Gama, em Salvador, Gerson Brandão saiu da Bahia há 20 anos para trabalhar com ajuda humanitária nas Organizações das Nações Unidas (ONU). Depois de duas décadas de vivências em áreas de conflito, com passagens por mais de 50 países, ele volta à Salvador para lançar o livro 19 de Agosto. O livro será lançado em dois momentos. Na quinta-feira (30), às 14h, no Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador e na sexta-feira (1/12), às 17h, no Espaço Vovó Conceição, no Terreiro da Casa Branca, localizado na Avenida Vasco da Gama, em Salvador. 

 

O livro, como o próprio autor define, marca o dia em que a ONU foi, pela primeira vez, atacada pelo fundamentalismo e reflete um pouco das vivências e da percepção do autor para um tema que provoca o ódio e o desamor em nome de “Deus”: a intolerância religiosa e sua consequente discriminação. 

 

“Vedas & Upanishads, que são consideradas a escritura mais sagrada do hinduísmo 1, iniciaram o debate sobre tolerância religiosa, há 3000 AC quando um mantra chamado ‘unidade na diversidade’ foi revelado. Desde então, e em muitos momentos da história, conquistas e descobertas vêm colocando homens e crenças em campos opostos”, afirmou, ao acrescentar que “a perseguição desenfreada de minorias religiosas tem sido associada a duas das piores calamidades humanitárias do nosso tempo: uma crise de refugiados sem precedentes e a um genocídio”. 

 

O autor diz que um terço da população mundial - cerca de 2,2 bilhões de pessoas - vive em nações onde restrições à religião aumentaram substancialmente nos últimos 10 anos. “A organização fundamentalista islâmica Boko Haram, por exemplo, representa uma forma particularmente violenta do extremismo religioso. Na região norte dos Camarões, apenas em janeiro de 2016, houve mais de 30 ataques suicidas, mais de metade dos suicidas eram mulheres (muitas das quais obrigadas a cometer tais crimes)”, relata.

 

Com tantas vivências pelo mundo, Gerson Brandão avalia com preocupação o cenário brasileiro. “Nosso país, infelizmente, se afastou do debate global. Tendo saído do Brasil há 20 anos, me preocupa ver a utilização da fé para um projeto de poder que terá como consequência a marginalização (a opressão?) não só das minorias, mas de todos que divergem de uma determinada opinião!”, destaca. 

 

Ele afirma que o livro foi motivado na perspectiva de contribuir para uma cultura de paz no seu país de origem. “O livro se propõe a homenagear aqueles que trabalham por um mundo mais justo e menos intolerante. Então, quem sabe, este projeto possa contribuir para uma reflexão sobre o que acontece no mundo e como podemos ajudar na resolução dos problemas que levam à intolerância, à discriminação e a tantas outras formas de violência”, ressalta.

 

O lançamento na Câmara Municipal livro envolverá uma roda de conversa sobre o tema, com a participação do diretor da Faculdade de Direito da UFBA, Julio Rocha, da promotora de Justiça, Lívia Sant´Anna, da Ekedy do Terreiro da Casa Branca, Ana Rita Santiago e da secretária Estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, Olívia Santana, sendo mediada pelo propositor da atividade, o vereador Sílvio Humberto. Já no Terreiro da Casa Branca será realizado, também, um debate sobre a Intolerância Religiosa no mundo, tendo como debatedores, a educadora e Makota do Terreiro Nzo Onimboya, Valdina Pinto, o presidente da Fundação Pedro Calmon, Zulu Araújo, a ialorixá do Terreiro Ilê Axé Oyá Tolá, Raidalva dos Santos, e o babalorixá do Terreiro Mokambo, Anselmo Santos.

 

Serviço:

Lançamento do livro 19 de Agosto, do diplomata da ONU, Gerson Brandão

Quando: Quinta-feira (30), às 14h, no Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador e na Sexta-feira (1/12), às 17h, no Terreiro da Casa Branca.