Cultura

Videoinstalação sobre o universo de Francisco de Goya, Palacete

Palacete das Artes, dia 24
PA , Salvador | 23/01/2017 às 21:59
Obra de Francisco Goya
Foto:
Será aberta amanhã, dia 24 de janeiro, terça-feira, no Palacete das Artes, na Graça, a videoinstalação Doze Pinturas Negras. Trata-se de um projeto audiovisual do artista Ángel Haro, que promove uma dramatização de doze das Pinturas Negras do renomado pintor espanhol Francisco de Goya. A mostra é uma realização do Instituto Cervantes de Salvador, que está comemorando dez anos de atividades na capital baiana. A entrada é gratuita.

Francisco de Goya representa um marco na história da pintura. Como pintor da Corte Real Espanhola, criou trabalhos excepcionais que influenciaram diretamente o movimento Impressionista. Suas Pinturas Negras, no entanto, vão além no que diz respeito à técnica e à temática. Além de marcarem o início do Surrealismo e Expressionismo do século XX, expõem o clima sociopolítico da Espanha de então ao explorar a psiquê e os conflitos internos e externos do país. Em sua obra, Goya revelou fatos que não faziam parte do discurso oficial espanhol, descobrindo, assim, novo uso para sua arte: a pintura enquanto forma de denúncia.

As Pinturas Negras desafiaram o regime político da época e, ao sobreviverem à Inquisição e se tornarem patrimônio cultural contemporâneo, simbolizaram um grito que não é facilmente silenciado. Nascidos da condição isolada do artista em sua Quinta del Sordo, nos arredores de Madri, os conflitos internos de Goya não eram independentes da circunstâncias políticas que o cercavam. Com o fim do Iluminismo e a volta do regime Absolutista, sua loucura é, também, a loucura de seu tempo. Justamente por estar no limite da própria sanidade, Goya pode retratar os horrores do regime de Fernando VII através da representação de seu próprio horror.

Cinquenta anos após a partida de Goya para a França, em 1874, o barão Emile d’Erlanger, novo proprietário da Quinta del Sordo, comissionou o francês Jean Laurent para fotografar os murais que adornavam várias das salas da propriedade. Essas fotografias, cujos negativos em vidro originais estão atualmente sob os cuidados do IPCE (Instituto do Patrimônio Cultural da Espanha), serviram de guia para transferir os trabalhos para a tela, possibilitando, assim, a restauração posteriormente feita por Salvador Martínez Cubells. Strappo, o processo de separação adotado por Cubells, é uma técnica agressiva que não garante a efetiva transferência de tinta e requer extensivo trabalho nas imagens. Isso significa que as obras que vemos hoje no Museu do Prado não são exatamente aquelas que Goya pintou nas paredes da Quinta del Sordo, pelo menos no que diz respeito à sua qualidade plástica.

O artista multimídia Ángel Haro partiu das fotografias de Laurent para reinterpretar as Pinturas Negras, criando uma análise do gesto e do impulso físico presente nas obras. Em cada peça audiovisual, o artista alude aos diversos métodos pictóricos empregados por Goya e traduz sua gestualidade em vários registros de movimento, luz, figurino e maquiagem. Todas as cenas foram captadas em alta resolução com câmeras HD 4k utilizando sistema de chromakey. A imagem de fundo criada por Haro é inserida na pós-produção e, por final, as tonalidades são corrigidas digitalmente para equilibrar a gama de cores.

O tratamento da iluminação respeita o compromisso de Goya com a subjetividade em cada um de seus trabalhos. Assim, uma iluminação dramática é combinada com efeitos de luz pintados em alguns dos personagens, como em Saturno devorando um filho. Além disso, os figurinos são baseados na gestualidade de cada cena. Dos trapos de BruxasSabá ou as deformidades de Saturno devorando um filho ao realismo de Leocadia e a volatilidade de Visão fantástica.

Sobre Ángel Haro

Ángel Haro nasceu em Valência, Espanha, em 1958, e passou a infância em Paris até mudar-se com sua família para Murcia, onde estudou engenharia. Atua não só como artista visual, mas também como diretor artístico de teatro, cenógrafo, diretor de cinema e artista gráfico. Sua primeira mostra individual aconteceu em Murcia no ano de 1979. Já realizou exposições nas principais cidades da Espanha, e também em Chicago, Nova York, Paris e países como África do Sul, República Dominicana, Lituânia e Bélgica. Dentre suas principais exposições estão: Estrelladel Norte, na Iglesia del Salvador del Convento de Verónicas, em Murcia, Espanha (2015); La Tregua, na Tabacalera, Madri, Espanha (2014); WaysofanUnruly Man, na Res Gallery, em Johannesburgo, África do Sul (2012); Suitemelancolie, na Galerie Lina Davidov, Paris, França (2011); Belfegor, no Museo de Bellas Artes de Murcia, Espanha (2009); e OnPaper, na HaimChanin Fine Arts, Nova York, EUA.
 

Serviço


DOZE PINTURAS NEGRAS, de Ángel Haro

Data 24 de janeiro a 5 de março de 2017
Horário terça a sexta, das 13h às 19h; sábado, domingo e feriado, das 14h às 19h
Local Galeria Mansarda do Palacete das Artes
Ingresso Gratuito
Classificação etária Livre                                                                                       

Palacete das Artes

Rua da Graça, 284

40150-055 Salvador Bahía

Tel.: +55 (71) 3117-6987 / 6910

http://www.palacetedasartes.ba.gov.br