Cultura

CHEGA AO FIM A LONGA CAÇADA AO PATÊ ALEMÃO. POR OTTO FREITAS

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Otto Freitas , Salvador | 13/11/2016 às 20:00
Salsichon alemon
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Muito chegado aos queijos, patês e embutidos em geral, Jeffinho é um apreciador da culinária da terra de Beethoven, entre salsishas e salsishões, bolos de carne, mostardas e pão preto, tudo regado a um bom steinhager e um chope gelado. Mais recentemente, foi apresentado a um patê alemão de fígado de frango. O gordo ficou babando. 

Desde então, Jeffinho passou a caçar o patê alemão pela cidade. Tentou mas não conseguiu chegar às fontes produtoras. Nos poucos pontos de venda especializados encontrava de tudo, menos o bendito patê. Até que um dia viu luz no fim do tunel, em um convite para conhecer um novo boteco alemão, em Lauro de Freitas. 

Pensando no patê, atendeu na hora ao chamado do titio Peixe, agora ostentando farta barba grisalha que disfarça o narigão, e sua eterna patroa, a tia Ana, majestade do sertão da Bahia, desde Euclides da Cunha até a velha Glória de Paulo Afonso. Completaram a caravana o comendador Lago, aristocrata da mais pura linhagem de São Sebastião do Passé, e a madame Olivia, sempre fina e olimpicamente educada. 

Na chegada, o grupo foi recebido pela simplicidade nobre de Gabi, que varria a calçada. Linda, loura, elétrica, falante, cheia de simpatia e personalidade, a moça foi logo apresentando suas armas: cartão de visitas, cardápio, cerveja e steinhager geladíssimos, e muita informação. Jeffinho remexeu suas lembranças e viajou no tempo. 

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No começo dos anos 1980, Thomas Philipp Kistner inaugurou a Casa do Alemão (depois virou Casa Alemã, por questões jurídicas), na Pituba, junto com sua mulher, Kamayura Saldanha, mulata exubrante nascida à beira do rio São Francisco, em Juazeiro da Bahia. Kamayura comandava o salão e fazia as honras da casa; Thomas, sempre discreto, garantia a qualidade na cozinha.

Jeffinho conheceu e aprendeu a gostar da gastronomia alemã nessa época, frequentando a Casa Alemã de Thomas e Kamayura. Foi o primeiro restaurante em Salvador especializado na autêntica culinária germânica. O gordo se fartava e intensificava sua alegria com o bom steinhager servido em pequenas canequinhas que se podia levar de brinde, tantas quantas doses fossem consumidas (elas se espalhavam por quase todas as prateleiras do seu apartamento). 

Gabi, a jovem linda e loura que varria a calçada, é Gabriele Kistner, herdeira de Kamayura e Thomas. Junto com o irmão mais velho, Michael, toca o negócio, com a marca registrada Salsichon Alemon, localizado em Lauro de Freitas, município na Região Metropolitana de Salvador. 

Michael é responsável pela fábrica (salsishão, salsicha, bolo de carne, joelho de porco, chucrute, mostardas); Gabriele faz a comercialização e marketing. Thomas, o patriarca, continua no comando de tudo, controlando com rigor a qualidade e autenticidade dos produtos. 

Gabriele também atende pessoalmente no boteco (botecosalsichonalemon@hotmail.com), sua nova ferramenta de vendas, que funciona de quinta a domingo. É uma pequena loja de fábrica, espécie de show room; em um ambiente aconchegante, pode-se conhecer os produtos, aprender como se prepara, comer, beber e levar para casa iguarias variadas. 

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Gabriele e Michael são a segunda geração da família que, no início do empreendimento, nos anos 1980, enfrentou muita resistência de vários setores da comunidade baiana. Considerava-se que a comida alemã não seria bem aceita na terra do dendê. 

Como se vê agora, valeu a pena pagar o preço do pioneirismo. A marca Salsishon Alemon está em pontos de venda de produtos alemães abertos desde então; restaurantes, bares e até barracas de praia oferecem o salsichão em seus cardápios. Nesse pique, muito em breve as baianas vão botar chucrute no acarajé.

Quanto ao patê, é uma jóia rara cuja produção depende muito do fornecedor da matéria prima. Nem sempre tem. Naquele dia restava apenas uma última porção, que Jeffinho saboreou vagarosamente. Mas agora o gordo já sabe o caminho das pedras - quer dizer, do patê alemão.