Cultura

CULTURA! Cofres públicos vão bancar desfile de roupas na França

Os cofres públicos do país deverão bancar a realização de dois desfiles na França.
FSP , SP | 22/08/2013 às 10:01
Desfile de Pedro Lourenço
Foto: Charles Platiau -

Graças a uma intervenção da ministra da Cultura, Marta Suplicy, o estilista Pedro Lourenço poderá captar R$ 2,8 milhões via Lei Rouanet para mostrar suas criações na semana de moda de Paris em outubro e em março de 2014. A lei é um mecanismo de fomento à cultura por meio de isenção tributária.

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A iniciativa de dar um empurrão na moda brasileira via renúncia fiscal é polêmica. Tanto que esse plano vinha sendo discutido em Brasília desde junho. E, mesmo descrito como "mostra" de "artefatos artísticos" no texto ao governo, o projeto não passou na avaliação da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (Cnic), que decide quem pode captar via Lei Rouanet.
Apresentado em junho, o projeto entrou em discussão e foi retirado da pauta. Após idas e vindas para avaliação voltou à plenária no último dia 7, quando a Cnic decidiu pelo seu indeferimento.

Sete conselheiros votaram contra o projeto e sete se abstiveram. No dia 12, a empresa que propôs o incentivo aos desfiles recorreu da decisão. Dois dias depois, a ministra reverteu a decisão da comissão e aprovou o projeto.

"A quem interessa esse projeto? Ao estilista. Por que colocar recursos públicos? O usufruto desse recurso vai ficar restrito a essa empresa", disse o secretário de Cultura de Alagoas, Osvaldo Viégas, ouvinte presente à reunião.

MAIS INOVADOR

"No meu desfile, as pessoas terão acesso à cultura brasileira por meio de uma moda surpreendente, trazendo ainda a arquitetura jovem do país para criar um espaço diferente e vão conhecer o que há de mais inovador nestes setores", disse em seu favor Pedro Lourenço -que usou Niemeyer como referência em coleção recente, daí a menção à arquitetura.

A medida da ministra, que seria publicada hoje no "Diário Oficial", desagradou membros da Cnic. Dois deles, ouvidos sob a condição de anonimato, disseram que ela não deveria ter passado por cima de decisão coletiva.

Já Carlos Trevi, do Santander Cultural e membro da comissão, não se disse surpreso: "É prerrogativa da ministra. E o projeto é bem formatado, redondo, sem problema", afirmou ele, que se absteve de votar por "questão técnica", segundo disse.

A empresária Adriana Semola, que analisa projetos ligados à moda para a Cnic, faz coro: "A ministra está protegida legalmente e a aprovação vai beneficiar toda a cadeia da moda". No entanto, Semola afirma que muitos projetos de moda mais baratos e "tão importantes para a cultura quanto esse de Pedro" não conseguem captar recursos.