Cultura

GORDINHAS E VESTIDO LINDO QUE NÃO ENTRA DE JEITO NENHUM p/OTTO FREITAS

Para os indisciplinados, como eu e a torcida do Flamengo (ao menos a ala GG da torcida), a solução é viver feliz com as calorias em excesso, desde que elas não lhe invadam as artérias
Otto Freitas ,  Salvador | 04/03/2013 às 08:29
Entrar o vestido às vezes entra mas não fica tão elegante
Foto: The Sun
Andreia Santana é uma velha amiga, por quem Jeffinho tem muita admiração e carinho. Ela é jornalista, tem 38 anos, e garante que “fez um pacto de boa vizinhança com a balança”. A crônica transcrita abaixo é assinada por ela, que sabe interpretar e traduzir, com muita propriedade, todas “as coisas que uma moça GG gostaria de dizer”. Foi escrita “depois de me chatear com uma vendedora de loja que queria me empurrar um vestido que nem com espartilho ia entrar!”. 

A seguir, o texto de Andreia Santana: 
“Certas vendedoras são um amor. Mas perdem a noção de realidade quando o negócio é garantir comissão vendendo roupa para moças gordinhas. Eu sou moça gordinha. Graças aos céus, além do excesso de peso e autoconfiança suficientes, tenho também consciência dos meus quilinhos a mais. Tento viver bem com eles. Até tomar vergonha na cara e fazer uma dieta...

Um vestido lindo de morrer que não cai bem no meu corpo continua lindo de morrer, mas não serve para mim. Uma blusa de corte esplêndido, mas com botões que parecem o Farol da Barra, de tão grandes, também não serve. Os botões chamam mais atenção que o resto da roupa e ajudam a aumentar o volume justo na região do abdômen. Vamos ser gordinhas, mas com classe!

Sou chata com roupa. Muito chata. A roupa tem que ficar confortável, ter a cor certa, o caimento adequado; tem de mostrar que sou gordinha, porque eu sou mesmo e não dá para disfarçar. Mas sem apelar, nada de ficar sobrando para todos os lados.

Para não reclamar mais das vendedoras que tentam a todo custo lhe empurrar uma roupa que visivelmente não ficou legal em você, a solução é transferir as reclamações para o professor de ginástica. O negócio é entrar na academia e arrumar um personal trainer daqueles que dá vontade de você xingar até a oitava geração, toda vez que ele exagerar na série de abdominais. Mas que, justamente por se parecer com um sargento do exército, faz você pensar que ficará linda feito a Gisele Bündchen. O ser humano adora uma ilusão.

Falando sério, o importante é a consciência de que ele (o personal) está fazendo isso para o seu bem. Se você repetir isso umas 50 vezes por dia pode acabar convencida. Tem gente que acredita piamente que morar numa academia resolve todos os problemas, os estéticos pelo menos. E eu admiro as pessoas disciplinadas, que conseguem malhar todo dia. As obsessivas eu olho com uma certa pena. Mas é fantástico ter disciplina, zelar pela própria saúde. Um dia eu chego lá!

Para os indisciplinados, como eu e a torcida do Flamengo (ao menos a ala GG da torcida), a solução é viver feliz com as calorias em excesso, desde que elas não lhe invadam as artérias - e sempre, sempre mesmo, procurar vendedoras que saibam ganhar sua comissão sem empurrar vestidos muito apertados para cima das pessoas, ora essa.

O plano B, de bom, é fechar a boca, mas só um pouquinho. O suficiente para evitar o AVC e a falência do sistema cardio-respiratório. Dieta ou ginástica não podem virar uma obsessão a ponto de gerar mau humor. Já repararam que muitas pessoas que fazem dieta radical acabam meio mal humoradas? 

Longe de mim perder a capacidade de rir de mim mesma e de reclamar do vestido que era lindo de morrer, mas não entrou”.