Em "Piratas e Heróis da Boa Viagem", uma das crônicas que apreciei bastante, o autor narra uma dessas peripécias bem baianas no embate entre torcedores do Esporte Clube Piratas e São Domingo Sávio Esporte Clube partida que aconteceu no Campo do Tupy, em terreno depois da Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem quando, no final da partida, Piratas no ataque e necessitando de um golzinho para ser campeão a bola é detida por uma mulher, a qual "invade o campo, faz a defesa, sai correndo e vai embora com a pelota, a única de couro de boi, capotão de 32 gomos".
Só o fato de citar um capotão de 32 gomos, e quem já jogou baba com essa dita sabe o sabor dessa redonda, já valeu a crônica como das melhores.
Declarado São Domingos Sávio campeão pela primeira vez na Liga do Monte Serrat a porrada comeu no centro, "dizem que foi de abalar a estrutura da velha igreja", até os dias atuais, ao que se sabe, sofrendo desse permanente drama ainda reflexo daquela briga histórica e da lerdeza e falta de verba crônica do IPHAN .
Por castigo, o padre suspendeu o campeonato e colocou o nome de todos os brigões na porta do templo, cada um com suas penitências a cumprir. E a tal mulher que fez a defesa, em confessionário, disse que praticou o ato por amor ao goleiro do Sávio. Em tempos atuais, de amores efusivos na cidade, nada mais natural.
Há outras narrativas desse naipe no livro, "O ex-voto da ex-mulher do sapateiro"; "Quando Zeus botou a careta para correr e acabou com o Carnaval de Itapagipe"; "O Reino de Shangrilá"; "Pelé, Vicente e a porrada Portuguesa na Pedra Furada"; "A Tainhas do Enclave da Ribeira"; "O milagre da moça sem olhos e o safado espanhol mentiroso"; "O bizarro roubo no Largo de Roma" e assim por diante.
Esse jeito baiano das crônicas de Jolivaldo Freitas com suas narrativas bem pessoais, experiência de anos como cronista, vale a pena conferir. É livro que se saboreia de gute-gute.