O livro é instigante e revelador sobretudo, porque pouco sabíamos da personalidade de Assange nos trópicos de acá, as aventuras e atitudes de rebeldia de sua mãe Christine Assange, uma militante feminista australiana que fez escola em seu país organizando a marcha do biquíni em resposta ao discurso sexista de um líder islâmico, e de como esse jovem criado num ambiente dessa natureza, com família constituída nos padrões anti-convencionais se tornou tão polêmico e revolucionário.
Aos 14 anos de idade, Julian já tinha passado por 37 escolas diante da trajetória itinerante de sua mãe Christine, desde a ilha magnética (Magnetic Island, Townsville, costa Nordeste da Austrália) onde se refugiou entre hippies e a vida natureba até Melbourne e seu ativismo anti-sexista, para se tornar quando adulto e com a grife título de jornalista em esmagar conspirações, incentivar a liberdade de expressão, sacudir os cidadãos e lutar contra as injustiças, se utilizando de um meio de comunicação (web-site) e uma ferramenta (Wikileaks) que mudaram o conceito de comunicação no mundo, e ainda estão modificando, pois, em processo.
Estamos vivendo, literalmente, uma revolução na comunicação e os sites e blogs nacionais em certo sentido se assemelham ao WikiLeaks e disseminam a cada dia informações que não eram divulgadas pelas mídias tradicionais, de forma mais democrática e popular, pois expressam opiniões sem amarras e/ou compromissos inerentes às grandes empresas, agora, mais poderosos do que há 5 anos, com integração com as redes sociais.
Quando o WikiLeaks, no momento em que necessitou de uma âncora à sua grife, se utilizou da máxima da complementariedade com suporte do meio tradicional e se aliou a três grandes nomes do jornalismo impresso: o britânico The Guardian, o americano The New York Times e o alemão Der Spiegel com o objetivo dei arrastar consigo três pesos-pesados da imprensa internacional, os quais tiveram prioridade nos documentos confidenciais, nesse compartilhamento que foi o mais importante vazamento da história militar recente.
Em julho de 2010, após receberam as cópias de 92 mil relatórios sobre a guerra no Afeganistão os jornais enfrentaram o drama de publicá-los sem identificar as procedências ou deixar o WikiLeaks sozinho com seu material bruto.
Cada jornal, no entanto, topou a parada e editou várias centenas de documentos, todos discutidos, o The Guardian apoiado em cartografias; o NYT com longo artigo resgatando o contexto integral dos pontos marcantes; e o Der Siegel, por uma projeção de slides. Estima-se que 560 jornalistas trabalharam nessas missões. E outros milhares em todo mundo quando um total de 220.000 documentos foram divulgados.
O livro, portanto, além de trazer ao público essas informações de forma um pouco mais detalhada do que já se conhecia na própria web-mídia, trata-se de um libelo ao papel da imprensa e esse novo exército de guerreiros da verdade, o trabalho que cada um exerce no mundo (veja que a Primavera Árabe já detonou o governo de 4 ditaduras graças a esse suporte), o diálogo dos hackers vistos como profissionais avançados desse mercado, não apenas para o mal (assim entendido), mas como técnicos de sistemas complicados, as novas tecnologias, a conspiração das elites políticas e os conceitos de direita e esquerda ainda muito usados no Brasil, mas completamente superados, a compreensão dos ambientes computadorizados, o Sophox, o Mendax e a gênese do WikiLeaks.
O trabalho das jornalistas norte-americanas para quem deseja compreender o que se passa no mundo a partir dessa revolução das comunicações, com o uso da internet e o web-jornalismo ancorado nas redes sociais e na mídia tradicional, pois tudo está intrinsecamente apegado um ao outro, sem dissociações, embora com conceitos e abordagens diferenciadas, é muito interessante.
Como nossa proposta nesta coluna não é apenas abordar a literatura pura, digamos assim a ficção literária, o livro Julian Assange - O Gurreiro da Verdade se insere nesse contexto e é uma recomendação que fazemos aos nossos leitores.