Como já é tradição nos aniversários do Ilê, antes da festa na Senzala do Barro Preto os percussionistas do bloco saem em cortejo da praça do Plano Inclinado da Liberdade até o Curuzu.
A Trajetória de Leci
Nascida em Madureira, criada em Vila Izabel, Leci Brandão foi a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores da Mangueira. Filha de família humilde, trabalhou desde muito cedo para sobreviver. Em 1973, foi descoberta pelo crítico musical e jornalista Sérgio Cabral, que a convidou para gravar um disco. Naquela época ela cantava no
Teatro Opinião, na noitada de samba sobre o comando de Jorge Coutinho.
De lá até aqui foram 23 discos e várias compilações em 29 anos de carreira. Durante cinco anos Leci ficou sem gravar por absoluta questão política. As gravadoras não aceitavam suas canções marcadas pelas letras sociais. Ela fez a defesa das minorias (todas elas): era convocada para cantar em todos os eventos afinados com sindicalistas, estudantes, índios, prostitutas, gays, partidos de esquerda, movimentos de mulheres e, principalmente, o Movimento Negro. Nos últimos quinze anos, todos os discos de Leci contém uma faixa falando do assunto de forma direta, transparente e apaixonada.
Durante o show na Senzala do Barro Preto, Leci Brandão vai apresentar as canções do seu mais novo disco, batizado de "Eu e o samba!". Trata-se de uma grande homenagem ao principal gênero musical brasileiro. Como escreveu o compositor e escritor Haroldo Costa, "o disco é um ato de orgulho e confissão, reafirmando sua intimidade com o nosso principal ritmo, e a notória fidelidade com que ela se dedica, não deixando dúvidas quanto ao seu objetivo, que é surpreender o ouvinte a cada faixa."
Em Mulher de Fibra (Didi e Sérgio Madureira), ela faz o seu próprio perfil; em Bagulho do Amante (Leci e P.H.do Cavaco), torna-se porta-voz de tantas vítimas que pagam com sua liberdade, a liberdade de amar. Já em Tributo a Martin Luther King (Wilson Simonal e Ronaldo Bôscoli), a cantora revive um sucesso de Simonal, contando com a ajuda apropriada de Simoninha, seu filho . Por outro lado, o humor carioca, na mistura dos temperos da comida e do samba, está presente e de forma irresistivel em Dona Maria Segura (Carica e Fabiano Sorriso).