Bahia

SANTALUZ: Assassinato de professores homossexuais causa comoção

Com informações da BBC e Noticias de Santaluz
Da Redação , Santaluz | 14/06/2016 às 18:44
Sepultamento do professor Nino
Foto: Noticias de Santaluz
   No mesmo final de semana em que um ataque a uma casa noturna gay nos EUA chocou o mundo, uma pequena cidade do sertão da Bahia se mobilizava em repúdio ao assassinato de dois professores homossexuais, em Santaluz.

  Edivaldo Silva de Oliveira e Jeovan Bandeira deixaram a escola estadual em que trabalhavam em Santaluz, a cerca de 260 km de Salvador, por volta das 22h da última sexta-feira, dia 10.
Menos de uma hora depois, dois corpos foram localizados no porta-malas no carro de Edivaldo, às margens da rodovia BA-120. O veículo e os corpos estavam carbonizados.

   O corpo de Edivaldo, que era conhecido como Nino, foi identificado pela arcada dentária. O enterro já aconteceu em Santaluz. O outro corpo ainda passará por exames de DNA para identificação, mas familiares acreditam ser de Jeovan.

  O delegado João Farias, que apura o caso, disse à BBC Brasil que a homofobia é uma das possíveis motivações do crime. A casa de Edivaldo foi encontrada revirada após o crime, mas objetos de valor, como computador, não foram levados.

  NOTICIAS DE SANTALUZ

  Sob forte comoção, o corpo de Edivaldo Silva de Oliveira, conhecido como Nino, encontrado carbonizado dentro do porta-malas de um carro incendiado às margens da BA-120, em Santaluz, foi enterrado na tarde desta terça-feira (17), no cemitério municipal da cidade. Centenas de familiares e amigos tiveram aproximadamente duas horas para se despedirem do professor. O que se via na saída dos era muita emoção. 

Debaixo de chuva, alguns choravam, outros gritavam o nome do professor. As homenagens eram vistas nos mais singelos gestos, seja na lágrima de emoção dos amigos e alunos de Nino, ou nos cartazes e flores distribuídas entre professores da rede pública municipal de ensino. A professora Maria José, que é diretora da Escola Municipal do Mucambinho, afirmou que Nino cumpriu o papel dele mesmo tendo partido ainda cedo e de maneira tão trágica. “A dedicação dele à educação, o coração generoso e a personalidade ímpar fez de Nino um ser humano maravilhoso. A lembrança que eu tenho dele hoje é essa. É difícil acreditar que alguém tão especial como ele, cheio de sonhos e planos tenha sido vítima de uma barbaridade dessas”, disse a professora com os olhos marejados.

Durante o enterro, familiares e amigos exigiram justiça. “Dói muito ver uma pessoa tão jovem quanto Nino partir tão cedo, ainda mais pela maneira como aconteceu essa tragédia. Ser humano nenhum merece passar por isso, principalmente ele, que tinha muita coisa pela frente”, lamenta o aposentado Francisco Silva.

O prefeito de Santaluz, Zenon Nunes Filho (PSD), enalteceu a atuação de Nino na educação do município e pediu a adoção de medidas drásticas contra os culpados. “Nino vai fazer uma falta enorme para Santaluz, sobretudo para a comunidade escolar, a qual ele doou parte de sua vida e deixa um grande legado. Estive reunido hoje com o coordenador regional da Polícia Civil, Mozart Cavalcante, e com representantes da Polícia Militar para pedir celeridade nas investigações e solução para esse caso. Temos que garantir que aqueles que cometeram esse crime bárbaro não continuem andando livres pelas nossas ruas”, afirmou o prefeito.

“Também queria aproveitar esse momento para me solidarizar com a família do professor Jeovan e informar que estamos tomando providências para ajudar no processo de identificação do corpo dele. É inadmissível que a situação de dor pela qual a família está passando tenha que se prolongar ainda mais. Não mediremos esforços para ajudar”, ressaltou Zenonzinho, afirmando que determinou à secretária de educação do município, Rosimar Reis, o cancelamento das comemorações alusivas aos festejos juninos na rede pública municipal de ensino assim que houve a confirmação da morte de Nino.

O caso envolvendo os professores mobilizou a população luzense, que saiu às ruas na manhã desta segunda-feira (13) durante uma caminhada para pedir o fim da violência na cidade e uma solução para o crime. A manifestação organizada por diversas entidades reuniu cerca de sete mil pessoas e é considerada a maior já realizada no município.

O Caso

O corpo de Nino e de outra pessoa foram encontrados carbonizados dentro do porta-malas de um carro incendiado às margens da BA-120 na sexta-feira passada (10), em Santaluz. A polícia trabalha com a hipótese de que o outro corpo seja do professor Jeovan Bandeira, que também está desaparecido desde a noite do crime. Contudo, a família de Jeovan ainda aguarda a confirmação por meio de exame de DNA, cujo resultado pode demorar entre seis meses e um ano para ficar pronto, segundo informação do Departamento de Polícia Técnica de Feira de Santana, para onde os corpos foram levados no dia do crime. Já a identificação do corpo de Nino foi confirmada na segunda-feira (13) por teste de arcada dentária. Ainda não há informações sobre a motivação, autoria e circunstâncias do crime. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil de Santaluz, com colaboração da Polícia Militar.