MUDAR CONCEPÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA É O CAMINHO

SERGIO SÃO BERNADRO
30/03/2025 às 13:15
 O Brasil tem convivido com altas taxas de homicídios entre jovens, especialmente aqueles que pertencem a grupos sociais marginalizados. A análise das mortes sistemáticas e genocidas de jovens negros no Brasil revela uma complexa teia de causas interligadas, que vão além da mera estatística e refletem uma realidade social, política e econômica profunda e dolorosa.
  
As teorias que tentam explicar esse quadro são variadas e complexas - desigualdade econômica e social, avanço profissionalizado do crime, métodos de recrutamento dos jovens, envolvimento de pessoas públicas, empresários, artistas, militares, partidos, sociedade civil em geral. Inclusive a persistência de uma análise rasa de que os partidos e dirigentes policiais são os culpados, não conseguindo entender que os partidos e os governos estão reféns dessas organizações cartelizadas. Lado outro, culpar a sociedade, a família e os movimentos sociais é cair no mesmo simplismo.

A Bahia registrou o menor número de mortes violentas em 17 anos, com uma redução de 8,7% nos crimes violentos em 2024. A tecnologia de reconhecimento facial levou à prisão 1.132 pessoas em 2024 (Panorama da Bahia, 2025). No entanto, continua a ser o estado com a maior taxa de letalidade policial do Brasil. Em 2024, o estado registrou 1.557 mortes durante intervenções policiais, superando São Paulo e Rio de Janeiro juntos. Essa tendência continuou em 2025, com 267 mortes em intervenções policiais registradas nos dois primeiros meses do ano.

Ao enfatizar que a Segurança Pública requer integração, inteligência e investimento, os representantes governamentais apresentam um vazio retórico que não se sustenta. A criação do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) em 2018, e do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), e as frequentes compras de equipamentos de artilharia, camêras corporais, concursos públicos, promoções, e as mudanças de posições de comando para coibir os altos índices de violência social e letalidade policial, não são suficientes.

A sociedade civil tem se esforçado para contribuir para este debate, sendo unânime em afirmar que o Estado e a mídia sensacionalista, adotam uma perspectiva da teoria do inimigo misturada com uma versão cristã e conservadora da família. A resposta das autoridades e a maioria dos partidos (de esquerda e de direita) são concebidas em repressão e letalidade com fortes critérios de dispositivos de racialidade resultando em mortes anunciadas. 

As disputas territoriais entre facções e a falta de políticas públicas eficazes, bem como a relação entre facções criminosas, governos e partidos constituem num fenômeno multifacetado que se entrelaça com a história política do Brasil. 

A matança sistemática de jovens negros nas periferias resulta em uma devastação generalizada nas comunidades, que se veem privadas de suas gerações mais promissoras. Por que não nos juntamos todos, governo, sociedade civil e empresários, e construímos uma nova concepção de segurança pública?