Walmir Rosário
10/04/2025 às 10:27
Inacreditável! A desastrada Confederação Brasileira de Futebol, mais conhecida como CBF, tenta acabar de vez com o futebol brasileiro, mas não é deixando de realizar os jogos em todo o Brasil. Não, eles escolheram um jeitinho e pretendem tornar o futebol um jogo amorfo, sem espetáculo, sem jogadas bonitas, um jogo praticado por pernas de pau ou autômatos.
Se hoje os jogos de futebol não merecem mais serem chamados de espetáculos, com raríssimas exceções, as frequentes canetadas oficiais o tornarão uma espécie de filme mudo, mas sem a graças dos grandes artistas. E essas proibições vêm sendo implantadas há anos, sob qualquer pretexto, quem sabe até globalistas. Perdoa, Pai, pois eles não sabem o que fazem.
O buraco é mais em baixo e eles sabem, sim, o que querem, e isto está largamente comprovado. De início, foram proibidos os dribles, os olés, as embaixadinhas, eliminando em campo as habilidades individuais. Agora não podem pisar com os dois pés na bola. Isso não pega bem, pois parece histórias de antigamente, quando quem mandava no jogo era o dono da bola. Ou ele jogava ou levava a bola para casa.
Sei que hoje não temos mais o Garrincha com as pernas tortas promovendo misérias em campo, fazendo os adversários de gato e sapato. Para alguns, os dribles do camisa 7 do Botafogo eram desmoralizantes, nem tanto, pois ele jogava o que sabia e mais alguma coisa. Daqui a mais um tempo os craques do futebol serão
“castrados” e não poderão fazer qualquer espetáculo.
Meu saudoso amigo Danielzão, que jogou como goleiro e centroavante no futebol amador e profissional de Itabuna e Salvador, dizia há muitos anos que os cartolas e técnicos tinham a intenção de acabar a beleza e produtividade do futebol. Ele explicava que, enquanto os gringos levavam nossos jogadores para a Europa a peso de ouro, para a aprenderem nosso futebol, por aqui queríamos jogar como os gringos, sem gingas e maneios de corpo.
Não sabe – ou não quer saber – o presidente da CBF, que os “arquibaldos e geraldinos”, expressão criada pelo tricolor Nelson Rodrigues para se referir aos frequentadores das arquibancadas e geral do Maracanã, iam aos jogos para assistirem verdadeiros espetáculos. E as partidas no “Maraca” contabilizavam até mais de 200 mil expectadores, melhor, torcedores.
Duvido que alguém sairia de sua casa numa noite chuvosa ou numa tarde escaldante para assistir a uma partida de futebol maçante, sem os dribles de tempos recuados, hoje proibidos...nem pensar. Jamais
veremos um lançamento de 80 metros feito pelo canhotinha Gerson, cuja bola morreria no peito do companheiro, que marcará o gol. Um espetáculo pra ninguém botar defeito, nem os adversários.
Será que a direção da CBF já assistiu aos jogos entre o Botafogo e Santos, em qualquer um deles impossível de adivinhar o placar final?
Com a CBF de hoje Pelé seria ainda um jogadorzinho de várzea, por ser tolhido de protagonizar suas brilhantes jogadas. Garrincha nem entraria em campo, pois com certeza não saberia jogar o futebol
burocrático pregado pelos atuais cartolas.
Hoje vale mais para a CBF os astronômicos salários dos dirigentes das federações bem acima dos R$ 200 mil mensais, do que oferecer um espetáculo futebolístico à altura dos praticados pelos brasileiros. Ao que parece eles tentam matar a galinha dos ovos de ouro, não se contentando meter a mão somente nos ovos. Tudo indica que querem comer a galinha, e de uma só vez.
Na minha geração, bem como a dos mais novos, nos acostumávamos com os espetáculos já nos campinhos de babas próximos de nossas casas, nos entusiasmando ir às tardes de domingo ao campo da Desportiva assistir às apresentações cinematográficas dos nossos craques amadores. E digo mais: tínhamos pra mais 100, para formar seleções brasileiras superiores às de hoje.
Sou do tempo em que o futebol em campo obedecia a uma cadência musical espetacular, sem destoar das músicas tocadas pelas charangas nas arquibancadas de nossos estádios. Sou do tempo em que um jogador era escalado pelo futebol que praticava seria substituído por outro de igual qualidade. E não me arrependo, pelo contrário, me orgulho.
Não tenho receio em dizer que não perco mais o meu tempo a ver malfadados jogos da seleção brasileira com jogadores escalados pelos seus empresários, como dizem largamente representantes da imprensa brasileira. Melhor ser socorrido pelo Youtub e relembrar os bons jogos do passado, que mesmo já sabendo do resultado, voltamos a assistir com emoção.
Nesse diapasão, provavelmente chegará o tempo em que os times terão seus resultados programados para que não sofram qualquer tipo de bullying e se sintam assediados e oprimidos pelas equipes adversários. Lembrem-se, no futebol o jogador bom é aquele que provoca o jogo e intimida os adversários com gols de beleza plástica sem igual. É do futebol!
Acredito que serei classificado como um saudosista, que não conhece nada de futebol, haja vista o presidente da CBF ter sido reeleito por 100% dos presidentes de federações e dos clubes das séries A e B.
Portanto, nada de reclamações. Pelo visto nunca mais assistiremos aos espetáculos com mais de 200 mil torcedores, números que minguam a cada dia. VARlei-me....
*Radialista, jornalista e advogado.