PRAZOS EXIGEM AGILIDADE NO PROCESSO DE DUE DILIGENCE

RENATA SOARES
02/09/2024 às 10:20

Fusões e aquisições são momentos críticos na vida de uma empresa e decorrem de decisões estratégicas de agentes dispostos a investir e tomar riscos mediante um determinado cenário macroeconômico.

Desde o início de 2024, a definição de cenários tem sido especialmente desafiadora. No mercado doméstico, as preocupações com a política fiscal, os efeitos na inflação e a interrupção do ciclo de redução de juros, com a possibilidade de um novo aperto monetário, têm sido determinantes. No cenário externo, a volatilidade também é alta, com preocupações intensas sobre os indicadores econômicos dos EUA em um ambiente geopolítico instável.

Apesar das incertezas, transações importantes já ocorreram em 2024, entre elas Arezzo&Co e Soma e também DASA e Amil. A KPMG divulgou recentemente uma pesquisa mostrando que, no segundo trimestre de 2024, o número de fusões e aquisições de empresas brasileiras cresceu 17% perante o mesmo período de 2023, totalizando 426 transações.

Em uma análise que cobriu 43 setores da economia, a KPMG apontou que, entre os potenciais fatores que explicam o aumento das transações, estão o alto nível de endividamento de empresas que passaram a enfrentar dificuldades em acessar o mercado de capitais e a depreciação do Real, que tornou as empresas brasileiras relativamente mais atrativas para estrangeiros (foram 170 transações envolvendo empresas estrangeiras).

O planejamento estratégico para os próximos ciclos enfrenta grandes incertezas: o mercado de M&A se aquecerá ainda mais e oferecerá oportunidades interessantes? O mercado de capitais permitirá captar recursos a taxas razoáveis?

Qualquer previsão na atual conjuntura é extremamente arriscada.

Neste contexto, estar pronto para uma transação será o diferencial para aproveitar janelas ainda que curtas de mercado e assim garantir a execução bem sucedida de um plano estratégico.

Dada a capilaridade e complexidade da documentação jurídica no Brasil, o levantamento de certidões nos mais diversos tribunais que indiquem a existência de eventuais passivos cíveis, trabalhistas, fiscais ou ambientais é fundamental para que a transação possa ser realizada. O desafio investigativo passa pela análise de um alto volume de documentos e o processo de Due Diligence se torna custoso e demorado.

A demora faz com que eventuais janelas de oportunidade possam ser perdidas.

A tecnologia tem sido uma aliada crucial para superar esse desafio, tornando o processo de Due Diligence mais rápido, assertivo e menos oneroso: atualmente é possível fazer o levantamento e ter uma visão preliminar dos passivos jurídicos de uma empresa em poucos cliques e algumas horas, além de rapidamente atualizar e comparar documentos com alertas de risco.

Embora o cenário atual apresente desafios consideráveis, a resiliência do mercado de M&A, evidenciada pelo aumento das transações e pelo interesse de investidores estrangeiros, demonstra que oportunidades continuam a surgir. O sucesso nessas transações depende fortemente da capacidade de se preparar rapidamente e de entregar um data room preciso dos documentos jurídicos considerados necessários.

A evolução tecnológica tem sido um aliado crucial nesse processo, tornando a Due Diligence mais eficiente e menos onerosa: a integração da tecnologia no processo de M&A não apenas reduz o custo e o tempo necessários, mas também fortalece a capacidade das empresas de realizar transações bem-sucedidas e alinhadas com suas estratégias de longo prazo.


(*) Renata Soares é co-fundadora e CSO da Port Louis, empresa criadora da PortData, especializada na automação do processo de auditoria jurídica. Formada em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), atuou nas áreas de Macro Research, Investment Banking, Structured Finance e Private Equity. Foi responsável pela área de private equity do Banco Credit Suisse/Garantia, onde ficou por 11 anos. Renata também estruturou as áreas de captação de recursos, jurídica e de relações com investidores na Autonomy Investimentos