PARTIU A LENDA VIVA DE AREMBEPE, LUIS CERQUEIRA

Liliana Peixinho
31/07/2024 às 14:33

O artista plástico Luis Cerqueira, lenda viva da Aldeia Arembepe, ativista da "Cultura Paz e Amor", construtor do Atelier Espaco 44, referencia em Construção arquitetônica Sustentável, situada na Aldeia Hippie, Litoral Norte da Bahia, anfitrião de visitantes de todo o mundo que vai ao local, imergir na cultura alternativa, partiu hoje ( 30.07.24). Mas é imortal.

Lula, Ser Humano especial, sensível, alegre, lutador histórico pelo bem viver coletivo, merece todas as honras e glórias por uma vida entregue à arte, ao amor, à amizade, à harmonia com a Natureza e seus entornos de desafios humanos, planeta afora.

Estou longe de Salvador, em imersões Comunitárias Caatinga Adentro, com sinal de celular instável, soube agora, da partida de Lula, e como sempre, reflito: "Não é morrer. É como morre". E essa partida foi precoce porque Lula sempre teve muito o que fazer, todo o tempo, por tanta gente. Se formos pesquisar no Google, Luis Cerqueira, como fonte de trabalhos acadêmicos, jornalísticos, pesquisas sociais, antropológicas, culturais, musicais, comportamentais, em arquitetura e arte sustentável, Brasil e planeta afora, veremos quanta falta ele fará nessa contribuição ao planeta.

Conheci Luis no início dos anos 80, logo que cheguei a Salvador, pra fazer vestibular, cheia de sonhos, curiosa e ligada nos movimentos da contracultura, mundo afora, como o grande Festival em Arembepe, inspirado em Woodstock, realizado numa fazenda, às margens do rio Capivara, onde tomávamos banhos coletivos entre um show e outro de artistas como, Marina, inesquecivel.

Luis sempre recebeu bem, a quem chegasse na paz. Nessa época, anos 80, sua casa era pequenina, de palha e barro, sempre acolhedora, e bem diferente do que é hoje, ampla, com diversos ambientes, construídos em pedra e madeira, resultado de mais de 40 anos de muito trabalho e dedicação esmerada. Símbolo e referência em arquitetura inteligente, harmoniosa com o ambiente, propagada por estudiosos, pesquisadores, Brasil e países afora.

A casa de Luis é a porta de entrada da Aldeia, nas dunas, ao alto. Levar visitantes e vê-lo recebendo-os com entusiasmo e alegria ao mostrar suas artes, ouvir seus relatos sobre o começo de tudo, na Aldeia, sua impressões sobre a vida, sempre foi prazer e aprendizado.

Nas varandas, do lado voltado ao mar, o dia é saudado logo cedo, com aurora como porta de energia para o viver em olhar integral, no todo, com muito trabalho, onde "lixo" é recolhido na praia do mar de Arembepe, como resíduo para arte protesto, exposta nos gigantes painéis montados por toda a casa, construída pedra a pedra, palha a palha, piso a piso, trabalhados em detalhes como é o Ser, Luis.

Do lado voltado ao rio Capivara, o ritual do Pôr do Sol sempre foi sagração de agradecimento por cada dia, vivido em coragem, potência, amor, em sons de rufos de tambores, em rodas de cantos ancestrais diversos, danças, conversas leves sobre a razão do viver profundo.

Obrigada por tanto, Lula. Já chorei muito porque sei o tanto que você gostava de viver. Não é adeus porque gente como você não morre nunca. E seu legado amor, coragem, compromisso coletivo será para sempre ensinamento de vida.

Que Alohan, Lila, Helena, demais familiares, amigos de perto e de longe espalhados ao mundo, possam ter algum conforto dálma porque você é mestre eterno de vida.

Hoje vestirei uma de suas artes, em blusa, aqui bem surrada, e tão lindamente pintada por suas mãos sábias. Ah Lula, o seu legado sapiência no viver está eternizado em nossos corações e mentes, tão lindamente abraçados por você.