Luiz Mário Montenegro Nogueira
13/06/2024 às 20:51
Fileiras de velas, Antônio, o santo, autoconfiante à busca de suas virtudes, meio desconfiado, remexeu-se no meu bailado popular à presença duma luz fulgente. Abeatar-se não o deixava em ações de Santo, mas isento dalguma culpa. As atas de vida sobre os meus ombros não chocalhavam o bamboleio, o gingado à ausência do oratório coberto de flores, engenho com imagens e portas envidraçadas.
O meu arraial no ato de temperar o favor dos céus não tinha errôneos mistérios nem tons de cruas paixões. Ao disfarçar-me para vê-lo mais de perto não decresceu o bravanismo da minha lascívia. Como os orixás em calmaria, a um só tempo o desnude de vestes e um feixe de silhuetas dançantes. Acolá, fardos perpétuos lançavam raios cravejados em repiques encantados.*
Na porta da paz, greta da nossa intimidade, alçares, volveres e adoçares de cantaria apadrinham e acodem as correntes de simpatias, estampa de fé, mulheres e homens sem asas ensaboando a esperança, pendão de centelha divina, doce aquarela de azuis e brancos.
Espantadiço e manhoso parto o pão a toda pressa. A Antônio apresentei o brilho passageiro que não dura em forma de tochas de clarões e seus sinais de ajustes. Ao abrigo de seus pés uma série de sons e vozes musicais em chiares de afinações e murmúrios. De um a outro lado, a súplica religiosa. Consagrado ao culto, os galanteios semi-amorosos de banho de igreja em mundaréus e sermões.
A ladainha mais ansiosa com as espigas de milho verde e cachos de flores, aliança e namoro piscando os olhos. E nesse namorar raiava-me à altura do astro no horizonte. Desnuda a minha pele em viço, redivivo embebido sem o diabo. Espinhaço aquietado no meu papel de ator.*
*Santo Antônio, de boa.*