CULTURA NA BAHIA SEM LENÇO E DOCUMENTO; AQUELE ABRAÇO

Tasso Franco
19/04/2024 às 10:19
   Há uma crise sem precedentes na área governamental da cultura baina na Secretaria de Cultura do Estado e seus órgãos de apoio. O que vinha se apresentando como desgastante na falta de entendimentos entre as diretoras do IPAC e FUNCEB e o titular da pasta, Bruno Monteiro, o governador Jerônimo Rodrigues aceitou mudar essas duas peças importantes na estrutura administrativa da cultura e trocou-as por pessoas que são mais vinculadas ao secretário, do ponto de vista da gestão.

    Tem que se dar algum crédito de confiança para que as coisas melhorem, porém, quanto mais de mexe no assunto, novas revelações veem à tona e nunca se sabe onde isso vai parar. 

    A ex-diretora da Funceb, Piti Canela, desmentiu que foi exonerada a pedido (artificio usado pelo governo para amenizar a situação) e numa entrevista a uma emissora de rádio disse que o secretário Monteiro, no ápice do atrito, lhe ofereceu a direção de um museu para um seu possível conforto ou cala boca, e ela não topou e disse não ser museólogo e sim uma pessoa da "resistência".

    Recentemente, também, sem tanto alarde, em 3 de abril, Daiane Silva assumiu como nova diretora interina da Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado da Bahia, unidade vinculada à Secretaria de Cultura do Estado (DIMAS/FUNCEB/SECULTBA). Caiu Pedro Caribé. 

    Vê-se, pois, que a base administrativa da Secult está em mudanças, em reviravoltas, e a Secult sem um prumo, um projeto para as atividades culturais da Bahia que possa ser mais visível, salvo o Neojibá, vindo do governo Jaques Wagner e que tem vida própria. Anuncia-se, um protocolo de intenções para se instalar no antigo Palácio da Aclamação (vide foto) um centro de cultura do Banco do Brasil.

    Na OSBA, criada em 1982, e que já se  apresentou-se ao lado de grandes companhias como o Ballet Kirov, Ballet Bolshoi (Rússia) e Ballet da Cidade de Nova York vive se arrastando. Era administrada desde 2017 pela Associação Amigos do Teatro Castro Alves (ATCA) – entidade sem fins lucrativos qualificada como Organização Social (OS), sendo ainda mantida com recursos diretos do Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria de Cultura (Secult-BA). 

     Ano passado, pipocou uma briga enorme para quem iria comandar a OSBA e o caso chegou a Justiça, isso desde que foi publicado no Diário Oficial do Estado que a Associação dos Amigos do Teatro Castro Alves (ATCA) não iria mais administrar a Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba) após a empresa ter sido desclassificada da licitação por “incapacidade técnica”. 

    A partir de então anunciou-se que quem iria gerenciar a Osba era o Instituto de Desenvolvimento Social pela Música (IDSM), mesma instituição que administra o Neojiba (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia), orquestra que também é mantida com recursos públicos na Bahia. No fundo, atritos entre dois maestros: Carlos Prazeres x Ricardo Castro.

    O TCA pegou fogo na cobertura no inicio do governo Jerônimo. O secretário Bruno MOnteiro bateu na porta da ministra Margareth Menezes e ela disse que não tinha dinheiro para recuperar o teatro. O secretário Monteiro voltou de Brasília de mãos vazias e sem articulação política no Planalto (a Casa Civil é da Bahia, o Ministério da Cultual a titular é da Bahia; Lula teve 67% votos em Salvador) nada aconteceu. 

    Mais de um ano depois do incêndio, o governador Jerônio anunciou uma reforma com investimentos de R$110 milhões (investimento do estado) obra que está sendo realizada pela Conder. Resultado: o TCA só volta a funcionar em 2025. É o mais importante equipamento da cultural estatal da Bahia. Serão, portanto, 3 anos sem teatro.

   A Bahia perdeu de arrematar o acervo que foi a leil]ão de Emanuel Araujo. A coleção de mais de 5.000 obras deixada pelo artista plástico baiano, que foi diretor e curador do Museu Afro Brasil, foi leiloada por R$ 30 milhões para a Fundação Lia Maria Aguiar, de Campos do Jordão, em São Paulo. 

   A coleção do artista baiano, que também foi curador, intelectual e fundador do Museu Afro Brasil, inclui peças de autores históricos, brasileiros, esculturas, peças de design, fotografia, arte sacra, joalheria colonial e artesanato, entre outros trabalhos. A maioria das peças tem relação com a Bahia.

   O acervo de Franz Kracjberg já virou novela.

   Agora, estão à venda, o Sebo Brandão (600.000 livros), a biblioteca do historiador Cid Teixeira (17 mil livros), a biblioteca do colombiano Nelson Cadena (dezenas de livros raros da Bahia) e onde estão a Secult e o Ministério da Cultura. A Secult em briga; e o Minc nem parece que é dirigido por uma baiana. 

   Todos esses acervos têm obras rarissimas da Bahia e podiam integrar o acervo da Bibklioteca Central dos Barris, cujo prédio inaugurado por Luis Viana ainda é belo, majestoso, mas precisa de investimentos no acervo, na digitalização, sobretudo.

  Os politicos não se interessam pela cultura. A Bahia tem 3 senadores, 39 deputdos federais e 63 deputados estaduais. Esses assuntos nunca entram em pauta. Politico gosta, de estradas e hospitais, tudo como na época da República Velha. A politica está na cultura apenas para indicar os cargos: jornalista no lugar de produtor cultural; empresário de rádio na Sofitur; e por ai segue.

  Fazer o que? Nada. Quem antes protestava, colocava a boca no trombone no meio intelectaual, está agasalhado em projetos do governo - Lei Rouanet, Lei Paulo Gustavo, etc. Daqui a pouco teremos bolsa artista. ]

   Enquanto isso, a Bahia vai afundando na cultura. Como diria Gilberto Gil, hoje acadêmico da ABL, imoprtal, morador do Rio: "A Bahia já me deu régua e compasso/quem sabe de mim sou eu/aquele abraço". Ou cantando como outro famoso baiano residente no Rio: "Caminhando contra o vento/ sem lenço sem documento. (TF)