40 ANOS DA ESCOLA PIONEIRA E CRIATIVA DO OLODUM

Maria Felipe
27/10/2023 às 19:14
  Tu pensas em tocar, vós quererdes vir dançar?
Minha escola lhes convida
Conheças minha classe venhas participar
Descobrir os teus direitos discutindo meu dever
Seremos desafiados
A conquistar espaços, transformar o poder.  
É assim que eu vou… por isso vou  
E sempre levo mais um… não é qualquer um
Encantando com minha dança
Escola de vida Olodum 

25 de outubro de 2023 celebra-se os 40 anos da Escola Olodum. Esse espaço educativo pioneiro do que hoje é denominado “educação antirracista”. Iniciou como Projeto Rufar dos Tambores, em 1983, com a reorientação do Bloco Olodum. Fisicamente, ela surge em um cenário para preencher um tempo que não fora ocupado antes sistematicamente, principalmente em escola públicas que não atendiam uma população em vulnerabilidade. O projeto educativo do Olodum nasce com práticas pedagógicas surgidas da necessidade que a educação formal não levava em conta, principalmente a forte referência a identidade étnica, que o Olodum já pronunciava desde a sua fundação. 

A Escola faz da música percussiva, do ritmo do samba-reggae seu maior instrumento pedagógico. Um dispositivo que evidencia as questões de classe, de gênero, de religiosidade e evidentemente de raça, trabalhando assim diversas interseccionalidades de forma lúdica e criativa, ao desenvolver suas ações dentro de uma proposta de grade curricular pluricultural que envolve diversas linguagens que mostram, que a verdadeira história da população negra na construção do Brasil precisa ser destacada. 

  Ela é forjada também no fazer política, por ser um projeto político educativo fundamentado no toque dos tambores que é a ignição, a força motriz de princípios que estabelece uma conexão com o sagrado para demolir o projeto moderno ocidental, colonial, heteropatriarcal e a mentalidade eurocêntrica. Foi assim, quando em 1988, junto com a Associação dos Professores Licenciados da Bahia – atualmente, APLB Sindicato; pela União de Negros pela Igualdade – UNEGRO e pelo próprio Olodum, conseguiram, por meio de emenda popular, inserir na Constituição do Estado da Bahia, o Capítulo XXIII – Capítulo do Negro – formado por cinco Artigos (286/290), tornando a Bahia pioneira em uma Lei que inclui em seus programas de ensino uma disciplina que valoriza a participação do negro na formação histórica da sociedade brasileira. 

  Já no inicio da década de 90, a Escola Criativa Olodum era referência com sua pedagogia interétnica e suas estratégias didáticas pluriversais, com abordagens de formação humana de caráter multicultural, crítica e não eurocêntrica. A Escola Olodum é também pioneira em formar professores/as - por meio de seus cursos, seminários, palestras, jornais, boletins, apostilas, programas de rádio, livros, cadernos pedagógicos, cartilhas, cds, podcasts, etc. -, para trabalhar com conteúdos pertinentes a África e história dos negros no Brasil, antes mesmo da sanção da Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório aos estabelecimentos oficiais de ensino, o estudo sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

Em suas atividades de formação, a Escola Olodum já atendeu diretamente, em seus 40 anos de atuação, cerca de 100 mil pessoas - entre crianças, adolescentes, jovens, professores das redes estaduais, municipais, comunitárias e particulares, membros de movimentos negro, sociais e culturais diversos - de forma gratuita. Mas como tudo no Olodum é educativo e possui abordagens inter e multidisciplinar, que vai tomando forma nas atividades paralelas à sua vida no show business e atividades carnavalescas, não ficando apenas no cantar, pode-se falar no alcance de milhões de pessoas, dos mais diferentes perfis, sendo portanto caracterizado como um legítimo educador antirracista, por produzir e disseminar saberes, além de provocar intervenções concretas na sociedade. 

São 40 anos de ações insurgentes, de construção da resistência e fortalecimento da representatividade, de valorização ancestral e autoestima do povo negro por meio de atividades educativas, tecnológicas e socioculturais. É mais que o toque de tambores. É além de cantar, tocar e dançar. É o questionamento dos padrões hegemônicos, da quebra de paradigmas dominantes sobre as questões raciais. É transformar vidas utilizando a sua sonoridade característica, o samba-reggae, para validar com base humanitária, comunitária e afrocentrada o seu saber científico e mudanças socioeconômicas e culturais.

    O rufar dos tambores, a educação interétnica, a epistemologia antirracista do samba-reggae, a pedagogia do Olodum fura cercos e ecoa aos quatro cantos do mundo a bandeira pan-africana, solicitando justiça social, econômica e racial e transmitindo uma mensagem de paz&amor! 

Vida longa e criativa a Escola do Olodum!!!