CIDADE DE SENHOR DO BONFIM- CELEIRO CULTURAL

Liliana Peixinho
20/07/2023 às 18:11
O munícipio de Senhor do Bonfim e região tem história em talento, memória e produção cultural. São músicos, escritores, artesãos, jornalistas, produtores, publicitários, políticos, cozinheiros, artistas de comunidades tradicionais que se mobilizam para trabalhar na valorização de um fazer que reforça o modo de vida do povo sintonizado com a arte como instrumento de transformação.

Observamos a revelação desse celeiro cultural através de esforços coletivos para a visibilidade de trabalhos com projeção em largo alcance.

Entre eles podemos destacar uma série de ações sociais em ambientes como a ACLASB- Academia de Letras e Artes de Senhor do Bonfim, presidida pelo professor Jackson Santana, voltadas para a mobilização e participação social onde produtores culturais, educadores, escritores, alunos e colaborares de escolas e instituições encontram espaço para apresentar projetos como: Cesta Acadêmica, Prêmio Literatura Escolar, Cidreira Literária (lançado em maio de 2023, com a presença do escritor e jornalista, Roniwalter Jatobá- Prêmio Jabuti) entre diversos outros eventos como lançamentos de livros, apresentações musicais, leituras de poemas, artigos e ações apresentadas por instituicões educativas como a Escola Austricliano Carvalho- Projeto na EPJAI - Educação de Jovens, Adultos e Idosos, com o tema " Troca de Saberes ao Pé da Fogueira".

Projeção nacional

Observamos a mobilização de produtores locais na construção de pontes com estruturas nacionais a exemplo da recente gravação, na zona rural quilombola de Tijuaçu, de um clipe da música de Hyldon de Jesus, "Na rua, na chuva, na fazenda" cuja sonoridade ecoa ritmos ancestrais através dos tambores da banda afro de alunos da Escola da de Tijuaçu.

Chamou atenção, recentemente, a revelação do adolescente Henrique Lima, como vencedor do concurso nacional de talentos The Voice Kids- 2023, da Rede Globo de Televisão. O Escritor Luis Antonio do Vale, faz lançamento, dia 20 de julho, do seu livro " Tegucigalpa", no Leste Coletivo.

O compromisso de agentes culturais no resgate das origens do São João, com memórias que mostram o valor de trabalhos de resistência cultural como o grupo Caroá e diversos outros que se apresentam nos festejos de tradição.

Produção acadêmica

Na área científica e acadêmica, educadores e agentes culturais mergulham em estudos e pesquisas para a preservação da memória, sistematização e divulgação de trabalhos com projeção de destaque nas universidades.

O debate sobre a diversidade cultural movimenta agendas em propostas que reforçam o valor de mídias como o áudiovisual como instrumento de mobilização social.

As manifestações de grupos comunitários quilombolas como o Samba de Lata de Tijuaçu; a produção alimentar orgânica de pequenos agricultores familiares sintonizados com o desafio de saúde preventiva; o olhar de consumidores sobre a necessidade de adquirir produtos limpos, sustentáveis, em harmonia com os desafios de um planeta sedento por cuidados com o ambiente, ocupam o tempo de agentes, produtores, educadores e difusores de informações na região.

Educação lúdica

A professora Maria Célia Sarmento Peixe da Silva (Pró Célia), que ensina no curso Fundamental I, da Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima, no bairro Alto da Maravilha, em Senhor do Bonfim, trabalha a produção de textos com seus 25 alunos por sala através do estímulo da leitura e escrita lúdica, leve, brincando de aprender.

A professora Célia leva para seus alunos estímulos de leitura e escrita que aprendera em casa, desde criança.

Com essa filosofia de ensino a Pró Célia lança, dia 22 de Julho, às 17 horas, na ACLASB o livro "A Festa dos nomes".

Leia na entrevista à jornalista Liliana Peixinho, feita via WhatsApp.


Liliana Peixinho

Poderia historiar um pouco seu processo como escritora?

Maria Célia Sarmento

Desde criança sempre gostei de ouvir histórias contadas por minha avó (dona Agnélia). Ela foi minha maior inspiração pela leitura. Ainda pequena, na escola, comecei a fazer poesias, escritos em diários. Sou filha única e fazia do caderno e caneta, meus companheiros de intensos desabafos (risos.) Ainda tudo prematuro, até que o tempo foi passando e fiz de tudo isso um hábito prazeroso. Na faculdade, tive os melhores professores, que me inspiravam a escrever, escrever e escrever. Esse é o drama de muitos, mas para mim sempre foi e é meu prazer. A história é muito longa... Mas os desafios da sala de aula me fizeram entender que os textos poderiam ser produzidos por mim. Comecei a escrever textos e a escrita tem feito parte do meu dia a dia.

 Liliana Peixinho

Sabemos dos desafios para escrever, editar, publicar, divulgar um livro. Como observa esse cenário no interior, na Bahia, no Brasil?

Maria Celia Sarmento

Não é fácil. O valor pela arte, principalmente a arte da leitura, tem sofrido muita desvalorização, ou pouco tem se olhado para a sua importância. O apoio quase não existe. É preciso ter muita coragem e certeza do amor pelo que se faz para seguir em frente.

Liliana Peixinho

Poderia falar um pouco sobre suas origens?

Maria Celia Sarmento

Sou baiana, nascida em Senhor do Bonfim. Filha de um casal de pais que muito me incentivaram a estudar e deram o melhor do pouco que tinham para me ver crescer como pessoa. Todos os dias tento fazer tudo melhor por causa deles. (Saudosos: Marlúcia, uma costureira, e José Lourenço, funcionário público.)

 Liliana Peixinho

Como observa o compromisso de escritores com o conteúdo literário infantil no processo de estímulo à informação/educação ?

Maria Célia Sarmento

Hoje tenho conseguindo ter a sensibilidade de olhar para esse processo de uma forma muito especial e cuidadosa. Entendo que precisamos esclarecer tudo às nossas crianças. Mas, entendo também, que a forma pode ser levada na maneira de encantá-las com escritos como em contos de fada, mas levando uma realidade.

 Liliana Peixinho

A senhora estará lançando próximo dia 22, na ACLASB, o livro " A Festa dos nomes".
Poderia falar da motivação para a produção dessa obra?

 Maria Celia Sarmento

Todos os dias tenho motivos para escrever. Se tivermos sensibilidade no olhar, as crianças nos inspiram a criar muitas histórias!!! Foi numa turma de crianças de 8 anos que a história "A Festa dos Nomes" nasceu.
Tantos nomes lindos que me surpreendiam... Aproveitei para provocá-los e incentivá-los a irem à pesquisa do seus próprios nomes. Então aconteceu " A Festa dos Nomes".

Liliana Peixinho

Vi que a senhora tem um Canal no YouTube onde explica, de forma lúdica, como seus alunos estão sendo estimulados a escrever histórias infantis. Fale sobre outros trabalhos.

Maria Celia Sarmento

Tenho um artigo escrito numa coleção: Pesquisa e Prática Pedagógica no Semiárido sobre narrativa de estágio na educação infantil, onde o organizador é o Professor Dr. Pedro Paulo Souza Rios. E tenho também outros escritos, mas ainda não foram publicados.

 Liliana Peixinho

Uma mensagem aos leitores.

 Maria Celia Sarmento

Somos um grande depósito construído pelo Deus criador. Quanto mais guardamos o que é bom e lançamos fora aquilo que não nos serve, mais teremos para oferecer em tudo que fazemos. Seja na escrita, na música, na arte.