DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE: QUAL VIDA IMPORTA? por LILIANA PEIXINHO

Liliana Peixinho
05/06/2023 às 10:13

Há pelo menos 50 anos o mundo pauta, com preocupação, as  relações humanas com o Ambiente.

E são muitos os chamados marcos históricos, que envolvem as potências de produção em todo o planeta.
Estocolmo -1972; Brasil-1992; Rio + 2002, foram algumas das grandes discussões mundiais antes das mais recentes e em curso sobre "crise climática".
Na Eco-92, por exemplo, bem presente em nossas memórias da geração entre 60 e 80 anos de idade, muito se debateu, protocolou, acordou, em propostas para o Bem-viver coletivo na Terra.

Mas, o que, de fato, dos discursos tão bem elaborados foi colocado em prática?

Agronegócio avança

Ai vem vem os fatos: Na pauta de hoje, "Dia Mundial do Meio Ambiente" um super espaço na imprensa ressalta o mega evento da Feira do Agronegócio, no município de Luis Eduardo Magalhães, oeste da Bahia. Hotéis lotados, efervescência total nos negócios na casa dos bilhões. Destaque para as presenças de autoridades como o presidente da República, governador da Bahia, prefeitos, reforçam a grande pauta das commodities agrícolas e parcerias com países financiadores dessa Economia.

Fato é que a vida está em agonia diariamente, planeta afora.
Esforços da Ciência, do conhecimento cotidiano, de  saberes de povos tradicionais, de experiências humanas, ao longo dos últimos 50 anos têm sido exaustivamente expostas ao mundo. São alertas, comprovações, informações que poderiam estar à serviço da vida, negligenciada. E a morte segue,  banalizada!

O descaso real com a vida, comprovado, registrado, alardeado planeta afora, coloca abaixo todos os grandes discursos recheados de "palavrões" científicos longe, bem longe, do cotidiano de quem sente fome, dor, descaso, descuido, exclusão.

Dentre os cerca de 9 bilhões de humanos ocupando espaços planeta afora, a maior parte está apinhanda, imprensada, em desconfortos diversos de faltas, em meio a fartura, ostentação, desperdício, excesso.

Aplicar o Conhecimento

Dos meus 62 anos de vida e quase 40 dedicados à atenção com estudos, pesquisas, trabalho de campo, com atenção especial ao sentido do viver coletivo digno, observo a distância entre o que se fala, escreve, divulga e a real necessidade da humanidade ter consciência sobre atitudes individuais básicas (como a de cada um de nós pensar sobre o que se vai colocar no prato para comer, e evitar não desperdiçar, jogar como "restos" no lixo); ou fazer uma sacola permanente, em tecido forte, lavável, para ir às compras e dizer "não às sacolas plásticas"; ou cuidar bem da manutenção, limpeza, zelo com objetos de uso doméstico, para não comprar novos, desnecessários; ou saber o valor de estimular o filho, o neto, o sobrinho, o vizinho, o colega da escola, a ler um bom livro e depois debater, conversar, resenhar em rodas de conversas sobre a história lida; ou ter o prazer de ir às feiras livres, escolher com a família as frutas, legumes, verduras e uma infinidade de alimentos saudáveis, preparados em receitas afetivas;
ou, como um filho, ao invés de delegar a outrem, decidir estar ao lado de uma mãe/pai/avô/tio, que entregaram suas vidas a cuidar deles e na doença, ter o afeto de filho garantido para fazer a despedida da vida de forma digna.

Exemplos sobre o real cotidiano não faltam para nos mostrar quão distante anda o discurso
"sustentável " do Insustentável, desarmonioso, criminoso, enganoso.

Caatinga castigada


Enquanto biomas como Amazônia serve de foco para o gigante capital degradador, a Caatinga, único e biodiverso bioma, sofre, historicamente, com problemas sérios como o desvio de recursos como água.

Enquanto a Ciência fala da necessidade de mudança de fontes de energia suja, como o petróleo, Ongs e iniciativas por aí afora, enobrecem a cultura da Reciclagem do plástico, garrafas pets, em brinquedinhos "fofos", como geradores de renda para mães solos desempregadas e exaustas em múltiplas atividades de desafios de vida onde nem podem dormir, e se submetem a uns cochilos.

O que observamos ao nosso redor?

Rios poluídos, mares cheios de plásticos, florestas devastadas; manguezais como cemitérios de galhos mortos, sem sustentação das fontes de alimentos; Indígenas judicializados, fome alastrada,  insegurança alimentar; quilombolas sem acesso a água para plantios tradicionais; Mata Atlântica destruída, Caatinga em acelerada desertificação em ameaça à produção de alimentos e qualidade de vida.
É a vida em risco profundo, insegurança alastrada, doenças, miséria, injustiça, por todo canto.

A expressão “sustentabilidade”  virou greenwashing, instrumento político empresarial, para discurso marketeiro sujo, enganoso.

O Clima, como bem pautado, mudou seus ciclos, com a atuação criminosa humana nos sistemas naturais. As águas das chuvas, antes de chegarem ao mares, aos rios, escorrem com força destruidora a devastar moradias, em áreas inseguras. As mortes por descaso somam números assustadores, distantes das histórias de vidas dignas, desumanizadas, Brasil, planeta afora.

O sonho do transporte limpo, como bicicletas, cresceu como Mercado/venda/ estímulo ao consumo, num ambiente que mata, e muito, em  trânsito caótico, sem estrutura, em espaço mal educado.

Animais invadem as casas, expulsos de seus habitats naturais. Assustados, incomodados, também assustam. As moradias avançaram espaços com força, sem planejamento, sem cuidados preventivos, em desarmonia com o Ambiente.

Ao longo dos últimos 50 anos, pelo menos, as grandes convenções sobre políticas de vida e uso de recursos naturais foram bem formalizadas em leis, mas não cumpridas, praticadas, a contento.
Os aterros sanitários, lixões, continuam por aí, a céu aberto, como Ambiente de sobrevivência de catadores, sem o devido valor como agentes sanitários ambientais.

Entre os Rs de campanhas como a do Movimento AMA- Amigos do Melo Ambiente para Racionalizar, Recusar, Reduzir,  Repartir, Repensar, Reaproveitar, Recriar, prevalece sonha um outro R o de Reciclar, num ambiente de estímulo ao consumo, como plástico, alumínio, a alimentar matrizes sujas.

Nesse mercado sem prática de política reversa o conceito de resíduo anda longe do conceito limpo e a expressão “lixo” continua como símbolo de sujo.

A necessidade do consumo limpo, sem rastros sujos, para a construção de uma cadeia de produção, consumo e descarte harmoniosa de ponta a ponta, não tem espaço na pressa capital.

O agronegócio é commoditie para alimentar uma Economia em cadeia criminosa, venenosa. Doenças preveníveis se espalham, aos ventos.

Discurso longe da prática

As conferências internacionais da ONU pautam o Meio Ambiente como urgência de se buscar um novo caminho para a humanidade. Mas o discurso continua longe da prática.

Protocolos como o de Quioto, em 1997,  o Acordo de Paris, em 2015, a Convenção da Diversidade Biológica, no Brasil, (base para o Protocolo de Nagoya)  “com regras claras e inéditas de proteção das mais diversas formas de vida”,  fizeram barulho, sem mudança real.

Na Rio-92 direitos e legados de povos tradicionais, como  indígenas, reforçaram a necessidade de proteção das florestas. E a Terra Ianomâmi  foi homologada, como símbolo de garantia indígena contra invasões dos garimpeiros. Os fatos contrariam as intenções e o que estamos a observar são disputas mortais.

Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, os rumos da vida sinalizavam em duas importantes direções: a proteção ao ambiente e os direitos humanos. Ameaças de energia nuclear, uso do petróleo,  “desenvolvimento”  a qualquer custo, não parecia inteligente, sensato.

Pandemia aumentou desigualdade

A pandemia Covid-19 deixou ricos mais ricos, pobres mais pobres.
A Guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, e que tem fontes de energia como  petróleo/gás, no cerne da disputa, além dos prejuízos humanos e históricos incalculáveis, somam prejuízos financeiros em cerca de trilhões de dólares.

 A grande pergunta continua:

Qual o valor da vida?