Walmir Rosário
22/10/2021 às 20:06
No próximo sábado, 30 de outubro, senhores da melhor idade (será?) comparecerão – em alto estilo – ao Alto Beco do Fuxico para comemorar os 40 anos de fundação do Bar do Ithiel. Aqui com meus botões penso e repenso que tipo de comemoração será essa, pois há alguns meses o Bar do Ithiel não mais existe, para a tristeza dos fundadores que ainda sobraram e dos mais novos que se juntaram ao seleto grupo.
Fundado em 28 de outubro de 1981 – dia consagrado a São Judas Tadeu, que não é o padroeiro dos boêmios –, o Bar do Ithiel sempre reuniu amigos de todas as classes sociais por onde seu proprietário passou. Foi assim no Grapiúna Tênis Clube, no Quitandinha, e no Alto Beco do Fuxico consagrando-se como um dos pontos de encontro e convívio harmonioso, sem distinção de diplomas ou afazeres.
Um bar de personalidade, diga-se de passagem, com filosofia própria e regras próprias, estabelecidas pelo comandante, onde o que prevalecia era a igualdade, tanto assim que até a cerveja era socializada. Isso mesmo, a garrafa era aberta e servida por ele de copo em copo, sendo que o pagamento era feito sob o mesmo princípio da igualdade: paga mais quem chega primeiro e bebe mais.
De 28 de outubro de 1981, quando abriu o bar até o dia 12 de setembro de 1998, quando faleceu, os frequentadores eram os mesmos, ou melhor: foram sendo ampliados, sempre de acordo com as apresentações feitas pelos amigos. Ithiel se foi, mas o bar se tornou uma instituição integrada pelos mesmos amigos, celebrando as alegrias, chorando as tristezas, numa convivência perfeita e integrada.
Ithiel Pedreira Xavier tornou o Beco do Fuxico, mais exatamente o Alto Beco do Fuxico, num local alegre, festivo, ponto de encontro de pessoas da comunidade itabunense. Ninguém sabia decifrar a saga grapiúna como Ithiel, reunindo pessoas das mais diferentes raças, das mais diferentes torcidas esportivas, numa entidade familiar, pois era assim que consideravam uns aos outros, na mesma mesa do bar, pelo menos uma vez por semana.
Por sugestão de um vascaíno, o irrequieto confrade Iram Marques (falecido em 14 de dezembro de 1998), os aniversários passaram a ser comemorados no Alto Beco do Fuxico, com todos os requintes propícios à importante ocasião. Por sugestão de confrade Renan Sílvio Santos, foi confeccionada uma tabela com as datas dos aniversariantes e a data da comemoração.
Desta seleta lista participavam pessoas ilustres como Bernadino Sessa, que apesar de não ser um cliente de copo, era frequentador assíduo, principalmente após o Jornal Nacional, quando aparecia para nos dar as mais recentes notícias. Nestas ocasiões, José Sena atuava na organização do bufê, enquanto Renan era o mestre de cerimônia, proferindo discursos memoráveis, provocando emoções e choros.
Outro festeiro incorrigível sempre foi o confrade Paulo Fernando Nunes da Cruz (Polenga), que a cada vitória do seu Vasco da Gama fazia questão de brindar o grupo com uma bacalhoada, preparada com esmero por dona Vera. Por conta dessas promoções, iniciou-se o almoço das sextas-feiras, a cada semana com um novo patrocinador. O primeiro foi realizado no fatídico dia 23 de outubro de 1999. Neste dia, Renan Sílvio Santos sofre uma série de infartos e falece na madrugada do dia 24.
Em 12 de setembro de 1998 morre Ithiel Xavier, deixando desorientados os frequentadores do boteco com a possibilidade de acabar a tradição. Sérgio, o único herdeiro de Ithiel, mantém o bar aberto por três meses, apesar de não gostar do ramo, até que, feitas algumas consultas, Iram e José Sena recomendaram a transferência para José Eduardo Gomes, que passou a tocar o negócio.
Em seguida, Eduardo muda o boteco para um ponto ao lado, mais espaçoso e com novos equipamentos. Vago o antigo boteco, o projeto concebido por José Sena era abrir no local uma cachaçaria no sentido de ampliar a oferta de bebida e tira-gostos, bem como atrair novos clientes. Essa ideia foi encampada por Robson Oliveira, que implantou um bar e cachaçaria com todos os requisitos etílicos e gastronômicos possíveis e imagináveis.
Com os dois empreendimentos, o Alto Beco do Fuxico passou a ter nova frequência e hoje os clientes convivem harmonicamente com os dois botecos, frequentando-os ora um, ora outro, ou os dois simultaneamente. O cliente é quem escolhe a especialidade de cada casa, sem, no entanto, misturar copos, garrafas e talheres.
Por fim, José Sena concretiza do seu sonho, ao criar no mesmo local, a Confraria do Alto Beco do Fuxico, projeto que manteve até maio de 2021, após a aposentadoria no serviço público federal e mudança de residência para Salvador. Da Pituba, onde frequenta os melhores endereços etílicos, já chama de seu os botecos mais considerados, como nos tempos do velho Rio de Janeiro e Itabuna.
Mas quem resistiria voltar ao Alto Beco do Fuxico, hoje comandado bravamente por José Eduardo, do Artigos para Beber, e festejar as quatro décadas do Bar de Ithiel. Certo que o bar não mais existem, mas ficaram muitos dos amigos, prontos e dispostos a comemorar anos a fio de encontros festivos.
Inconformado com o sumiço dos amigos, Polenga não titubeou e planejou esse grande encontro.
Por falar em José Sena, ele já arrumou as malas e nesta segunda-feira (25) dará expediente e despachará nas mesas dos bares do Beco do Fuxico organizando o magnânimo evento, tal e qual fazia Chico Recarey nos velhos tempos do Rio de Janeiro. Assim como eu, outros confrades prometem desembarcar em Itabuna para um grande encontro dos amigos de Ithiel. Com muita cerveja, é claro!