A MORTE DOS AMIGOS QUERIDOS DE ITABUNA, por RAMIRO AQUINO

Ramiro Aquino
18/03/2021 às 15:04
  Desculpem se trato de assunto tão desagradável. Afinal, a morte, representada por aquela figura tão fantasmagórica de uma pessoa sem rosto, com uma capa e uma foice, não só foge ao lugar-comum dos artigos jornalísticos como é extremamente fúnebre. Meses atrás, quando ainda frequentava cemitérios, comentei com um amigo, contumaz figura carimbada em enterros: “Estamos nos encontrando muito nos enterros e uma hora dessas será um de nós”. 

  Não deu outra. Na semana seguinte morreu esse amigo e a partir daí tenho evitado voltar a um cemitério, com raríssimas exceções.

  Em artigo recente falei, positivamente, sobre assunto tão mórbido, por conta de enterro que fui de uma amiga e errei o horário chegando uma hora mais cedo ao sepultamento. O meu adiantamento rendeu uma crônica. Escrevi sobre a história de Itabuna visitando túmulos de autoridades, amigos, parentes e famílias conhecidas.

  Se me reporto hoje ao assunto é por conta de tantos amigos que estamos perdendo nos últimos meses. Perdemos o empresário Milton Veloso, o médico Carlos Mattedi, o advogado Rafael Briglia e mais recentemente os amigos Raimundo Seixas, José Adervan, Carlos Farias e Telma. Tudo isso sem contar outros amigos menos famosos, mas nem por isso, menos amigos.

  Como coisa natural, a morte é uma consequência tão inevitável, que vale aquele dito popular bem antigo, dos tempos dos nossos avós, de que “a coisa mais certa na vida é a morte”.

  Sem considerar a questão meramente biológica, que nascemos para viver e morrer, temos que levar em conta que é da natureza humana respeitar e se emocionar com a morte.

  Um amigo, dono de mortuária, estava se queixando um outro dia que não podia ter mais amigos. Foi visitar um deles, desses bem queridos, cuja família recusou a visita. “Aquele seu amigo, dono de uma funerária, está aí na porta do apartamento querendo lhe fazer uma visita. Recusamos. Ele veio foi medir o seu caixão...” disse uma mãe revoltada.

  Nós, ocidentais, não estamos acostumados a perder os entes queridos. Dizem que os que professam o espiritismo, por acreditarem em outras vidas após o “desencarne”, que eles recebem melhor a perda de familiares. Mas já vi espíritas chorando copiosamente depois de perder um filho ou um neto.
Afinal, filho é filho, neto é neto.