O DRAMA DE REABERTURA DA CONFRARIA DO BERIMBAU, por WALMIR ROSÁRIO

Walmir Rosário
08/07/2020 às 13:10
   Já causa entre os confrades um terrível mal-estar o fechamento temporário da Confraria d’O Berimbau, por conta dos cálculos malfeitos do presidente Zé do Gás, para o desespero de toda a fauna. Apesar das diversas visitas técnicas, feitas semanalmente pelos confrades, as obras não andam e a reinauguração é adiada constantemente para a infelicidade e o mal-estar dos confrades.

   A cada visita técnica são analisados o andamento das obras, os equipamentos ainda em fase de instalação e outros que nem pensados foram, mas que serão incluídos na nem tão extensa lista. Na última visita, a questão mais debatida foi a localização da pia da cozinha, esquecida no projeto original e consertado recentemente pelos “arquitetos” presentes, que ainda sugeriram a instalação hidráulica exterior, método considerado não invasivo.

   Também foi merecedora de profunda análise a localização do fogão, que se apresentará semanalmente aos confrades ao lado da pia e próximo ao freezer, num projeto bastante funcional, digno de um prêmio internacional de decoração. Para chegar ao consenso não foi fácil e diversas exposições técnicas foram realizadas, descartada a que declarava a inconstitucionalidade da vizinhança do fogão ao freezer, pela diferença de temperaturas.

   Como não tenho 'know how' em grandes obras, me contentei a assistir aos debates com muita atenção, ouvindo muito e falando pouco, exceto uns dois ou três pitacos por conta do exíguo prazo de reinauguração. Ata lavrada e assinada, à saída da obra verificou-se que faltava lugar para o botijão de gás e com a providencial ajuda de uma mangueira mais comprida o problema seria sanado.

   Realmente cheguei a conclusão de que essas visitas técnicas são essenciais ao bom andamento dos serviços de requalificação (nome bonito usado pelos políticos numa operação tapa-buracos) de um clube privado, no qual admite-se apenas alguns poucos convidados, após análises dos currículos. Estou extasiado com o aprendizado e já não me aperto na concepção de um projeto arquitetônico de maiores dimensões.

   Os confrades apresentam um método didático simplificado de dar inveja aos mais renomados pedagogos, com todas as nuances debatidas exaustivamente, dentro da mais moderna metodologia e tecnologia da educação. A começar pelos equipamentos pedagógicos utilizados, a exemplo da observação, dedução e consumo de estimulantes à base de malte, lúpulo e cevada, antecedido por uma boa cachaça.

   Mas não pensem os senhores que os confrades são simples engolidores de bebidas! Nada disso, faz parte do cardápio a alta e rica gastronomia, com a assinatura do presidente Zé do Gás, guardada a sete chaves pelo pessoal de Cícero Dantas, com as bençãos de Nossa Senhora do Bom Conselho. Uma costela assada no forno num dia, um mocofato no outro, sarapatel para diversificar e por aí afora.

   Não sabia eu que essas comilanças tivessem o dom de fazer bem para os neurônios da mesma forma em que se prestam para encher a barriga entre uma golada e outra de cerveja bem gelada. Aos poucos, vai clareando a mente e despontando as atividades artísticas em quem jamais alisou um banco da faculdade de arquitetura ou tenha pendores para a decoração de ambientes.

   Mas o assunto é sério e merece ser dito que nem sempre é possível engrenar uma visita técnica e a solução mais viável é sair à procura de um novo abrigo num dos poucos botecos da cidade, até chegar o dia da inauguração. Com o decreto da proibição de encontros etílicos em ambientes externos (acho que para facilitar a infecção em ambientes fechado, o refúgio do Mac Vita fica inviável.

   Ainda bem que fomos acolhidos no bar Lajinha, com as honras do anfitrião Ednei – a começar pelo álcool em gel –, para dar cabo a mais uma assembleia conjunta do Clube dos Rolas Cansadas e da Confraria d’O Berimbau. Do contrário, nos comportaríamos que nem os passarinhos perdidos após o incêndio na floresta, ou os clientes de o ABC da Noite, em Itabuna, quando o Caboclo Alencar resolve tirar férias.

   Sabedor que rondávamos o Mac Vita em busca de pouso, Valdemar Broxinha, escondido no seu recanto bucólico a fazenda Caqueiro, também conhecida como Sítio Jequitibá, pediu à esposa que nos mandasse um whatsapp com a seguinte recomendação. 

  “Reunidos no aconchego apertado do Mac Vita, comendo a mesma comida, bebendo a mesma bebida e respirando o mesmo ar. Comportamento, no mínimo irresponsável de um grupo de velhos amigos malucos. Um abraço e muita sorte pra todos”.

   Não sabia o velho Broxinha que a experiente garotada já se encontrava em outro ninho.