Bluma Hausswolf
16/07/2019 às 11:03
Reinventar-se vai além de um novo corte de cabelo. É preciso mais do que um batom vermelho. Mais do que uma nova pintura na parede do quarto. Mais do que um novo modo de se vestir.
Reinventar-se, na essência da palavra, vai além da estética. Além da saia-rodada, além da calça colorida ou dos óculos de aro preto e armação quadrada. ⠀
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Para trocar verdadeiramente de pele é necessário mudar o que vem antes da pele: lá dentro. Onde ninguém vê e poucos conseguem tocar. É necessário coragem e abandono. É necessário dor e ranger de dentes. Transformação indolor quase não existe.
Experimente jogar tinta branca no óbvio colorido. Tire os quadros todos da parede, arranque as fotos, arraste os móveis, encaixote os velhos livros: coloque o que parece essencial em segundo – em terceiro plano. Em primeiro plano, não coloque nada. Absolutamente nada. Porque às vezes é só no absoluto vazio que a clareza vem.
Feito isso, sente-se e medite profundamente. E agora? O que você precisa ser, agora? Agora que está tudo vazio, branco e em silêncio. Agora que se teve loucura ou coragem para deixar invisíveis as empoeiradas paixões; os hábitos; os vícios. Agora que você desconstruiu o seu mundo perfeito e estável, o que você sente além da insegurança natural que causa a verdadeira (eu disse verdadeira) liberdade?
Pois é partir daí, meu caro. Exatamente a partir daí: do ponto quase-zero, do livre, da amplidão, da sala vazia e ouvindo nitidamente o seu eco, que você reinventa a si mesmo.