Tasso Franco
01/06/2019 às 17:43
A Avenida Sete é a principal e múltipla de Salvador. Nenhuma outra da cidade possuiu espaços tão diversificados quanto a tal - de comércio, de serviços, de lazer, de religiosidade, de história - de tudo um pouco misturando áreas que se chamam de nobres numa cidade sem nobreza real, áreas populares, áreas mistas, num mosaico que é a cara da capital baiana.
Andar pela Sete do Farol da Barra ao São Bento é pisar na história. A cidade, em seus primórdios, quando ainda era Capitania Hereditária nasceu na atual Sete num local que se chamava Vila Velha do Pereira, hoje, Porto da Barra. E quando Thomé de Souza aqui chegou em 1549 para fundar a cidade fortaleza subiu o morro do Conselho, atual Ladeira da Barra, um dos trechos mais belos da Sete pois se contempla o mar da Baía de Todos os Santos.
Que outra avenida na cidade pode-se ter esse privilégio? O mar à sua vista no Farol da Barra, no Porto, na Ladeira da Barra, no Passeio Público, no Corredor da Vitória para quem reside nos prédios, no Campo Grande e no São Bento!
Ah! meu nobre leitor, que outra avenida tem comércio como o da Sete onde se pode comprar um molho de coentro ou um vestido para o São João? Nenhuma.
Que outra avenida sedia o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia na antiga sede do Senado? Nenhuma. Que outra avenida tem um majestoso Outeiro Grande da época de Thomé de Souza, hoje, o monumental Campo Grande?
E um convento tão belo quanto o Capuchos Menores da Piedade e um mais belo ainda no Mosteiro de São Bento? Nenhuma. Esses dois pontos eram aldeias tupinambás. Num deles vivia o mayoral Iperu onde os padres jesuitas chegaram pela primeira vez na história do Brasil.
A Avenida Sete substituiu a Avenida do Estado na época do governo JJ Seabra um dos governadores mais polêmicos da Primeira República. Seabra determinou a derrubada da Igreja de São Pedro para passar a avenida e por pouco não solapou parte do Mosteiro de São Bento. Houve uma grita geral e nesse trecho, para preservar o Mosteiro, a Sete é mais estreita do que nos outros. É uma rua cintura fina, cintura de pilão. Mais fina nesse ponto e mais larga nos outros.
O trecho entre o Convento das Mercês e o São Bento, hoje, é o maior e melhor mercado a céu aberto e a céu fechado de Salvador. Acha-se de tudo e há uma profusão de camelôs de todas idades e sexos, até estrangeiros, vendendo de uma agulha para costurar saias a relógios de ouro; de uma sandália rasteira de 10 reais a um corte de tecido de seda.
A Sete é a cidade do Salvador com a mistura de sua gente mais pobre, a gente do povo, os negros, os mulatos, os mestiços, os asiáticos, a população que mora na periferia, que mora nos guetos, que mora nos bairros populares. Tudo isso você só encontra na Sete, mais do que em qualquer outro lugar.
O Relógio de São Pedro, hoje, é uma praça de alimentação popular; a Piedade é o Senadinho dos aposentados; o Politeama é o comércio de rua mais autêntico.
Quer comer um lombo? Vá na Sete. Quer saborear um pastel chinês? Só na Sete, do autêntico. Quer presentar a namorada no dia 12 de junho com um vestido da última moda? Encontra-se na Sete. Quem fazer uma consulta popular a um oculista, de graça? Apresente-se na Sete. Quer comprar uma almofada baratinha para seu sofá? Na Sete tem de todos os modelos. Quer extrair um dente? É na Sete. Chupar mangas ou abacaxi? Na Sete tem as dúzias.
É fantástico. Tudo isso com os preços mais baratos da cidade. Não tem shopping, não tem centro comercial, nada igual a Sete. Óleo de coco babaçu pra passar nos joelhos? Tem na Sete. Cheirinho para colocar no armário e as roupas ficarem cheirosas a R$2,00 o pacote? Na Sete, junto a igreja de São Bento. veneno pra rato? Na Sete vê acha.
Comprar uma dúzia de bananas e ainda sair comendo uma delas? Na Sete tem demais. Sacolas tem de todos os tipos que você pode imaginar tem nos becos da Sete, do Maria Paz ao Mocambinho. Insensos, folhas, mandigas, tudo isso você encontra na Sete. Até roupa de vaqueiro, de couro do Sertão, tem na Sete.
Então, se você nunca andou na Avenida Sete não sabe o que é Salvador. Aproveite essas dicas e vá lá, urgente. A Avenida é centenária na cidade de quase 500 anos. Se você quiser saber mais sobre a cidade do Salvador a biblioteca do IGHB fica aberta todos os dias e as consultas a livros e jornais antigos são de graça.
Bom passeio. Boas compras.