Tasso Franco
16/05/2019 às 17:33
1. A notícia sobre a santificação da irmã Dulce pelo papa Francisco, o que era esperado há anos pelos baianos desde que a papelada exigida pelo Vaticano chegou a Roma, comoveu a comunidade católica da Bahia, especialmente de Salvador. E nós, jornalistas mais antIgos, quase todos entrevistamos a irmã Dulce, a freira de voz quase inaudível que cuidava dos pobres no Largo de Roma, no Hospital Santo Antonio.
2. Em breve, o santo de Pádua e Lisboa, de quem era devota, será seu colega no panteão dos santos da igreja católica. Santo Antonio é um santo português do século XI e a irmã Dulce, santa baiana de Salvador, do século XX.
3. A Igreja Católica tem uma história de 2019 anos embora só tenha se firmado a partir de 306 d.C. quando o imperador Constantino tornou a fé cristã a religião oficial no Império Romano. Constantino convocou e presidiu o primeiro grande encontro de bispos cristãos da história e determinou diretrizes que seriam seguidas até os nossos tempos.
4. No Concílio de Niceia, no ano 325, os chefes da Igreja não falaram muito sobre Maria, mas, ao tratarem de questões fundamentais do cristianismo. Para consolidação da igreja, construção de templos, e adoração a Maria (na época mais adorada do que Jesus) foi fundamental o papel de Élia Pulquéria, esposa do imperador Marciano, e depois imperatriz de 450 a 453 d.C.
5. Muita história até chegar a irmã Dulce. Quando cheguei de Serrinha para morar em Salvador, nos anos 1960, fui morar no bairro Machado, em Roma, e vi de perto o nascimento dessa peregrinação apostólica e de caridade da irmã Dulce. Salvador tinha outra irmã poderosa na fé, Dalva, e tantas freiras caridosas em seus abrigos e conventos.
6. Mas, nada igual a irmã Dulce. Era tão frágil que a gente sempre achava que ela iria cair. Entrevistá-la era uma arte porque falava baixinho e tinha um olhar no infinito. Não nos mirava. E com seu poder carismático ergueu a maior obra social da Bahia, com a ajuda de familiares, voluntários e governos.
7. Seu nome impunha tanto respeito que, pelo Hospital Santo Antonio transitavam do zé povinho como se fala na Bahia aos homens dos colarinhos brancos. Vários presidentes da República estiveram por lá, o mais assíduo, salvo engano, foi José Sarney. Prefeitos e governadores da Bahia, todos eles. Arcebispos e cardeias,todos eles.
8. Tinha algo assemelhado com dom Avelar Brandão Vilela, um cardeal que por aqui passou, e tinha cara de santo. Quase desmantela a arquidiocese do ponto de vista financeiro porque se dedicava tanto a pastoral, ao rebanho, que dom Lucas, adiante, teve que organizar muita coisa.
9. Hoje, fiz uma nota no Facebook falando que havia conhecido uma santa, ao vivo, o que nunca esperava em minha existência. E vários colegas de jornalismo falaram o mesmo e deram alguns depoimentos. ZédeJesusBarrêto mandou-me um artigo dizendo que beijou a mão de uma santa (vide na home) e conheceu ao vivo uma outra, a Santa Tereza de Calcutá, quando esta veio a Salvador e esteve com a venerável Dulce.
10. Também conheci o santo João Paulo, o polones da Cracóvia, que acá esteve, mas, só de longe. A santa Dulce, não. A gente (digo os jornalistas) conversava com ela, recebia mimos, era de fato uma doçura.
11. Várias cidades pelo mundo afora cultuam seus santos: Portugal e Pádua, Santo Antonio; Assis, na Itália, praticamente tem sua economia girando no turismo em torno de São Francisco de Assis; o México tem um santuário de NS de Guadalupe que recebe 20 milhões de turistas ao ano; Valencia, na Espanha, cultua San Vicente Ferrer, há 600 anos; Paris, santa Madalena e outros; Roma, São Pedro e Santa Maria Magliore; a Catalunha, Saint Jordi (São Jorge) e por aí vai.
12. Salvador recebe esse presente e essa oportunidade de incrementar o turismo religioso para sempre, de forma organizada e profissional. Em Lisboa, qualquer casa de souvenir, loja de variedades, livrarias, cafeterias, etc, tem é coisa de Santo Antonio.
13. Em breve , o papa Francisco estará dando um presente a Salvador, o mais venerável e desejado de sua história cristã católica.