SALVADOR 469 ANOS: Aberrações que Câmara de Vereadores deveria reparar

Tasso Franco
05/05/2018 às 11:25
Para fechar o ciclo de crônicas sobre os 469 anos de fundação da cidade do Salvador, com obras iniciadas em maio de 1549 e concluidas em sua primeira etapa em 1º de novembro desse mesmo ano, quando, finalmente, o governador Geral, Thomé de Souza fez seu primeiro despacho na Câmara, hoje, vamos abordar sobre o tema reparação. Existem três aberrações em Salvador que ncessitam de reparações na Câmara de Vereadores.

   A primeira delas diz respeito ao retorno do nome original da primeira rua da cidade fortaleza, a Direita do Palácio, usurpada há 116 anos para o nome de Rua Chile; a segunda é devolver a Santo Antônio, padroeiro original da cidade, o seu trono de padroeiro destituindo por São Francisco Xavier; e a terceira é retirar o nome do escravocata José de Alencar do Largo do Pelourinho.

   Ora, quando Salvador foi fundada o mestre de pedraria Luis Dias seguiu a planta trazida de Lisboa e estabeleceu-se no centro da fortaleza uma praça com Palácio, Câmara, Cadeia e Relação, adiante a Santa Casa da Misericórdia e oito ruas - Ajuda, Capitães, Tira Chapéu, Berquó, Vassouraas, Tijolo, e duas delas margeando o palácio nas linhas Norte e Sul, a Norte chamada de Misericórdia termiando na porta de Santa Catarina; e a Sul, Rua Portas de Santa Luzia, ou Direita do Palácio (este o nome consagrado), terminando na porta de São Luzia, na altura da hoje praça Castro Alves. 

   Essa rua era também conhecida como dos Mercadores (de pessoas que mercavam produtos de comer e beber - peixes, caças, cereais, vinhos, bolos,  pamonhas, pães, entre outros.

   No livro do pesquiador Nelson Cadena "A Cidade da Bahia" ele lembra que, em 1902, a principal rua da cidade passou a se chamar Chile graças a um loby de acadêmicos da Faculdade de Medicina, "muito bem relacionados com a sociedade e a midia que se envolveram em uma 'cruzada' todos os jornais e o comércio (faturou com chapéus Chile) quando a Câmara de Vereadores acatou a sugestão de mudar o nome em homenagem a visita de uma esquadra da Marinha do Chile a Salvador.

   Está, portanto, na hora da Câmara fazer a repração e devolver a rua mais antiga do país numa capital o seu nome de Rua Direita do Palácio ou a mais original Rua Portas de Santa Luzia.

   SANTO ANTÔNIO PADROEIRO 
   DE DIREITO E DE FÉ

   O caso de Santo Antônio é ainda mais emblemático uma vez que o atual padroeiro, São Francisco Xavier, o apósto jesuita do Oriente, não tem nenhuma relação de fé e proximidade com a população de Salvador, ao contrário do querido Santo Antônio o padroeiro original.

   A história conta que na época do 3º bispo do Brasil, Dom Antônio Barreiros, o qual aportou em Salvador no ano de 1576 para substituir Dom Pedro Leitão, falecido, sendo governador Dom Francisco de Souza, se achou uma imagem de Santo Antônio que uma das naus da armada de Aroxela invasora da Costa da África lançara ao mar e naufragara na capitania de Sergipe Del Rey, desroçada. Os sobreviventes foram presos e enviados a Bahia, a pé. Na altura de Itapuã se depararam com a imagem de Santo Antônio na areia.

   Essa imagem foi levada ao bispo que a recolheu em solene procissão no Convento de São Franciscco da Bahia no qual ficou alguns anos. Segundo "Noticia Geral da Capitania", por José Antonio Caldas, "para que não acabasse a memória do milagre, se fez outra imagem em lugar da primeira que por estar muito maltratada no tempo e das feridas por decência se enterrou".

   No dia 23 de agosto de 1595, a imagem foi conduzida para o Convento de São Francisco, "com maior pompa e solene assistência de representantes da Câmara e do Cabido, como consta da ordem do governador do estado, Rodrigo da Costa".
 
   Em 'Memórias Históricas da Provincia da Bahia', volume IV, página 129, Inácio Aciolly de Cerqueira revela que Santo Antônio foi o primeiro padroeiro da cidade do Salvador e tinha soldo de praça de soldado intertenido, na Fortaleza de Santo Antônio da Barra, padroado estabelecido em reunião da Câmara dos Vereadores datada de 20 de novembro de 1645.

    E COMO FOI QUE SANTO ANTÔNIO PERDEU A CONDIÇÃO 
    DE PADROEIRO PARA SÃO FRANCISCO XAVIER?
 
   No ano de 1685 houve um surto de febre amarela na população da cidade do Salvador, uma localidade suja, sem saneamento básico, pipas de cocô ainda sendo lançadas ao mar da praia da Preguiça, acontecendo muitas mortes.
 
   A Companhia de Jesus (jesuitas) que era a comunidade religiosa mais poderosa da cidade fez uma campanha em suas missas solicitando que a população implorasse a São Francisco Xavier, este morto na China, Sanchoão, 1552, por 'cólera morbus', para que intercedesse junto aos céus e livrasse a cidade da peste. O santo teria atendido ao pedido.
 
   Na verdade, o governo da época, Antonio Luis Telo de Meneses, o Marques das Minas, adotou algumas medidas saneadoras e as mortes dimuniram e depois cessaram.
 
   Os jesuitas, sempre oportunistas, encabeçaram um movimento popular e pressionaram o Senado da Câmara para que São Francisco Xavier fosse declarado padroeiro da cidade, o que aconteceu por bula papal de 10 de maio de 1686.
 
   A população até hoje, nunca comemorou essa data, que se resume a uma procissão mixórdia realizada por vereadores entre a Câmara e a Catedral Jesuitica da Sé onde existe uma imagem de São Francisco Xavier, com apenas a parte do tronco e da cabeça.
 
   E quem é esse tal de São Francisco Xabier?
 
   Nasceu na Espanha, Navarra (hoje, área do país Basco), no castelo de uma das familias mais aristrocratas da localidade, no ano de 1506, e foi batizado com o nome de Francisco de Jasso Azpilcueta Atondo y Azanáres. 
 
   Era o filho mais novo de Juan de Jasso, ministro das Finanças da Corte de Dom João III, de Navarra, e de Maria Azpilcueta, senhora dos palácios e vilas de Azpilcueta e Xavier.
 
   Daí vem seu nome Francisco de Xavier (e não Francisco Xavier), originário dessas terras. Francisco, no entanto, desempenhou seu padroado em território português.
 
   Em 15 de agosto de 1534, Inácio de Loyola, Francisco Xavier (grafia em português), Pedro Fabro, Alfonso Salmeron, Diego Laynez, Nicolau Bobedilla e Simão Rodrigues, fizeram votos de castidade na capela de Saint-Denis, Montemart, Paris, colocando-se a disposição do papa para onde houver necessidade e fundaram (ainda sem saber) a Companhia de Jesus, congregação religiosa destinada ao ensino, à conversão e à caridade.
 
   O reconhecimento papal aconteceu em 1541. Em 24 de junho de 1537, Francisco de Xavier é ordenado padre. Exerceu seu padroado no Oriente, especialmente na Índia e no Japão, depois na China, onde morreu. Seu restos mortais se encontram em Goa, na Basílica de Bom Jesus de Goa, Índia. 
 
   Éconsiderado o apóstolo do Oriente e a igreja católica considera que tenha convertido mais pessoas ao cristianismo do que qualquer outra.
 
   Em resumo essa é a história de São Francisco de Xavier (em espanhol) ou São Francisco Xavier (aportuguesado) e não tem nenhuma relação com a cidade do Salvador.
 
   SANTO ANTÔNIO E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE
   E SUA POPULAÇÃO
 
   Uma relação enorme com a cidade e sua gente. O bairro da Mouraria (dos mouros) nasceu sob a égipe de Santo Antônio da Mouraria e lá existe uma igreja belissima desde o século XVII. O Santo Antonio Além do Carmo também floresceu graças aos devotos do santos que já não cabiam na Mouraria e no centro antigo, e lá tem outra igreja e devotos do santo.
 
   O Convento de São Francisco - faz referência a São Francisco de Assis, contemporâneo do peregrino Antônio, nascido em Lisboa, no século XII (Fernando de Bulhões, o santo Antonio nasceu em Lisbo no dia 15 de agosto de 1195). 
 
   O Santo Antônio da Barra tem toda sua história ligada a cidade do Salvador desde a época da existência do Caminho do Conselho (hoje, Ladeira da Barra).
 
   Só isso aí já justificaria retornar Santo Antônio como padroeiro da cidade, patrono do Afoxé Filhos de Gandhy, santo do pãozinho, dos pobres, dos ricos e das donzelas.
   Além do mais é um santo popular, casamenteiro, querido, amado, reverenciado. 

   POR FIM TEMOS A PRAÇA DO PELOURINHO
   NÃO PODE TER O NOME DE UM ESCRAVOPCATA

   A outra aberração é a Praça do Pelourinho chamar-se José de Alencar um grande escritor, porém, escravocata. É notável como escritor por ter sido o fundador do romance de temática nacional, e por ser o patrono da cadeira fundada por Machado de Assis na Academia Brasileira de Letras. Na carreira política, foi notória a sua tenaz defesa da escravidão no Brasil quando ministro da Justiça do segundo reinado

   Como então, uma praça que representa o símbolo anti-escravocrata tem o nome de um defensor da escravidão? Mude-se logo este nome (TF)