OFEREÇO aos leitores “As origens do politicamente correto“. [clique para ler]
Trata-se de tradução, inédita em língua portuguesa, de um capítulo do livro Literature Lost: Social Agendas and the Corruption of the Humanities, publicado nos Estados Unidos da América (U.S.) em 1997, pela Yale University Press.
A fiz por conta própria nas horas vagas em meus tempos de visiting scholar na NYU (New York University), como doutorando em 1999. Morava em Manhattan pré 11 de Setembro de 2001, quando a partir de então tudo mudou.
Ao informar ao meu supervisor George Yúdice, expert em multiculturalismo e acadêmico de proa da NYU àquela altura, ele fez restrições ao autor do texto.
John Ellis é tido como neoconservador no mundinho dos intelectuais liberais – os chamados politicamente corretos que ele, Ellis, ataca. Recentemente enviei-lhe um e-mail informando a intenção de divulgar aquele capítulo.
Donald Trump, durante a campanha eleitoral que o elegeu presidente dos U.S., e mesmo agora em seus primeiros dias de mandato, entendeu o contexto.
Quem o elegeu foi a gente comum. Os trabalhadores e as famílias que vivem no mundo real, opaco, desglamourizado, sem plumas ou paetês. À distância do circuito bacana de seminários e conferências de reengenharia político-social dos letrados.
Gente que enfrenta as dificuldades da labuta cotidiana, a violência e o desemprego, seus eleitores são os tidos por “alienados”, “subalternos”, “oprimidos” – por aqueles que se orientam pelo receituário supostamente “progressista” da correção política.trump
O povo comum, não o establishment acadêmico, o show bussiness, os conglomerados midiáticos etc.- elegeu Trump porque não se vê representado por esses “libertários”. Auto-estimados por si mesmos como redentores iluminados da revolução cultural de gênero, de classe e de raça (ou etnia, o termo mais doce).
O texto de Ellis aqui traduzido tem de ser lido sem pressa, com mente aberta e informada. Ao analisar e interpretar as reflexões propostas, vislumbra-se uma chave para entender como o discurso das ditas “pessoas do bem”, que sequestraram as áreas das Ciências Sociais e Humanas nas Universidades mundo afora, tem provocado danos.
Comparadas ao rigor das Exatas e Biomédicas, por exemplo, nas Humanidades tudo tem se tornado relativo. Em consequência, todos os enunciados – mesmo os mais silogísticos – querem se validar como verdade. Ai de quem os contradiga: será exposto e moralmente fuzilado.
Em geral por má fé ou falta de experiência da vida (que naturalmente é duríssima), os politicamente corretos agem em matilhas, tentando acuar e chantagear quem se lhes oponha com a razão lógica.
Seus urros e arroubos levam ao acovardamento dos que poderiam lhes dizer:
Pera lá! Menos, crianças mimadas! O Universo não nasceu contigo e a roda não pode ser reinventada!
Contudo o que se observa comumente é a submissão, o discurso fácil dos que aderem por pura insegurança própria ou outras carências ao borbulhar estridente dos ressentidos. Aliás, não é mesmo o rancor dos ressentidos o motor principal das revoluções – e não exatamente suas ideias geralmente insubstanciosas?
O cacoete de linguagem mais utilizado pelos sacerdotes dessas seitas é que tudo depende “do lugar de fala” de cada um.
Assim a ascensão da “verdade” dos politicamente corretos, se de início legítima, transformou-se em dogma de fanáticos.
Impõe-se uma nova seita, a ditadura do relativismo, como já nos alertou em seu debate sobre Fé e Razão com Habbermas , o teólogo Joseph Ratzinger, depois tornado Papa Bento XVI.
JOSÉ ORTEGA Y GASSET (1883-1955) ao refletir sobre as consequências do populismo que produz lideranças carismáticas e demagógicas nas sociedades modernas, alertava para a emergência de um fenômeno típico de nossa era: a força política do “homem-massa”:
“É o homem previamente esvaziado de sua própria história, sem entranhas de passado e, por isso mesmo, dócil a todas as disciplinas chamadas “internacionais” (…) só tem apetites, pensa que só tem direitos e não acha que tem obrigações: é um homem sem obrigações de nobreza.”
Democracias republicanas, principalmente Estados Unidos da América (U.S.) e parte da Europa, gestaram no decorrer do recente meio século correntes de opinião que, em reação ao passado de opressão patriarcal que vitimou grandes estratos da população, hoje trocaram os sinais.
Os politicamente corretos de agora buscam substituir aquele passado ignaro por um presente que mimetiza o mesmo padrão de ignomínia aos dissidentes.
Querem enfiar sua agenda como o modelo único de correção política, como se existisse algo de novo nos mais de 40 mil anos de existência da espécie humana, que sobreviveu até aqui numa longa jornada de tentativas e erros.
Segundo um padrão adaptativo já denotado por empiristas como Darwin ou Freud se situar para além dos propósitos do mero discurso político.ortega-y-gasset
A recente vitória eleitoral que entregou ao outsider Donald Trump o posto de liderança mundial mais cobiçado, parece ser uma resposta do zé-povinho àqueles que o desdenha e tentam tutelá-lo com propósitos mirabolantes e exóticos.
Podemos não apoiar as ideias do eleito, até por preconceito. Mas está legitimada. Ainda que ele, em excesso de tresloucada insanidade – tendência possível à sua personalidade ególatra -, venha por tudo a perder..