Fernando Conceição
26/05/2016 às 11:15
PALMAS PARA José Serra, senador do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira). Por seu discurso no qual apresenta as diretrizes [clique] para a política de Relações Exteriores do novo governo pós impeachment que afastou (temporariamente?) do poder central o Partido dos Trabalhadores (PT) aí instalado nos últimos treze anos.
Ao contrário desse escrevinhador, Celso Amorim vaia Serra em artigo na Folha de S. Paulo. Um dos perseguidos e exilados pela ditadura militar de 1964, José Serra tem estofo e sabe falar grosso quando necessário.
Amorim é o diplomata de carreira que, sob a batuta petista, durante grande parte do governo Lula de 2003 para cá comandou o Itamaraty – ministério responsável pelas políticas de relações internacionais do Brasil. Em parceria com o desastrado “assessor especial” Marco Aurélio Garcia.
Celso Amorim conheci-o pessoalmente em uma audiência em seu gabinete na representação brasileira na sede das Nações Unidas em Nova York, em 1999, quando ali estava como visiting scholar da New York University(NYU).
Foi a mulher de Amorim que tinha-me arranjado o encontro, depois de me ouvir falar em uma conferência organizada por um centro de estudos brasileiros na Columbia University. Da qual também participou, se não confundo as bolas, o futuro ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, visiting scholar da Columbia. Falarei disso mais abaixo.
Garcia é professor universitário aposentando, ex-presidente do PT. Sob sua batuta o Brasil apoiou ditaduras e títeres vários, a exemplo de dinastias na África (Angola, Guiné Equatorial…),dos Castros em Cuba, e do populismo tosco da Venezuela, Argentina etc. Incensou gente como Mahmoud Ahmadinejad, que propunha “varrer” Israel do mapa mundi e chegava a afirmar em público ser o Irã um país sem a existência de homossexuais.
Garcia também ganhou fama por simbolizar, em um gesto obsceno de desprezo para com as vítimas, a arrogância lulopetista em seu projeto criminoso de poder, durante a chamada crise da aviação aérea (veja flagrante no vídeo acima). Cujo fato mais emblemático foi o desastre com o airbus da TAM em 17 de julho de 2007, no aeroporto de Congonhas (SP), quando morreram 199 pessoas, a maior tragédia até agora da aviação no país. [Saiba mais].
Megalômana, a política internacional lulopetista pretensamente quis liderar, juntamente com a Turquia, um tal acordo de contenção do desenvolvimento da bomba atômica pelo Irã em 2010.
Há hoje mais embaixadas e consulados do Brasil do que da Grã-Bretanha, império colonial com fortes interesses comerciais na região, no continente africano. Foi como abrir a torto e a direito campi universitários aqui e ali, sem planejamento ou orçamento de longo prazos.
Isso tudo, se resulta em irresponsabilidade administrativa, traz dividendos eleitoreiros, na medida em que se formou em torno do lulismo uma clientela acrítica aos desmandos, à roubalheira e à corrupção que se aperfeiçoou na máquina do Estado nesses dez anos e poucos.
A “inclusão” dos historicamente excluídos mostra-se uma equação de soma zero, vez que esses são os mais prejudicados pela difícil conjuntura que atingiu o país.
O Brasil não paga conta de luz, água, aluguel ou mesmo sua anuidade como membro das Nações Unidas. Mas Lula, que se tornou lobista de empreiteiras na África e na América Latina, vendeu a imagem de que somos mais protagonistas que os Estados Unidos da América no cenário mundial.
“Emprestou” dinheiro a fundo perdido a ditadores africanos e latinoamericanos, com enormes prejuízos aos cofres públicos brasileiros. Quando Evo Morales chegou ao poder na Bolívia em 2006, suas tropas invadiram e ocuparam instalações das refinarias da Petrobras naquele país. Investimentos da ordem de 1,5 bilhão de dólares feitos pela estatal foram entregues, de graça, ao país vizinho, em nome do alinhamento ideológico dos sócios do chamado Foro São Paulo.
Atabalhoada, em setembro de 2014 Dilma Rousseff, depois de falar em Assembleia das Nações Unidas como presidente do Brasil, defendeu que as nações ali representadas tinham de estabelecer o “diálogo” pacífico com grupos que estão em jihad (guerra santa) contra o Ocidente – como eles mesmo dizem em suas plataformas -, como o ISIS (Estado Islâmico no Iraque e no Levante).
TENHO POR MÉTODO, seja nas vezes em que me instalei por longos períodos de estudos e pesquisas, seja para tarefas profissionais mais rápidas, contatar as chefias das embaixadas ou consulados gerais do Brasil dos países que me recebem.
O fiz desde aquele tempo nos Estados Unidos, Nova York, quando Celso Amorim, embaixador na ONU (UN), me recebeu. A audiência foi precedida de encontro prévio com o embaixador Paulo Cordeiro que, a mando de Amorim, quis saber sobre a minha demanda.
À época (veja vídeo abaixo) mergulhado até o pescoço com a causa do MPR – Movimento pelas Reparações dos Afrodescendentes no Brasil -, na conferência na Columbia University, para desacordo de Joaquim Barbosa, eu cogitei da abertura de uma ação em instância judicante internacional para obrigar o Brasil a reconhecer sua dívida para com os afrobrasileiros, a fim de indenizá-los monetária e politicamente pelos males e genocídio praticados no país durante e após a escravidão (1530-1888).
Amorim desconversou quando pedi apoio à causa. Como “advogado” do país, servindo a Fernando Henrique Cardoso (PSDB), recomendava que eu batesse à porta de alguma corte internacional de justiça por conta própria. Fôlego para tal o MPR não teve.
Desse contato nasceu um relacionamento o quanto possível próximo com o embaixador Paulo Cordeiro e esposa, ambos baianos. Na residência que mantinham em Manhattan fui uma vez convidado a almoço com colegas diplomatas de ambos, o que me inspirou (disso eles não sabem) a escrever um texto para teatro nominado O Sol Antes de Sua Trajetória, ainda inédito.
Transferido para o México, antes de se tornar embaixador no Canadá, Paulo Cordeiro foi quem indicou à Unam (Universidade Nacional Autónoma do Mexico) meu nome como pesquisador brasileiro a uma conferência internacional em 2004.
Essa experiência mudaria minha vida para sempre (disso o casal também não sabe). Posto que ali, na antevéspera do regresso ao Brasil, conheci uma jovem e bela estudante de medicina natural de Hamburgo (Alemanha), em atividade voluntária e já de partida a seu país no dia seguinte.
Anos depois em sua companhia, com ela fui a Praga, a Caracas, Trinidad & Tobago, a Varsóvia, Istambul, Viena etc. Depois residi um ano em Berlin, tempo em que Roberto Regueira, assessor de imprensa da embaixada do Brasil, tornou-se meu chapa.
Épocas seguintes, sozinho ou em nova doce companhia, estive de volta a Nova York, estabelecendo laços com funcionários do consulado geral do Brasil. E na Tanzania, cujo embaixador ofereceu-nos um jantar em Dar-Es Salaam. Ou Tokyo (Japão), ou em Paris, ou em Lisboa e por aí afora…
Nesses lugares todos fui recebido e mantive proximidade com o serviço diplomático que, na maioria dos casos, foi bastante útil às minhas tarefas de estudante, pesquisador, jornalista.
NOS RECENTES anos, por onde andei, o que ouvi foi queixas dos diplomatas e servidores terceirizados, vivendo à míngua e desprestigiados, realizando greves e paralisações diversas por salários atrasados, congelados, ou sucateamento dos serviços.
Serra já solicitou a liberação junto aos seus pares dos ministérios do Planejamento e da Fazenda cerca R$ 800 milhões emergenciais para começar a pagar as dívidas acumuladas pelo descalabro da gestão lulopetista no setor. O corpo diplomático profissional deve estar otimista com o novo governo de Michel Temer.
É torcer que a política de centro-direita seja mais pragmática aos interesses do Brasil – econômicos, estratégicos e geopolíticos -, mais assertiva e menos dúbia que a era demagógico-populista de Amorim e Garcia. Quando a chancelaria de Israel taxou-nos de “anão diplomático”.