Samuelita Santana
24/09/2014 às 13:42
"Não temos mais ilusões em relação ao governo, mas temos fé em nós mesmos. E estamos dispostos a pagar o preço da democracia."
Essa frase, dita ontem pelo jovem chinês Alex Chow, da Federação de Estudantes de Hong Kong, me golpeou. Cá com meus botões brasileiros, fiquei refletindo sobre a greve dos milhares de estudantes de Hong Kong que invadiram as ruas em protesto contra a decisão de Pequim de limitar as reformas eleitorais. As imagens estampadas na mídia hoje impressionaram pela força da manifestação.
A luta dos universitários de Hong Kong é pela democracia, pela legítima representatividade política. Fiquei me perguntando onde foi parar a força dos movimentos estudantis e sindicais brasileiros que mudos estão diante desse desmoralizante mar de corrupção que invade e desestrutura o país, que movimenta milhões desviados dos cofres públicos diretamente para os bolsos de bandidos disfarçados de políticos e executivos, dessa falta de investimento e prioridade com a educação que faz o país perder posições e escancarar os piores indicadores de desenvolvimento educacional, dessa lapidação com o patrimônio público, a exemplo da Petrobras, assaltada vergonhosamente por grupos e partidos que comandam ou "coalizam" com o governo, dessa assombrosa incapacidade de gerir e fazer o país, de fato, tornar-se competitivo, fortalecer sua economia e crescer.
Cadê todo mundo????
Minhas divagações foram coincidentemente parar entre as linhas do artigo de Eliane Cantanhêde, publicado dia 22 e batizado de "Silêncio ensurdecedor".
O raciocínio da jornalista botou mais lenha na minha inflamada fogueira: Segundo ela, com esse papo de direita e esquerda (ah! esse retrógrado papo de esquerda, direita, volver!), o PT conseguiu esconder uma triste realidade: a de que os movimentos sociais sumiram das ruas. E segue: A UNE virou puxa-saco do poder, a CUT não pega mais nos microfones e até o MST deitou na rede esperando a alternância do governo pra voltar a infernizar.
Vale lembrar que, na oposição, o PT mobilizava as forças de pressão que hoje - diante da bagaceira política e administrativa que só não enxerga os que não querem ver -, perderam a capacidade de se indignar, pelo preocupante desejo de não querer largar o osso do poder.
E, no caso das centrais sindicais, aqui a observação é minha, o silêncio ensurdecedor passa pela não abdicação das bene$$es proporcionadas pelo governo petista, em volumes nunca antes visto na história desse país. Como lamentou Cantanhêde, saudades da indignação produtiva, das pressões legítimas, dos jovens críticos, não cooptáveis, como os universitários de Hong Kong que perderam as ilusões no governo, mas não perderam a fé em si mesmo. E por isso lutam, se manifestam. E se mostram dispostos a pagar o preço da democracia.