JESUÍTAS foram os primeiros missionários em Salvador

Tasso Franco
14/03/2013 às 16:52
 A eleição do cardeal argentino Jorge Mário Bergoglio como papa Francisco I, o primeiro religioso da Companhia de Jesus a ser consagrado sumo pontífice tem um significado muito interessante para a cidade do Salvador, do ponto de vista histórico, pois, os primeiros padres que chegaram a Bahia na colonização portuguesa a partir de Tomé de Souza, primeiro governador geral do Brasil, em 1549, foram jesuítas comandados pelo padre Manoel da Nóbrega.

   Eram todos jovens. A Companhia de Jesus nasceu na Universidade de Paris através de um grupo de estudos organizado por um basco Iñigo López Loyola (Ignácio de Loyola), em 1534, e reconhecida por Bula Papa em 1540. Portanto, apenas 9 anos depois de fundada embarcou para a Bahia 6 padres.

   Com Nóbrega vieram os padres João Azpilcueta Navarro, Francisco Pires, Luis de Grã e Antonio Blasquez e irmão João Gonçalves considerados os primeiros missionários das aldeias tupinambás existentes no território da inicial Salvador, cidade que começou a ser construída como fortaleza pelo mestre de obras Luiz Dias, a partir de maio de 1549. 

   Já com as primeiras ruas traçadas no quadrilátero da fortaleza, Manoel da Nóbrega realizou a primeira procissão de Corpus Christi (corpo do Senhor) nesse arruado, tendo à frente com a cruz processual o governador Tomé de Souza, os religiosos, alguns portugueses que vieram na esquadra e tupinambás, estes últimos mais olhando do que participando, isso em junho de 1549, na igreja de palha de Nossa Senhora da Ajuda. 

   É o evento religioso mais antigo do país, salvo melhor juizo, e completa 464 anos de existência initerrupta.

   O território onde hoje é Salvador não existia uma grande aldeia ou uma Nação Tupinambá com um comando único, um cacique geral (os chefes eram chamados de Mayorais) e sim várias aldeias, cada uma delas com seu Mayoral e identidade própria. Às vezes, grupos de aldeias entravam em conflito, em luta armada, na disputa de melhores áreas por água e comida. 

   Os tupinambás ficavam nos altiplanos, nunca à beira mar, e pescavam mais nos rios donde também bebiam da água. Eram bastante primitivos. A léguas de distância em cultura dos mayas, dos incas e dos nativos das cordilheiras dos Andes, que trabalham com metais Ac.

   São raríssimas as aldeias que se sabem os nomes tupinambás, pois, os padres, na evangelização e catequese, colocavam nomes de santos e outros relacionados a igreja católica. 

   Onde se situa o Carmo havia a aldeia do Monte Calvário; onde está o atual Convento de São Bento, a aldeia de São Sebastião, do mayoral Ipuru (Tubarão); no São Pedro e Passeio Público, a aldeia de Simão; aldeia do Rio Vermelho (Tamanduaré, depois São Lourenço); aldeia de Paripe; aldeia de Abrantes; aldeia de São Tomé (Paripe); da Piedade e assim por diante.

   A medida em que a cidade foi crescendo e extrapolando os muros originais das portas Norte (Misericórdia) e Sul (São Bento - o convento foi erguido no local da aldeia e os tupinambás se transferiram para a Piedade) os nativos foram para as áreas hoje do subúrbio e do Litoral Norte, na direção de Abrantes.

   Os jesuitas eram obstinados, destemidos, e mesmo alguns desses tupinambás sendo antropófagos (comiam literalmente uns aos outros e estrangeiros, carne crua ou na brasa) pouparam os padres que transitavam pelas aldeias e dormiam nelas em algumas ocasiões.

   Os jesuitas ergueram o Colégio Jesuíta onde é hoje a Praça da Sé e a Catedral Basílica, templo inclusive que tem a imagem de Santo Ignácio de Loyola, no frontispício) e eram donos de terras, monumentos e sesmarias até que o Marques de Pombal os expulsou de Portugal e das colônias, inclusive o Brasil, com o processo dos Távoras, no século XVIII (1756), classificando-os de gananciosos.

   E o que dizer do padre Antonio Vieira que chegou a Bahia em 1609 para trabalhar no Tribunal da Relação, se tornou um grande escritor e orador sacro, salvou-se da Inquisição, e presenciou a invasão holandesa de 1625 da sacristia da catedral. Hoje, está ai o Colégipo Antonio Vieira, um dos marcos jesuitas na cidade.

   Vale também lembrar que Diogo Álvares, o Caramuru, ergeu a capela da Graça (N.S. da Graça), em 1529, onde hoje se encontra, neste bairro, sob inspiração jesuítica, tanto que está sepultado na catedral basílica de Salvador. 

   Sabe Deus, como após a sua morte, os beneditinos conseguiram convencer a viúva Catarina Paraguaçu a doar a sesmaria da Graça/Chame Chame (Rio dos Seixos) aos beneditinos, onde está sepultada. 

   Veja que curioso: Caramuru, jesuíta, sepultado na catedral; Catarina, "beneditina", sepultada na Igreja da Graça, que é um mosteiro beneditino.

   Pra fechar, dom Pedro (Pero) Fernandes Sardinha o primeiro bispo só chegou a Salvador para instalar a Diocese em 1552 (Bula Super Specula Militantes Ecclesiae, do Papa Júlio III)  e era da linha duríssima (provavelmente jesuita porque formado em Paris) brigando logo com Nóbrega, o qual achava complacente com os tupinambás (pessoas sem alma).
 E, tanto fez, tanto brigou, já com o filho do segundo governador Duarte da Costa, o qual considerava um depravado (comedor não literal de tupinambás e outras), que Costa pediu ao rei sua substituição.

   Como a igreja andava de mãos dadas com  a Corte, lá se foram Dom Pedro Sardinha e mais 100 portugueses de volta a Lisboa, na nau Nossa Senhora da Ajuda. Um temporal na costa de Alagoas destruiu o barco na foz do Rio Cururipe, isso em junho de 1556. Quem escapou da morte no mar, morreu no tacapé dos ferrozes Caetés, inclusive o bispo que foi assado. 
   
   Teria sido, pela quantidade de brancos, o maior banquete já realizado pelos Caetés.
 
   Para o lugar de Sardinha veio dom Pedro Leitão. E o povo, insuflado pelo filho de Duarte da Costa, ainda gozou: sai Sardinha e chega Leitão. Esse segundo bispo, natural de Beja, Portugal, morreu em Salvador, em 1573.

   * Pois, dito assim, esses personagens são esquecidos da Cidade do Salvador, em sua maioria.