POÉTICA MUSICAL DÁ LUGAR A ESTÉTICA E AO BUM-BUM

Tasso Franco
11/03/2011 às 13:01
Foto: Manu Dias
Os blocos afro têm longas composições que são cantadas apenas em seus guetos
   Estamos atravessando o Carnaval de Salvador 2011 como um dos mais fracos em termos de poética musical, a ponto da música do Leva Nóiz (Liga na Justiça) ser considerada a mais cantada e louvada pela mídia, uma paródia da Mulher Maravilha e Superman que até Luciano Hulck ficou assutado, no Caldeirão, ao dar uma colher de chá ao grupo na TV Globo.

  As grandes estrelas e astros da Axé Música não conseguiram emplacar composições do verão/Carnaval a ponto de emplogar a população, e Ivete Sangalo ainda se torna mais querida junto ao público quando executa a música que exalta os feitos de Dalila. Bell, da Chiclete, que sempre comove com novas composições, neste ano, um fiasco.
E, Durval Lélis, escapou por pouco com sua reciclável música, mas, ninguém canta como na época da manivela e outras.

  Os blocos de pagode são uma lástima. Diz-se que fazem música para o povão e tome gêneros de duplo sentido e músicas que são mais refrões isolados de algum contexto que ficam sendo repisados para o público, numa massificação permanente junto ao folião, caso de "Pra Frente, pra frente" do Parangolé; e dos gritos sonorizados de Márcio Vitor, do Psirico.

  Ora, o povão, admite-se, também gosta de poesia, gosta do que é bom e mexe com seus sentimentos e não pode ficar o tempo todo engolindo essas bobagens sonorizadas e fazendo patacoadas com o corpo. Está se valorizando muito a estética lúdico-sexual com cabeça, bumbum, coxões e por aí segue.

  Os grandes compositores carnavalescos da Bahia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gerônimo, Luis Caldas, Carlinhos Brown, desta feita se retrairam. Gil está repetindo seus velhos sucessos, Brown não contemplou Daniela Mercury com uma de suas canções, Caetano Veloso está torcendo pela Mangueira, no Rio de Janeiro, e Luis Caldas, injuriado com a organização oficial do Carnaval canta velhos temas da axé.

  Os blocos afro que poderiam ocupar espaços nesse universos se perdem com composições longas demais, fechadas em seus guetos, e só fazem sucesso, e veja lá, no público de suas próprias entidades. Ninguém canta as músicas do Malê Debalê, Olodum, Ilê Aiyê, Muzenza e outros por isso. Além do que, como têm menos espaços na midia sofrem mais para emplacar suas músicas.

  Até cantores como Tonho Matéria e Jauperi, mais populares, sofrem com isso. Tatau do Araketu sumiu a garota que o substituiu na banda, Clarissa, apenas é regular. Motumbá despareceu depois de estrondoso sucesso. Aline Rosa que era uma esperança e despontou bem, em 2010, está perdida neste Carnaval diante da desorganização do Cheiro. E, Claudia Leitte, que poderia estourar com alguma música está valorizando mais a estética do que a poética.

  É isso: pobreza musical apesar de grandes músicos, excelentes bandas e intérpretes admiráveis. Neste 2011, o grande palco que é o Carnaval de Salvador, espelho, matriz do que pode acontecer durante todo o ano, perdeu seu brilho
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