CARNAVAL VIRA SHOWZÃO DE MARKETING A PRODUTOS,

Tasso Franco
02/03/2011 às 12:01
Foto: BJÁ
Camarotes montados em Ondina com decorações especiais e marcas de produtos
   A cidade do Salvador fervilha de "Dendês no Sangue", produtores, artistas, espertalhões, lobistas, promotores, empresários e outros que só amam a capital baiana na época do Carnaval. Passada a festa, na quarta-feira de cinzas, antes que o cardeal Majella unte os santos óleos nos fiéis já foram embora. Já afivelaram as malas, alguns com muito dinheiro dentro delas, e retornaram ao Sul Maravilha, prometendo, em juras de amor, reviver a amante em 2012.


    O Carnaval começa hoje, no circuito alternativo Sérgio Bezerra, na Barra, com desfile de bandas de sopro para a baianada que não curte e nem bajula os "Dendês" e vive noutra dimensão, na real. Que bom que ainda existam baianos assim, da boa têmpora, que preservam tradições e vêem a evolução carnavalesca camarotizada, hollywoodiana com bastante desconfiança. É tanto marketing que ninguém sabe mais o que é Carnaval e são produtos.


   Todo movimento carnavalesco de Salvador gira em torno de investimentos, dinheiro, capilé, contratos milionários e outros menores, marcas, neons, grifes, estilistas e por aí segue com a perda da espontaneidade, da folia, da música. Enfim, se tornou um grande espetáculo, um showzão onde quem mais brilham são aqueles (as) mais estruturados (as) em produtoras e assim por diante. Vai longe o tempo em que uma música como a do compositor Gerônimo (Toda Cidade é de Oxum) encanta a cidade.


   Até mesmo as grandes estrelas e astros da Axé Música Baiana empacotaram seus prováveis sucessos em acordes musicais produtos de venda que, salvo melhor juízo e sem criatividade, deram espaços a algo pior que são as composições dos pagodeiros distritais com suas letras escrachadas e que também encerram conceitos marketizados, como a atual mulher maravilha que foge, o que é possível trocar uma letra desta palavra para sonorizar de outra maneira.


   Diz-se que essa evolução do Carnaval de Salvador não tem retorno para algo mais espontâneo porque o mercado é quem dita às regras, e por trás de toda essa estrutura, há os meios de comunicação, especialmente as emissoras de televisão, que faturam alto e tem no filão momesco, uma oportunidade de refogar seus caixas.

   E aí não adianta ficar falando em apartheid social e outros ritos porque a tendência é o aprofundamento desse modelo separatista.


  O pior ainda está por vir porque, ao que tudo faz crer, o Circuito do Campo Grande perdeu completamente o glamour e o Circuito Barra-Ondina passou a ser a "menina dos olhos" das entidades. No dia em que houver uma separação ainda maior, os menores e os afro-baianos dos bairros desfilando no Campo Grande e os grandes e dos pop-star na Barra, aí é que se vai configurar o aparthaid.


   E esse tempo não estará longe de acontecer. Neste 2011, de certa forma, já está se configurando dessa maneira. Quem encontrar um "Dendê no Sangue" no Campo Grande e uma emissora de TV transmitindo o Carnaval por lá vai ganhar um prêmio.