A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2010

Joceval Rodrigues
12/03/2010 às 08:22

Foto: REP
Privilegiar a economia solidária é uma das metas da campanha
A situação de desigualdade social que predomina em Salvador assim como em todo país, pede uma reflexão emergencial sobre um novo modelo de economia. Um exemplo que tem apresentado resultados é a chamada "Economia Solidária". Na última pesquisa realizada em 2007, pela Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, foram constatados mais de 22 mil grupos que desenvolvem este tipo de ação.

 (Por Joceval Rodrigues)

Justamente para promover o debate sobre assuntos de interesse da sociedade, acontece a cada ano em todas as cidades do Brasil a Campanha da Fraternidade. O tema escolhido para este ano é "Economia e Vida", com o lema "Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro" (Mt 6,24). O objetivo é provocar ações que gerem crescimento econômico para os que mais necessitam.

As religiões cristãs do país, através do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), estão propondo nesta Campanha Ecumênica uma ampla discussão sobre os rumos da atual gestão econômica da Nação. Como elemento desta reflexão está posto em xeque uma justiça social que promova a distribuição de bens, a qual deve atingir as bases da sociedade. Também fomentar o desenvolvimento sustentável que coloque a ecologia humana em primeiro lugar. Além de promover, de fato, uma sadia relação com a natureza.

O progresso econômico carece de mudança de foco do lucro que gera concentração de riqueza, deslocando-se para a partilha e o bem comum. A eficácia da economia não pode implicar em recorrente diferença de classe. Portanto, pensar as diretrizes da política econômica atual é privilegiar ações que envolvam superação das desigualdades e dêem destaque para ações efetivas de assistência social contínua.

Algumas luzes também despontam desta parada para meditar com profundidade de análise a vida e a economia. É o caso da Economia Solidária cuja base é o associativismo, a cooperação mútua e o empreendedorismo, culminando em partilha. Tal iniciativa emerge dos movimentos sociais, mas precisa atingir também as empresas privadas e públicas...

Privilegiar uma economia solidária não pode significar ações isoladas que na atualidade costumamos chamar de "Responsabilidade Social Empresarial". A promoção social e a partilha de bens não podem ser pontuais ou até mesmo desvinculadas da instituição, não! A questão social é para ser parte integrada da maneira de operar, agir e executar de toda atividade econômica, quer seja privada ou pública.

Outro ponto que merece ressalva são os incentivos fiscais, que vem despontado enquanto solução em áreas de consumo ou da cultura. Sem dúvidas, essa é uma forma que gera desenvolvimento social e cultural. Porém, ainda existem ecos de uma falha que não oportuniza a população com menos acesso a informação. O excesso de aparatos burocráticos e o advento do assistencialismo acabam por minimizar o poder de equacionar diferenças, a qual a política do incentivo deveria de fato prover.

Por fim, espero que ao longo da quaresma, marca do inicio da Campanha da Fraternidade, tenhamos pelo menos um consumo mais cidadão e consciente. Que a vida daquele que ao nosso lado passa não seja tão distinta do nosso modo de ser e agir enquanto agentes econômicos.