Foto: Daniel Machado |
Os 40 anos que mudaram do jornalismo boêmio e boleiro à multimida, ainda com vícios |
Ingressei no Curso de Jornalismo da Faculdade de Filosofia da UFBA, em 1968, o ano que nem começou nem terminou em matéria de ensino tumultuado que se passou com greves, agitações, gritos de abaixo a ditadura e a edição ao Ato Institucional 5 que cassou direitos políticos de brasileiros, prendeu, matou, um horror. Uma das primeiras lições que aprendi no curso, nessa época com 3 anos de duração, foi a seguinte: - Se queres ser jornalista procure uma redação de jornal.
Não contei conversa e fui parar na Barroquinha, a poucas quadras da FAFIUFBA e do Bângala onde morava, bater na porta do Jornal da Bahia, então dirigido na redação por João Carlos Teixeira Gomes, Joca, onde iniciei meus passos de "foca" (jornalista estreante). No final de 1968, o curso de jornalismo da UFBA era fraquinho demais, a gente andava mais num barzinho da Poeira do que na sala de aula, foi quando ouvi falar no novo jornal que Salvador teria, do empresário Elmano Castro.
Em maio de 1969, salvo melhor juiz, já integrava a Escolinha de Quintino, o primeiro editor chefe da Tribuna da Bahia (Quitino de Carvalho) num prédio do Comércio. Também fazia uns bicos na Revista Panorama, de Hélio Teixeira de Freitas. Ou seja, seguia o ensinamento inicial da FAFIUFBA, dando conta de que se quizesse ser jornalista tinha que amassar esse barro dos faraós, porque na UFBA sequer havia uma máquina de escrever pra gente treinar. O curso era eminentemente teórico.
Veio a reforma universitária do reitor Roberto Santos e o curso de jornalista passou a ser concluido em 4 anos. Aconteceu, assim, esse fato curioso (não só comigo) de ter minha carteira de trabalho assinada pela direção da Tribuna da Bahia, em novembro de 1969, antes mesmo que tivesse recebido meu canudo acadêmico, hoje, sem qualquer valor funcional porque os sábidos do STF assim quiseram, recentemente.
A Tribuna da Bahia foi uma revolução no jornalismo baiano. Primeiro jornal off-set, composição a frio, repórter de de paletó e gravata, inovação de linguagem (três parágrafos além lead e sub lead), valorização da fotografia. A gente quando chegava num local para fazer uma entrevista dava gosto, batia no peito, sou fulano de tal da Tribuna da Bahia. Salvo engano a Tribuna da Bahia foi responsável pela passagem do jornalismo boêmio e "boleiro" de então, para o jornalismo profissional, sem que os repórteres e colunistas recebessem comissões e outros agrados.
Hoje, visto assim, parece pouco. Mas, não é. Uma mudança de mentalidade que os técnicos chamam de paradigma é uma situação bastante complicada e fico triste, no momento, vendo emissoras de rádio e TV da Bahia dando dinheiro à telespectadores para angariar audiências, como se a informação, a notícia, tivesse esse compromisso. Vendo ainda colegas queimando preços e outros salamilaques.
Essa foi uma das primeiras lições da Escolinha de Quintino numa sala de aula no Comércio. Quitino dizia: - Vocês têm o compromisso eterno de viver da profissão com dignidade. E ainda está guardada em minha memória o dia em que fomos (grupo de jornalistas) a um almoço no Palácio de Aclamação oferecido pelo governador Luiz Viana Filho, no final do ano, e chegamos na redação com charutos e docinhos. Quitino mandou jogar tudo na lata do lixo.
Foi a primeira vez que ouvi falar na Teoria da Vidraça de que você deve prestar atenção aos mínimos detalhes, e se aceita que uma vidraça fique quebrada e não combate aquele delito, depois será seu carro, sua rua e assim por diante. Ora, se baforamos charutos, poderiamos depois, em tese, aceitar canetas, gravatas, um dinheirinho e um dinheirão.
São 40 anos na estrada e ainda vivendo do jornalismo e saudando essa gloriosa Tribuna da Bahia que, com todos os seus pecados, e quem não os têm, representa uma bandeira, um símbolo do jornalismo baiano. Hoje, colaborador semanal há anos desta folha, vejo-me no web-jornalismo há 3 anos já atingindo a velhice, mas, sem perder de vista a notícia, o seu valor, a ética e a integridade.
Lições que aprendi em casa, na UFBA, na escolinha de Quitino e na estrada da vida sem dobrar o espinhaço e servindo apenas ao jornalismo, uma paixão, um sacerdócio, um enigma que nos acompanha com o dever e responsabilidade de seremos imparciais, críticos e fiéis à informação verdadeira.