A NOVA ERA, O TAMBOR E A BAHIA

Tasso Franco
04/06/2009 às 20:13
Foto: manunegra.blogger.com
O negro-mestiço baiano tem que sair do ciclo do tambor e ingressar na TI

   A economista de Cambridge Carlota Pérez, venezuelana de nascimento, autora do consagrado e hoje devorado livro "Revoluções Tecnológicas e Capital Financeiro", de 2002, em entrevista a Diogo Schelp, ex-chefe da sucursal de Veja na Bahia, páginas amarelas, atesta na sabedoria dos seus 70 anos de idade e mestra de uma das universidades mais disputadas pelos financistas de todo mundo, que após essa recessão e turbulência nas finanças mundiais atuais haverá uma fase de bonança com o capital produtivo dirigindo os investimentos.


 Isso tem sido histórico ao longo do percurso da humanidade, aconteceu no século XIX na Inglaterra - a chamada revolução industrial, após a quebra da bolsa de Nova York, em 1929, e na reconstrução da Europa e formatação de um novo mundo pós II Guerra Mundial com as frentes capitalistas e comunistas, Guerra Fria, queda do muro de Berlim até esbarrar nessa nova crise puxada pela desordem financeira de Wall Street.


  O que chama atenção nas observações de Carlota Pérez é o fato de que o mundo vai ingressar num período de prosperidade inigualável, sustentado nos avanços e práticas das novas tecnologias, com a universalização dos sistemas computadorizados que vão produzir um grande salto na qualidade de vida das pessoas. Aliás, situação que já estamos vivendo no Brasil, em casos isolados.


  Um exemplo: até pouco tempo seria inimaginável no país uma cirurgia que aconteceu com o vice-presidente da República, José Alencar, no Sírio Libanês, em SP. Antes do uso dessa tecnologia, o cidadão morria e pronto. Agora, o vice-presidente, que é a segunda mais importante autoridade do país foi para os Estados Unidos se submeter, por vontade própria, a um tratamento experimental com alta tecnologia num centro médico do Texas para combater o câncer.


  Carlota explica que a era da TI se iniciou a partir de 1971 com a produção de uma série de chips de computador e sua universalização nas três décadas subseqüentes, que chama de "fase de instalação", entrando nos anos 2000 na fase de desdobramento. Outros economistas já citam que a atual crise financeira traria esse viés da transformação. Isso significa dizer que, quem não se organizar em torno da TI não conseguirá competir lá adiante.


   A economista cita os caminhos reservados a América Latina entendendo que os recursos naturais abundantes neste subcontinente jamais serão baratos no mundo globalizado e precisa-se investir em TI no processamento da agroindústria, metalurgia e química, além da valorização das comodities tradicionais, ciências da vida e de materiais, observando a revolução tecnológica baseada em biotecnologia, bioeletrônica e nanotecnologia.


  Agora, vamos passar a régua, como diz Tom Cavancalti, e verificar se esses movimentos estão acontecendo na Bahia. Sem dúvida. Mas, muito timidamente e concentrados em alguns nichos empresariais privadas e alguns institutos universitários, na petroquímica e só. Não se vê um esforço governamental nessa direção, nem sequer numa direção aproximada, e para isso só precisa observar as notas do Enem onde apenas 5 colégios da rede pública de Salvador tiveram nota acima da média (5) raspando a trave.


  Outro dia o presidente do Olodum, João Jorge, advertia sobre essa questão em Salvador mostrando que o negro-mestiço (segmento populacional majoritário na capital) não nasceu apenas para folclore e tocar tambor. Digo mais, aproveitando a deixa de JJ não há, na capital (talvez com exceção do Cimatec) nada organizado com vigor em direção a TI. Mesmo observando-se o Brasil, Salvador está na rabeira do processo, depois de Recife, BH, Curitiba, Fortaleza e outras. Imagine, vosmincês, a Bahia!


   O TOPA, mais badalado projeto de base educacional do governo do Estado, sem reparos nos seus objetivos, está completamente fora de abrangência dessa nova era que virá. Melhor seria que o governo, além do TOPA, organizasse uma espécie de TOPA TI para capacitar a garotada. Um governo são 4 anos: exatamente quase o ciclo do ensino médio. E isso sim é que seria fundamental.


   Evidente que o mundo está globalizado e esse contexto se enquadra para todo o Brasil. Mas, como vivemos na Bahia, e a globalização não exclui a família, a casa, os valores individuais de cada coletivo, ou se faz a nossa parte ou vamos continuar no subcontinente da área onde se concentra o pior do subdesenvolvimento.


  A cultura da África nas escolas é interessante e salutar, representativa do movimento histórico, assim como os centros digitais e todos esforços que os governos e a iniciativa privada fazem. Agora, é preciso mirar o foco da contemporaneidade. Senão, vamos ficar tocando tambor o resto da vida.