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O produto e os desejos das classes média e baixa sem atingir objetivo |
Quando ainda era secretário de Comunicação da Prefeitura de Salvador, no início desta década, realizamos uma pesquisa de opinião qualitativa para verificar os anseios da população da capital e, chamou-me a atenção o fato de que uma parcela significativa expressa nos grupos C/D tinha um enorme desejo de melhorar de vida, porém, não conseguia porque os mecanismos colocados às suas disposições, sempre no segmento público, era insuficientes para que isso acontecesse.
Chegamos a desenvolver uma teoria não científica, mas, com base nessas observações, de que, existem em Salvador (como em várias outras cidades) velocidades distintas dos segmentos sociais com os pobres atuando nessa faixa do ENEM, com nota 5 (ou 50 km) enquanto a classe média alta tem desempenho com nota média 7 variando até 7.8 (vide ENEM), portanto, numa velocidade que se aproxima de 80 km. Há, ainda, uma camada privilegiada que coloca os filhos para estudarem no exterior na faixa de 9 a 10, ou seja, entre 90 e 100 km.
Essa realidade é palpável em Salvador de forma muito nítida. A cidade abriga, na atualidade, algo em torno de 1.800.000 de pessoas na faixa da pobreza com renda entre 1 e 2 salários mínimos e que depende, prioritariamente, do guarda-chuva do governo nas três esferas - municipal, estadual e federal - desde a escola pública, o bolsa família, a assistência social e à saúde pública. Sem esse guarda-chuva não conseguiria sobreviver.
Ainda assim, esse enorme contingente de pessoas está fora dos bens de consumo culturais, salvo, também, quando são ofertados pelos governos. Estima-se que, do total do alunado do segundo grau, poucos conseguiram ler um livro de ficção, com preço, em média entre 5% a 10% do valor do salário mínimo. E, dados do MEC apontam que Salvador ainda tem 6% de analfabetos na faixa do ensino fundamental que vai de 7 a 11 anos de idade.
O Programa Minha Casa - Minha Vida expôs também essa face cruel da sociedade baiana com uma enxurrada de inscrições para cadastro no projeto do governo federal. Estão reservados para a Bahia (o Estado) algo em torno de 80.000 habitações dentro deste programa, cota que seria preenchida apenas por Salvador e ainda faltaria e muito, visto que, só na capital, mais de 100.000 famílias necessitam desse benefício.
Há, no momento, no Centro de Convenções da Bahia um Feirão de Imóveis patrocinado pela Caixa, mas, reservado a classe média. Completamente fora dos padrões das classes C/D visto que os imóveis mais procurados estão na faixa de até R$100 mil e esses segmentos não têm condições de arcarem com esses custos.
Isso posto; o drama de Salvador é muito mais profundo do que se possa imaginar apesar dos esforços dos governos no sentido de minimizar esses problemas, melhorando pontualmente os setores essenciais à vida dessas pessoas, a educação, a saúde, saneamento, moradia, o básico do básico.
O problema está na velocidade em que cada segmento social se movimenta. Enquanto a classe média alta se mantém num ritmo de 80 km por hora, a pobreza não consegue passar dos 50 km. Essa diferença faz com que uma não consiga atingir a outra, embora, no governo Lula um contingente enorme da população conseguiu se deslocar da classe D para a C formando um novo contingente, agora, penalizado pela crise internacional da economia e novamente encolhendo.
Essa tem sido a grande missão dos governos no sentido de reduzir essa margem da velocidade fazendo com que se aproximem uma da outra. Mas, infelizmente, os dados do ENEM e o cadastro do Projeto Minha Casa revelam que ainda há muito a ser feito. Por ora, estamos com a nota 5.