Antonio Jorge Moura
29/12/2008 às 16:03
O economista Rômulo Almeida gostou muito da realização da Cúpula dos Chefes de Estado da América Latina e do Caribe em Sauípe, no Litoral Norte da Bahia, a poucos quilômetros de sua Salvador e da desembocadura do Rio Itapicuru, que cai no Oceano Atlântico depois de cortar a região onde vicejou o movimento messiânico de Antonio Conselheiro, inclusive a cidade de Olindina, na região nordeste do nosso estado. Onde tem uma igreja de tijolo aparente que foi construída pelo próprio Conselheiro.
Ou seja, a integração dos Estados da América Latina e Caribe esteve nas cercanias da realidade do Cinema Novo e das imagens que animaram o ideário revolucionário de Glauber Rocha. Se elogiou o encontro dos chefes de Estado dos países latino-americanos e da América Central, o sábio economista baiano não gostou do sentimento contra os Estados Unidos que dominou alguns altos dirigentes que participaram da cúpula.
Coisa que lembra os difíceis anos 40/50/60/70, quando a integração latino-americana era pensada como saída para nossos países e período em que a revolução cubana esteve no auge, quando a opção da revolução comunista ou da revolução socialista era sonhada pelos jovens idealistas dos dois continentes. O fato é que esse sentimento anti-norte-americano acabou limitando o desenvolvimento econômico de nossos países, considerados dependentes e satélites dos EUA, porque transferiu para nossas terras a Guerra Fria travada entre União Soviética e Estados Unidos.
E nós não tínhamos nada com o resultado da II Guerra Mundiual e seus desdobramentos. Definido um dos sábios da América Latina, integrante da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) ao lado de Celso Furtado e do argentino Raul Prebisch, o ilustre baiano considerou exagerado o sentimento anti-americano expressado por Hugo Chávez e seus aliados da Bolívia, Equador, Colômbia e outros países que defendem o ressurgimento da saga de Simon Bolívar, o libertador latino-americano do século XVIII.
Rômulo Almeida defende o aprofundamento da integração via fortalecimento da iniciativa privada e vibra com a ajuda que a estrutura econômica estatal, criada e defendida por ele enquanto esteve no planeta Terra, esteja ajudando Brasil e EUA a vencer a crise econômica desses anos 2000. Foi do economista, por exemplo, idéias de criação experiências bem sucedidas como a Petrobras, BNDE, BNB, Sudene, Sudam, a Eletrobrás, o Pólo Petroquímico de Camaçari e tantas outras instituições que saíram daquela cabeça brilhante desde que foi guinado pelo ex-presidente Getúlio Vargas, no governo democrático eleito após a queda do Estado Novo e da II Guerra Mundial. Ele incentivou o surgimento de coisas que são desconhecidas até nos compêndios de Economia utilizados nas universidades brasileiras, como o Pólo de Confecções de Fortaleza, no Ceará.
Rômulo Almeida foi Assessor de Planejamento de Vargas, primeiro homem público a introduzir o planejamento no Estado brasileiro. Merece, portanto, por tantos méritos que acumulou em sua vida pública, muito mais do que ser nome de um viaduto em Salvador, capital da Bahia. Merece, no mínimo, que seja criada uma comenda com seu nome para ser entregue todos os anos pelo Estado brasileiro àqueles que se destacarem na América Latina e Caribe nas ações de planejamento estatal e desenvolvimento econômico dos nossos países.
Nos últimos anos em que viveu Rômulo Almeida esteve envolvido diretamente na luta pela redemocratização do Brasil, enquanto contribuía na concretização do Pólo de Camaçari com a implantação de fábricas, como a Detém Química, e da Nova Dias D´Avila, planejada pela sua Clan.
Além de presidente do antigo MDB da Bahia, integrou o governo de Tancredo Neves, da Nova República, quando foi nomeado para a modesta diretoria de pequenas e médias empresas do BNDE e acabou guinado à diretoria industrial, cargo muito mais importante e de peso na estrutura do banco. No qual veio a falecer, no final dos anos 80 do século passado, deixando um legado de instituições estatais que hoje estão socorrendo a economia do Brasil nesta crise econômica mundial da primeira década dos anos 2000, do século XXI.
Ou seja, o espírito de planejador do futuro de Rômulo Almeida continua presente.