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Desde que foi alçada ao primeiro escalão da política americana, há duas semanas, como candidata a vice-presidente na chapa republicana encabeçada por John MacCain, a governadora do Alaska, Sarah Palin, nao sai da mídia. Antes dela, admitiram analistas politícos, da National Public Radio (NPR), nenhum outro vice causou tanto impacto a ponto de deixar "os oponentes democratas perplexos e sem saber o que fazer".

 

O agravamento da crise econômica americana, nos últimos dias, recolocou Wall Street na agenda dos candidatos e funcionou como um alívio para Barack Obama, quase nocauteado, ora vejam, pela vice Sarah Palin, enquanto MacCain ganhou novo fôlego nas pesquisas, a ponto de reverter uma expectativa na opinião pública do país, que apontava o democrata como favorito, há pelo menos um mês. Pode ser que os ventos voltem a soprar a favor dos democratas, afinal as pesquisas ainda revelam uma clara divisão no eleitorado, mas a tendência de ascenção, neste momento, é dos republicanos.

 

Nem a matéria de página e meia e chamada de capa, publicada na edição do pro-democratas The New YorK Times, no último domingo, com acusações de que Sarah mistura interesses públicos e privados a moda ibérica, entre outras coisas, foi suficiente para abafar o frisson provocado pela aparição dela na corrida presidencial, elevando em 20 por cento o apoio de mulheres e republicanas a John MacCain. Governadora Sarah Palin lives by the maxim that politicts is local, not to mention personal (Governadora Sarah Palin vive pela máima que toda políica é local, alem de pessoal), diz a abertura da matéria, que tenta desmontar a imagem da vice como "campeã de reforma ética", maneira pela qual ela foi apresentada ao eleitorado.

 

The New York Times afirma ainda que Sarah Palin tem zombado dos rivais democratas Barack Obama e o vice dele, senador Joseph Biden, como speechmakers ("fabricantes" de falas) que "nunca concorreram a coisa nenhuma", mas que um exame detalhado do rápido crescimento dela e marcas como ex-prefeita de Vasilla e governadora do Alaska mostra que "seu estilo visceral e a forte inclinação para atacar críticos contrasta com a imagem pública cuidadosamente construída".

 

Quem esperava uma "bomba" contra Sarah Palin, ensaiada pelo The New York Times, que deslocou três dos seus mais experientes repórteres para vasculhar a vida pública dela em uma série de 60 entrevistas, com legisladores locais e funcionários públicos, decepcionou-se. Esta pelo menos foi minha sensação ao acabar de ler e reler a reportagem.

 

Nomeação de amigos para cargos de alto escalão, perseguição a desafetos, ingerência familiar em assuntos públicos, proibição de livro infantil com explicações sobre homossexualismo em biblioteca pública é coisa de político provinciano e ultraconservador, e não parece suficiente para reverter a onda pró-Sarah na classe-média americana - maioria do eleitorado - na Era do presidente Bush. Este, conhecido por suas ligações com a indústria do petróleo e seu apoio a intensificação de subsídios coletivos para tais indústrias e apontado como fascista pelo ex-colaborador de Richard Nixon, John Dean, no livro Conservative Without Conscience (Conservadores sem consciência).

 

O que chama a atencao em Sarah Palin é a naturalidade assombrosa com que vai desfiando seu pensamento reacionário em uma nação que ainda é, pelo menos internamente, porta-estandarte de ideologias democráticas. A vice de MacCain é contra o aborto (mesmo em casos em que há recomendação médica), contra casamento entre pessoas do mesmo sexo, a favor da manutenção das tropas no Iraque, para onde foi o filho dela Track Palin, e do ataque a Rússia para proteger a Georgia, alem de ratificar inteiramente a "luta contra o terrorismo" dos conservadores ("não podemos voltar a falsa segurança que tínhamos antes do 11 de Setembro"), para os quais a indústria bélica representa hoje o que representou a indústria aeroespacial durante a Guerra Fria, segundo analistas da política externa.

 

A determinação com que Sarah Palin clarifica suas posições conservadoras, secundada pelo cabeça de chapa John MacCain, contrasta com um Barack Obama vacilante e o opaco vice dele, senador Biden, que convenhamos, não empolga. Obama acena timidamente para questões que são caras ao eleitorado democrata (casamento gay, imigração, retirada de tropas do Iraque etc) e não consegue estabelecer identidade com os conservadores que desejam mudar alguma coisa, mas não confiam em sua experiência, sobretudo em relação a questões de ordem econômica, para as quais ele não disse ainda a que veio.

 

Enquanto isso, a classe média americana, maioria do eleitorado, as voltas com problemas para quitação de casa própria, assistência médica gratuita e aumento no preço dos alimentos, parece ter encontrado na "dona- de -casa", "mãe -de- famlia" e cidadã Sarah Palin o remédio perfeito para suas aflições. 

Freud explica.