Os desfechos desfavoráveis para a Bahia das decisões de localização do Complexo Têxtil e Centro de distribuição da GM, que foram para Pernambuco, da fábrica de eteno verde a partir do álcool da Brasken, que será instalada no Rio Grande do Sul e da Toyota, anunciada para São Paulo, configuram uma nova realidade a que nosso estado não estava acostumado: passamos de campeões em todas as disputas para o desconsolado segundo lugar, que simplesmente não significa nada.
O agravante é que essas derrotas se deram num contexto político atual muito mais favorável que antes. Agora, governador e presidente, não são apenas do mesmo partido, mas tem sólidas relações de amizade - dois fatores que no Brasil pesam muito para decisões que envolvem interesses de Estados.
Acho que os erros começaram quando o governo da Bahia curvou-se, sem nenhum protesto, ao propósito do governo Federal de realizar, a ferro e fogo, a transposição do Rio São Francisco, um projeto que não é apenas destrambelhado para o Nordeste, mas é cruel com a Bahia e irresponsável com o Brasil. É verdade que o governo Federal teria forças para fazer o projeto de qualquer maneira. Mas isso não poderia acontecer sem um gesto muito claro de desaprovação do governo da Bahia. Não houve sequer um protesto.
A partir daí ficou a idéia de um estado incapaz de defender seus interesses. Ou, o que é pior, incapaz de perceber o que é importante para o seu futuro.
A destinação do importantíssimo complexo têxtil para fabricação de fios e tecidos sintéticos, foi uma decisão política do presidente da República e da Petrobrás, que violentou a lógica econômica do projeto, cuja localização natural seria a Bahia. E ainda querem que a Bahia comemore a ampliação de sua fábrica de paraxileno em Camaçari, que vai servir apenas para viabilizar a fábrica pernambucana. É mais uma vez a docilidade da submissão.
E parece que nos querem consolar com o bombom da localização do setor financeiro da Petrobrás na Bahia, que ao contrário dos outros estados nordestinos, sempre delimitou sua área muito mais pelos importantíssimos projetos industriais do que pela luta clientelista dos escritórios das estatais.
Embora nos outros projetos as decisões políticas continuem sendo importantes, aparece também a questão conceitual dos incentivos fiscais. Se é verdade que a política de incentivos estaduais esteja próxima à saturação, é também verdade que, na atual situação, não há alternativa para localizar empreendimentos, até que surja a reforma tributária e uma nova política industrial para os estados distantes dos grandes centros de consumo do país.
Enquanto os outros governos fazem o jogo do disfarce, condenando os incentivos na imprensa, mas conversando no pé do ouvido com os empresários e ganhando os investimentos na surdina, a Bahia entra no jogo ingênuo e romântico de condena-los publicamente. Eu até acredito que mesmo nos projetos em que o estado tentou participar, a condenação explícita da política de incentivos fiscais, pelas vozes mais autorizadas do Governo, introduz um clima de desconfiança e de insegurança sobre os seus propósitos.
Pois basta o sócio de uma dessas grandes empresas se debruçar sobre a opinião de executivos e ideólogos do atual governo, que a luz vermelha se acende. Por exemplo, ler a chefe da Casa Civil da Bahia, em maio último aqui no jornal A Tarde, criticar duramente a política de incentivos fiscais do governo passado, falando da "saturação de um modelo excludente e concentrador baseado em incentivos a empreendimentos grandiosos e com baixa geração de empregos", é um balde de água fria para qualquer potencial investidor. Aí é adeus projeto.
Os grandes investimentos que foram feitos no estado nos últimos anos desautorizam claramente a desculpa da infra-estrutura, inclusive porque agora há perspectivas de sua maior qualificação com o PAC. E quando era importante para ganhar um projeto diferenciado, o Estado viabilizou a infra-estrutura e triunfou sobre importantes concorrentes, inclusive outros países, em casos como da Ford, Monsanto, Continental, Bridgestone, Columbia, Nestlé, Bahiapulp, Vipal, entre outros.
Em suma: a comparação entre o que aconteceu nos últimos 16 anos e o modelo atual aparece como algo muito simples: é uma questão de atitude.