A "contaminação" do processo eleitoral em Salvador pela dimensão religiosa pode ser considerada uma das novidades deste início da campanha.
De fato, as atitudes tomadas pela administração do atual prefeito que levaram à demolição de um templo religioso e a má vontade com a regularização fundiária das casas-de-santo - numa cidade negra em que o candomblé sempre foi um fator de resistência étnica, religiosa e cultural - ajudaram a botar mais lenha na fogueira da intolerância religiosa, uma praga que ninguém de bom senso pode querer para Salvador, cidade que já tem problemas em demasia para resolver.
O grande Caetano Veloso já cantou o seu desejo de que um prefeito desse um jeito na Cidade da Bahia. Certamente precisaremos de gerações de bons prefeitos para que a nossa cidade saia do caos econômico e social em que se encontra. Acredito que nós, jornalistas, podemos fazer alguma coisa em benefício da cidade, na medida em que cumpramos o nosso papel, transmitindo informações de qualidade, bem apuradas e bem escritas. Sabemos que nem sempre isto acontece e precisamos estar vigilantes para corrigir erros e continuar perseguindo os acertos.
Outro aspecto que pode ser apontado como desmedido foi o tamanho da foto. É a primeira vez que o jornal publica uma foto daquela dimensão de um candidato na atual campanha. Uma foto do candidato saindo do terreiro depois de ter conversado com Mãe Jojó. O significado da foto foi construído pelo texto - este é um caso em que as palavras falam mais do que uma imagem.
Por fim, acredito que este tipo de jornalismo é uma contribuição para atiçar o clima de intolerância religiosa que grassa em alguns setores da nossa cidade. Quem ganha com isto?